O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, disse nesta sexta-feira (16) que continua buscando recursos para construir um segundo módulo científico brasileiro na Antártica, semelhante à plataforma já existente no interior do continente gelado, a chamada Criosfera 1.
“Estou buscando orçamentos para a criação do Criosfera 2, em local a ser determinado pelos cientistas”, afirmou, ao participar nesta manhã de um simpósio digital sobre a importância, os desafios e as perspectivas da pesquisa científica na Antártica. Consultado, o ministério informou, por meio de sua assessoria, que o projeto está orçado em US$ 450 mil, ou seja, cerca de R$ 2,52 bilhões.
O módulo científico nacional Criosfera 1 foi inaugurada em janeiro de 2012. Desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a estrutura de 6,30 metros de comprimento por 2,60m de largura e 2,5m de altura está instalada a cerca de 2.500 quilômetros de distância da Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz, e permitiu a expansão do Programa Antártico Brasileiro (ProAntar) de pesquisas, recolhendo e transmitindo, contínua e automaticamente, dados meteorológicos e atmosféricos do continente. Pouco após entrar em operação, surgiram vozes favoráveis à construção de uma segunda plataforma.
A Criosfera 1 possui painéis solares e geradores eólicos e seu funcionamento automático dispensa a presença humana, sendo acompanhado por meio de comunicação por satélite. As informações coletadas, como as medidas de dióxido de carbono, a amostragem de particulados atmosféricos e os dados de monitoração meteorológica permitem que cientistas analisem, entre outras coisas, os efeitos das mudanças climáticas globais e da poluição sobre o continente, complementando pesquisas desenvolvidas a partir da estação Comandante Ferraz – em funcionamento desde 1984 e reinaugurada em janeiro deste ano, após ter sido destruída por um incêndio, em 2012.
Pesquisas
Durante a abertura do simpósio, Pontes falou sobre a importância dos investimentos públicos em pesquisa científica. O ministro citou, como exemplos, os reflexos geopolíticos dos estudos que o Brasil realiza na Antártica e, de forma mais ampla, os resultados de estudos financiados com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).
“Eu brinco muito com o ministro [da Economia] Paulo Guedes que é minha função pedir este negócio [dinheiro para custear as bolsas concedidas pelo CNPQ] o tempo todo. Que ele pode até negar, mas nunca poderá dizer que eu não falei que preciso [dos recursos]”, acrescentou Pontes, mencionando a luta contra o novo coronavírus como outro exemplo da importância do investimento em pesquisas. “A única arma que temos para vencer o covid é a ciência.”
Participando do evento ao lado do ministro, o secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, almirante Antonio Cesar da Rocha Martins lembrou que, em 2048, o Protocolo ao Tratado da Antártida sobre Proteção ao Meio Ambiente (Protocolo de Madri) será rediscutido. Em vigor desde 1998, o tratado estabelece, entre outros aspectos, ações de proteção e preservação do meio ambiente na Antártica, proibindo inclusive a exploração de recursos minerais no continente.
“Será possível rever todo o sistema do tratado antártico. Não por unanimidade, mas por maioria dos membros consultivos. Aqui entra a importância de nossas pesquisas. Só é membro consultivo, com direito a voz e voto, aqueles [países] que demonstram substancial interesse na Antártica e substancial trabalho de pesquisa científica de qualidade, incluindo a instalação de estações científicas e a realização de expedições científicas”, disse.
O almirante destacou também a importância de verbas para a manutenção da Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz e de toda a estrutura necessária para o desenvolvimento de pesquisas no continente – o que, além da estação e do módulo Criosfera 1, envolve o uso de dois navios polares, como o Almirante Maximiano e o Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel) e aeronaves de apoio aos pesquisadores que passam temporadas alojados na estação.
Logística
Além dos recursos materiais e humanos, o desenvolvimento de pesquisa científica na Antártica impõe enormes desafios logísticos às instituições envolvidas, ressaltou o subsecretário da Marinha para o Proantar, capitão Marcelo Cristiano Gomes da Silva. Segundo ele, ao longo de todo o ano, são realizados ao menos dez voos (seis durante o verão antártico, quatro no inverno) para transportar pesquisadores e abastecer a estação de pesquisa.
“Em condições normais, no verão tentamos trocar o máximo de pesquisadores para atendermos o máximo de pedidos de realização de pesquisas. Já no inverno, o máximo que conseguimos é sobrevoar a estação e lançar suprimentos”, disse.
Silva já está a bordo do navio Almirante Maximiano, na companhia do grupo de militares e de pesquisadores, prestes a partir em direção à Antártica. “Este ano foi atípico por conta da covid-19, mas todas as medidas estão sendo adotadas para garantir que o vírus não ingresse no continente”, destacou o militar, ao falar sobre os desafios da missão.
“A dependência das condições climáticas nos impõe um grande desafio, pois são elas que determinam o que faremos. Nestas condições, é preciso buscar autossuficiência logística. Precisamos planejar tudo, levar tudo aquilo de que vamos precisar, pois não há como eu ligar de lá para meus chefes e dizer que esqueci um parafuso ou o que quer que seja e esperar que me enviem por Sedex”, afirmou.
De acordo com o militar, após ter sido reconstruída, a estação antártica brasileira tem se mostrado bastante eficiente. “Muito mais eficiente do que o planejado, tanto em termos de consumo de combustível, quanto de utilização dos equipamentos."
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