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Produtores driblam Justiça e fazem festas proibidas em barcos no litoral da Bahia

Numa escuna apinhada de gente, a maioria com roupa de banho, o ritmo disco embala a tarde, sob as águas da Praia da Boca da Barra, na Ilha de Boipeba, no litoral sul da Bahia, também conhecido como Costa do Dendê. O clima é de festa, mas os organizadores

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 02.01.2021, 13:16:00 Editado em 02.01.2021, 13:22:36
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Numa escuna apinhada de gente, a maioria com roupa de banho, o ritmo disco embala a tarde, sob as águas da Praia da Boca da Barra, na Ilha de Boipeba, no litoral sul da Bahia, também conhecido como Costa do Dendê. O clima é de festa, mas os organizadores falam em "passeio turístico". Os produtores têm criado estratégias para driblar a Justiça, pois os eventos estão proibidos na região. Uma delas é chamar de passeio uma festa que cobra R$ 198 pela entrada, com bebida à vontade, DJ e 50 pessoas num espaço restrito. A aglomeração é visível.

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A festa, chamada de passeio pela organização, recebe o nome de Piratah, como se vê em um picho feito numa bandeira colocada na lateral do barco. "A gente ia cancelar, mas o próprio pessoal de Boipeba pediu para mantermos, porque tinha o aluguel do barco, o contrato com os fornecedores das bebidas", defendeu-se um dos organizadores, que não quis se identificar e afirmou não ter lucro com a produção. "Manter foi importante para todo mundo também. Todo mundo já tinha reserva aqui, todo mundo veio para cá", emendou, em seguida.

Há outras duas festas ilegais que já ocorreram ou estão previstas para acontecer em Boipeba, a Sururu e a Discool, de 28 de dezembro a 2 de janeiro. Elas acontecem de dia, geralmente entre a tarde e o começo da noite, em barcos. São as chamadas "boat partys" - festas no barco, em tradução para o português. A reportagem não conseguiu contato com os produtores, todos de São Paulo. A prefeitura de Cairu, município ao qual pertence Boipeba, proibiu, em 17 de dezembro, a realização de festas. Há, ainda, um decreto do governo do da Bahia que proíbe shows e festas, públicas ou privadas, independentemente do número de participantes.

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A venda de ingressos, para evitar provas e eventuais penalizações, tem sido feita a partir de contato com os próprios organizadores. As imagens de divulgação dos eventos acontecem por aplicativos de mensagem e grupos em redes sociais. O público, relataram frequentadores, é formado principalmente por paulistas e mineiros. Como acontecem no mar, esses eventos conseguem driblar melhor a fiscalização. A Capitania dos Portos não informou se realizou alguma fiscalização que pudesse flagrar festas clandestinas no mar.

"É um público descolado, que tem informação. Artistas, DJs, arquitetos. Aquele público descolado de festa de Pinheiros, sabe?", definiu um rapaz, sob anonimato. A referência é ao bairro de alto padrão da zona oeste de São Paulo, com concentração de bares, restaurantes e casas noturnas. É sinônimo de badalação. Já a Ilha de Boipeba é uma comunidade descoberta e mais explorada pelos turistas nos últimos anos, atraídos pelas praias desertas e piscinas naturais, onde moram 15 mil pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O turismo foi retomado em Boipeba e nas áreas vizinhas, como Morro de São Paulo, em setembro, depois de cinco meses de bloqueio ao público externo. A viagem até a península é somente por barco. Carros não entram. São 662 casos de covid-19 registrados em Cairu e, com a proibição de festas no período que antecede o Réveillon, a prefeitura pretendia conter as aglomerações e festas previstas.

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Festas ilegais aconteceriam paralelamente a evento conhecido nacionalmente

As festas ilegais estavam previstas para acontecer em paralelo à Mareh NYE, entre os dias 27 de dezembro e 2 de janeiro, organizada pela empresa Mareh Agência de Eventos. Os barcos seguiriam a embarcação principal do festival. "Vamos acompanhar o boat (barco) o mais perto possível e multiplicar sua energia como pista. Teremos nossas próprias bebidas, copos e gelo para não interferir em nadinha da estrutura do papai Guga", descreve a Piratah, numa plataforma de vendas online.

O "papai Guga" é uma menção ao paulista Guga Rosseli, produtor e idealizador da Mareh, festival criado em 2003 conhecido por acontecer em paraísos escondidos do Nordeste. No dia 16 de dezembro, no entanto, a festa foi proibida pela Justiça, depois de o juiz Leonardo Rulian acatar o pedido do Ministério Público da Bahia. A promotoria entendia que a festa traria riscos à comunidade, por gerar aglomerações em meio a uma pandemia que, alertam cientistas, está na "segunda onda". Na Bahia, são 484.485 mil casos de covid-19 até o momento.

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As festas "paralelas" foram pensadas quando os ingressos - que custam entre R$ 500 e R$ 750 - da Mareh tinham esgotado. Sem a festa principal para seguir, os organizadores não desistiram da realização. "Não desconheço, sei que estão acontecendo, mas não temos nada a ver. Inclusive tentei com eles que cancelassem, pois podia respingar em nós, mas não temos esse direito", respondeu Guga, o chefão da Mareh, que, apesar do cancelamento, passa o fim de ano em Boipeba.

Segundo a 33º Companhia de Polícia Militar, que atende a área, nenhuma festa ilegal foi localizada, nem autuada, em Boipeba ou Morro de São Paulo. Os policiais irão fortalecer a atuação a partir do desta quarta-feira, 30, até o dia 3 de janeiro. A prefeitura de Cairu, na fase de mudança de gestão, não respondeu aos questionamentos até o fechamento da reportagem.

A ilha de Boipeba passou a receber maior contingente de turistas desde o último dia 26 e os quiosques e bares, autorizados a funcionar, realizam festinhas e promovem música ao vivo para os clientes. "A ilha está lotada, com coisinhas aqui e ali, mas acho que por estarem em locais mais afastados, fica mais difícil conseguir ter acesso a todos eventos ligais", disse um morador, também anonimamente. É um movimento parecido ao que ocorre mais ao sul da Bahia, em Caraíva e Trancoso, distritos de Porto Seguro. Depois de uma disputa judicial entre Governo da Bahia e o município, as festas estão proibidas nas localidades, mas ocorrem diariamente em condomínios de luxo.

Na noite da última terça-feira, 29, a polícia acabou com uma festa que acontecia na casa da cantora Elba Ramalho, em Trancoso, para 700 pessoas. A residência estava alugada e a artista negou ter qualquer envolvimento com o evento. Disse estar numa missa quando soube da batida policial. A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) não tem balanço oficial de quantas festas clandestinas foram interrompidas neste fim de ano. Mas, a partir das estatísticas divulgadas na última semana, é possível estimar ao menos 12 eventos irregulares notificados por descumprir a decisão judicial que proíbe festas e shows - nove delas entre Trancoso e Caraíva.

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