Cento e sessenta militares seguem aquartelados em uma unidade do Exército em Barueri, na Grande São Paulo, desde a semana passada. A medida, diz o Comando Militar do Sudeste, faz parte da investigação que apura o furto de 21 metralhadoras do local, incluindo 13 armas calibre .50, de alto poder destrutivo. Do lado de fora do quartel, parentes demonstram apreensão, mas tentam transmitir apoio aos militares. Nesta terça-feira, 17, o Exército informou que 320 das 480 pessoas mantidas no local foram liberadas. A outra parte permaneceu para atividades operacionais da unidade ou por ainda interessar aos investigadores do caso. A apuração sinaliza que o furto foi arquitetado de dentro do quartel, como antecipou a coluna da Monica Gugliano, e pode ter amplas repercussões para a segurança pública caso o armamento não seja recuperado. "Tem que esperar, não tem muito o que fazer", diz o empresário Rodrigo Oliveira, de 42 anos. Ele diz não estar preocupado pelo filho, um soldado de 20 anos, não estar entre os militares que já foram liberados. "Faz parte da investigação, a gente tem que entender e respeitar esse processo." Desde o começo do aquartelamento, Rodrigo vai visitar o filho ao menos duas vezes por dia. Leva almoço e jantar, além de biscoito recheado e chocolate para sobremesa. "Ele estava prestes a se tornar cabo e acontece tudo isso no meio", diz. "Tem dia que ele está mais choroso, mas a gente tenta demonstrar apoio." A situação é similar à da aposentada Eluzai Rodrigues, de 64 anos. Depois que o único neto, um cabo de 24 anos, foi aquartelado, ela virou a correspondente da família sobre como têm sido os dias na unidade militar. "Primeiro procurei o número daqui na lista telefônica e liguei para cá. Depois passei a vir", diz ela, que cuidou do neto desde a infância. "No começo a gente ficou apreensivo, até pela falta de comunicação, mas depois fomos nos acalmando", diz. "Se deixasse, todo mundo viria ver ele. Até a mãe dele, que mora no Ceará, queria comprar passagem às pressas." Ela se mostra apreensiva com a falta de perspectiva para a liberação do neto, mas diz confiar na investigação feita pelo Exército. "Até brinquei com meu neto: Será que você vai passar o Natal com a gente? Porque a gente não sabe até quando vai isso. Mas ele disse para eu deixar de besteira."
Biscoito de polvilho, bolacha recheada, suco de caixinha, bisnaguinha. Esses são alguns dos itens levados por familiares dos militares em visitas feitas na manhã desta quarta-feira, 18, ao Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri. "É a segunda vez que venho aqui, na primeira ele disse que a alimentação estava mais regrada, então decidi trazer", diz o vendedor Eduardo Mascarenhas, de 41 anos. Ele é pai de um soldado de 19 anos aquartelado na unidade. Eduardo afirmou que, por não morar com o filho, só ficou sabendo que ele estava entre os militares aquartelados cerca por volta da última sexta-feira, 12, três dias após o início. "Até tinha visto as notícias, mas não liguei uma coisa à outra. Depois que vi que ele tinha parado de responder as mensagens." Muitos familiares de militares também foram com crianças até o local. "É a segunda vez que eu venho, dessa vez decidi trazer minha filha", diz a cabeleireira Daniele Mendes, de 24 anos. Moradora de Osasco, também na Grande São Paulo, ela diz que faz tempo que o irmão, um soldado de 22 anos, não vê a sobrinha, que tem apenas 1 ano e seis meses de vida. "Espero que ele goste da surpresa." No caso da dona de casa Carina Santana, de 37 anos, foi o filho dela, um soldado também de 22 anos, que pediu pela presença da irmã. "Meu filho perguntava dela todos os dias, queria saber como ela estava. São muito apegados", diz. A menina, conta Carina, irá completar um ano de idade no próximo mês. "Espero que a gente já esteja junto para comemorar", diz a dona de casa, com a filha no colo. "Ele parece tranquilo, mas a gente sente falta." Sobre o aquartelamento, o Exército disse que o Arsenal de Guerra (AGSP) "passou da situação do estado de prontidão para sobreaviso, o que significa uma redução do efetivo da tropa aquartelada". "A investigação segue em curso e está sob sigilo."
Armamento tem alto poder destrutivoDocumentos técnicos das Forças Armadas apontam que a .50 pesa 38,1 quilos, sem contar outros 20 quilos do tripé que acomoda o armamento no solo. Ela tem 1,75 metro de comprimento e atinge alvos com eficácia a mais de um quilômetro de distância. É considerada não portátil por não ser transportada de forma ativa facilmente, mas, além do solo, pode ser instalada em veículos terrestres e aquáticos e possui suportes voltados a alvos aéreos a baixa altitude. O armamento é usado pelos Estados Unidos desde a década de 1930. Foi intensamente empregado durante a 2ª Guerra Mundial. Ele também tem o uso disseminado entre nações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e foi adquirido pelo Exército do Brasil. Por aqui, a metralhadora é usada até em caças A-29 Super Tucano, produzidos pela Embraer e que integram a frota da Força Aérea Brasileira (FAB). Cada aeronave possui duas metralhadoras .50 como parte do armamento à disposição da operação militar. O equipamento tem como vantagem operacional a capacidade de perfurar blindagens, principalmente as de caráter civil, como as que estão presente em modelos de carro-forte de transportadoras de valores.
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