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Linguagem sem sons, mas com sotaques

Mandioca, macaxeira, aipim e castelinha são nomes diferentes da mesma planta. Semáforo, sinaleiro e farol também significam a mesma coisa. O que muda é só o hábito cultural de cada região. O mesmo acontece com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Embor

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 03.01.2021, 12:16:00 Editado em 03.01.2021, 12:22:10
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Mandioca, macaxeira, aipim e castelinha são nomes diferentes da mesma planta. Semáforo, sinaleiro e farol também significam a mesma coisa. O que muda é só o hábito cultural de cada região. O mesmo acontece com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Embora seja a comunicação oficial da comunidade surda no Brasil, há sinais que variam em relação à região, idade e até gênero de quem se comunica. A cor verde, por exemplo, tem sinais diferentes no Rio, Paraná e São Paulo. São os regionalismos na língua de sinais.

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Essas variações são um dos temas da disciplina Linguística na Língua de Sinais, oferecida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) ao longo do 2.º semestre de 2020. "Muitos pensam que a língua de sinais é universal, o que não é verdade", explica Angélica Rodrigues, professora e chefe do Departamento de Linguística, Literatura e Letras Clássicas da Unesp. "Mesmo em um mesmo país, ela sofre variação em relação à localização geográfica, faixa etária e até o gênero", diz.

Os surdos podem criar sinais diferentes para identificar lugares, objetos e conceitos. Em São Paulo, o sinal de "cerveja" é feito com um giro do punho como uma meia-volta. Em Minas, a bebida é citada quando os dedos indicador e o médio batem no lado do rosto.

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Também ocorrem mudanças históricas. Um sinal pode sofrer alterações decorrentes dos costumes da geração que o usa. A contagem dos números, de um a dez, também varia de Estado para Estado. Não existe certo ou errado.

O curso da Unesp foi concebido como bimodal, ou seja, possui apresentações em Português e em Libras. Nas aulas online, cada professor apresenta o conteúdo, mas em duas línguas diferentes. No último semestre, o curso foi o mais concorrido entre todos do programa de pós da universidade. A turma foi formada por 145 alunos, de várias partes do País, com 65% surdos.

Uma das alunas foi a professora universitária Sueli Ramalho. Ela é surda, com perda auditiva bilateral neurológica profunda. Ela conhece as variações da língua de sinais desde criança: sua mãe é carioca e seu pai, que já morreu, era paulista.

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"Eles continuaram com os sinais de origem e o entendimento se manteve", diz a professora de pós-graduação da Uninove. "Todas essas diferenças mostram a riqueza da língua. Ela é viva e deve ser explorada, explicada e ganhar cada vez mais visibilidade", completa a educadora de 55 anos.

Especialistas afirmam que a variação mostra como a língua de sinais está distante de uma mera reprodução icônica das coisas. Ela não é mímica, mas é o resultado da interação entre os surdos. É uma forma da fala, ainda que não seja oral. A língua de sinais possui morfologia, sintaxe e também regras gramaticais próprias, como um idioma independente.

Por isso, alguns alunos do curso contatados pelo Estadão preferiram não conceder entrevista em Português e pediram ajuda de um intérprete de sinais. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o País possui cerca de 9,7 milhões de surdos ou pessoas com algum grau de deficiência auditiva.

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"Libras é a língua materna para os surdos. O português, ou outra língua, passa a ser a sua segunda língua. A Libras contribui para a inserção em qualquer espaço social", diz a intérprete Roseli Marcia Benati. A professora de Libras é mãe da jogadora de futebol Stefany Krebs, a primeira surda da história do futebol feminino do Palmeiras. Contratada em janeiro, ela disputou o Campeonato Brasileiro feminino em 2019 e provocou uma mudança sutil entre as colegas: muitas estão aprendendo a língua de sinais. Nos treinos e nos jogos, parte dos gritos virou sinais e gestos.

O desafio da máscara

Independentemente do sinal que utilizem para se comunicar, os surdos vivem desafios adicionais na pandemia. A máscara, item obrigatório de prevenção contra o novo coronavírus, dificulta a leitura labial, usada como suporte para a comunicação. Surdos estão especialmente acostumados a usar expressões faciais e corporais para entender o que é comunicado.

Os lábios também ajudam na pronúncia de palavras básicas, como "pão", "água" e "dois". Com essa limitação, a comunicação fica mais difícil. É importante lembrar que nem toda pessoa surda utiliza a língua de sinais. Nesse caso, uma solução é o uso de máscaras transparentes. Diferentemente do modelo clássico, ela permite ver a leitura labial.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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