Debates sobre a prática do exorcismo voltaram à tona na Igreja Católica por conta de uma polêmica envolvendo um padre do Distrito Federal. Há diversos pontos de vista em relação ao ritual na religião e, para atuar com a prática, é necessário que o sacerdote tenha autorização. Na última semana, o padre Vanilson da Silva, o único exorcista que a capital federal tinha, alegou que foi proibido de atuar pela Arquidiocese de Brasília.
O padre Vanilson da Silva, que atuava na Associação Padre Júlio Negrizzolo, na região de São Sebastião, no Distrito Federal, divulgou uma comunicado nas redes sociais, na quinta-feira (10), para informar os fiéis sobre sua suspensão. No texto, o religioso informou ter sido proibido de atuar, mas não citou o motivo que levou à medida
Ele disse apenas que as reuniões que culminaram na decisão foram realizadas sem a presença dele.
"Me senti violentamente desrespeitado. Eu, como objeto das reuniões, nunca fui ouvido", disse no texto.
Após a polêmica, a Arquidiocese de Brasília afirmou, em nota, que "as tratativas foram iniciadas para melhor discernir tanto o bem do referido sacerdote como do Povo de Deus". No entanto, também não esclareceu o motivo para o afastamento e a nomeação de um novo sacerdote.
Exorcismo
De acordo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o ato do exorcismo se vale de rituais, palavras e oráculos e é baseado em ensinamentos da Igreja, para expulsar espíritos malignos – das pessoas, lugares e objetos que são supostamente possuídos ou atormentados por eles.
Segundo o professor do departamento de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Edin Abumanssur, que concedeu uma entrevista ao g1, "[O ritual] não é uma coisa absurda dentro da Igreja Católica". Edin afirma que existem regras para a prática, mas que existem padres que não concordam com o exorcismo. Um dos motivos pode ser a discordância do que seria uma possessão no conceito da igreja.
"O próprio ritual dá margem para que a ideia da possessão seja compreendida como uma questão psiquiátrica", diz Edin Abumanssur.
O professor acredita que o exorcismo é mais alvo de polêmica entre grupos específicos. "É um tabu em um meio mais intelectualizado, segmentos mais afluentes, que dão outra interpretação", diz ele.
Ainda segundo Abumanssur, o exorcismo deve passar por um protocolo rígido e ser considerado apenas como último recurso. "O padre tem que ter muita certeza, deve ter analisado exames psiquiátricos antes de realizar o exorcismo."
Caso seja praticado, Abumanssur destaca que o ritual deve ser discreto, na presença apenas de familiares.
Para o professor, historicamente, o exorcismo é uma forma que as pessoas encontraram para lidar com a dor e o sofrimento. Ele afirma ainda que a prática não é exclusiva da crença cristã, sendo que rituais semelhantes são encontrados em outras culturas.
Mudanças na Igreja Católica
Em 1999, a Igreja Católica fez a primeira grande atualização nas regras sobre exorcismo desde 1614, distinguindo a possessão demoníaca de doenças físicas e psicológicas. Uma cartilha, lançada em 2017, recomenda que cada bispo nomeie um padre, em sua diocese, para esta função. A recomendação é feita com base no Direito Canônico, conjunto de leis que regula a Igreja.
Em 2018, o Vaticano abriu as portas para um curso anual de exorcismo, em meio a uma demanda crescente de comunidades católicas ao redor do mundo. Cerca de 250 padres, de 50 países, participaram para, entre outras coisas, aprender a identificar uma "possessão demoníaca", ouvir testemunhos de colegas e conhecer os rituais para a "expulsão de demônios".
Um ano antes, o Papa Francisco havia dito para sacerdotes que a maioria dos transtornos são de porte "psicológico" e que, portanto, devem ser curados "através da colaboração sadia com as humanidades". No entanto, o papa reconheceu que certos problemas espirituais podem necessitar de exorcistas.
Fonte: G1.
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