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Neve na Argentina foi prenúncio de chuva recorde em SP

Na manhã de sexta-feira, 17 de fevereiro, os ouvintes de uma rádio do interior da província de Buenos Aires foram surpreendidos: "Incrível, mas real", o locutor anunciava, o Cerro Tres Picos, na Sierra de la Ventana, estava coberto de neve em pleno verão.

Emílio Sant'Anna (via Agência Estado)

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Escrito por Emílio Sant'Anna (via Agência Estado)
Publicado em 06.03.2023, 08:30:00 Editado em 06.03.2023, 08:34:50
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Na manhã de sexta-feira, 17 de fevereiro, os ouvintes de uma rádio do interior da província de Buenos Aires foram surpreendidos: "Incrível, mas real", o locutor anunciava, o Cerro Tres Picos, na Sierra de la Ventana, estava coberto de neve em pleno verão. Fazia cerca de 4ºC na região, recorde em mais de 60 anos.

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No mesmo dia, a temperatura caiu de 40ºC para até 15ºC no Rio Grande do Sul. No sábado, 18, a onda gelada quebrou um recorde de 110 anos no Estado. No domingo de carnaval, geou na Serra Gaúcha. Àquela altura, o maior volume de chuva já registrado no Brasil causava uma tragédia no litoral norte de São Paulo.

Uma massa polar de ar seco e frio, associada a um centro de alta pressão estava por trás das quedas de temperatura na Argentina e no Sul do Brasil. Ao avançar em direção a São Paulo, encontrou um fluxo de umidade vindo do mar para o continente, gerado por um centro de baixa pressão.

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A isso pode ter se somado o efeito de um evento também fora dos padrões: uma onda de calor marinho de até 5ºC acima do normal numa faixa que se estendia da Argentina ao Sudeste brasileiro desde o final de novembro - período que coincide com uma seca intensa no cone sul do continente.

Na véspera da chuva extrema, dados de satélites mostravam que a temperatura da superfície do mar estava até 3ºC acima da média na costa paulista.

Conexão

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Uma cadeia de eventos conectados entre si geradas por condições meteorológicas fora do comum. "Todos esses fenômenos juntos, um impactando o outro e interagindo, contribuíram com pesos diferentes no que ocorreu no litoral de São Paulo. A atmosfera é um fluido só", afirma Estael Sias, meteorologista da MetSul, que trabalhou durante sete anos na Defesa Civil do Estado de São Paulo.

Ela explica que eventos extremos, como a neve no Cerro Tres Picos, na Argentina, sempre precedem outros eventos extremos. "Havia muita energia acumulada e algo assim poderia acontecer", afirma.

Não só por isso o temporal de mais de 600 mm em 24 horas no litoral norte não a surpreendeu. Na quinta-feira, 16 de fevereiro, ela e seus colegas fizeram a primeira previsão de que um evento extremo se aproximava da região.

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Um dos modelos matemáticos utilizadas pela empresa apontava inicialmente chuvas de até 500 mm em 24 horas. As previsões mais drásticas de outros institutos falavam em 250 mm. No dia seguinte, o volume previsto pela equipe da MetSul já era de cerca de 700 mm. A chuva registrada no litoral viria a ser a maior da história do País, com 650 mm, e deixou 65 mortos.

Alerta antecipou alta intensidade de temporal

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Estael Sias publicou um vídeo de alerta no canal da empresa no Youtube em que advertia para chuva de até 500 mm, inundações e deslizamentos. O segundo alerta foi divulgado na manhã de sábado, aumentando a projeção de chuva para 700 mm. Dizia: "Trata-se de uma condição de enorme perigo ante a probabilidade de que os volumes de chuva em alguns pontos possam atingir quantidades equivalentes de precipitação a dois ou três meses (e o verão tem altas médias de precipitação na região) em apenas 24h a 36h."

Segundo ela, situações assim colocam o trabalho de meteorologistas à prova. "A gente sabe o peso do erro, se anunciar que terá uma chuva dessas e não acontecer, o descrédito que isso pode causar", diz. "Mas não tivemos dúvida. Era uma situação muito delicada."

Padrão

A meteorologista vê na tragédia de São Sebastião uma série de eventos e situações que se encadearam para despejar em 24 horas o equivalente a três vezes o volume de chuva esperado para a cidade. Mas não só. Ao longo da carreira, ele vem observando mudanças no padrão de chuvas de diferentes locais. "Isso é nítido, é muito fácil perceber que está aumentando", afirma.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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