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Internet faz o 'caipirês' cair em desuso no interior paulista

Encher o bucho, ter viuvinha e dor nas cadeiras já não são expressões facilmente entendidas pelos mais jovens do interior de São Paulo como eram antes. Embora o "erre" arrastado ainda esteja presente na pronúncia, os jovens de cidades como Piracicaba, Cap

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 07.04.2022, 08:01:00 Editado em 07.04.2022, 08:08:56
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Encher o bucho, ter viuvinha e dor nas cadeiras já não são expressões facilmente entendidas pelos mais jovens do interior de São Paulo como eram antes. Embora o "erre" arrastado ainda esteja presente na pronúncia, os jovens de cidades como Piracicaba, Capivari e Sorocaba não entendem termos usados pelos mais velhos, como picar a mula (fugir) e mover os quartos (quadril). Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que o dialeto caipira está caindo em desuso entre a população mais jovem, principalmente por influência da internet.

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O "caipirês" está mais vivo no linguajar dos idosos, que usam menos as redes sociais e são, hoje, os verdadeiros guardiões do sotaque característico das cidades próximas ao Rio Tietê. O estudo da pesquisadora Lívia Carolina Baenas Barizon apontou que o Português verbalizado nessa região se aproxima da língua galega, falada na região ocidental da Península Ibérica, compreendendo partes de Portugal e de Galícia, comunidade autônoma da Espanha. Ao menos 82% das palavras usadas por esses paulistas possuem correspondência com termos do galego.

A pesquisa se ateve às cidades ao longo do Rio Tietê - moradores de Itu, Porto Feliz, Pirapora do Bom Jesus, Tietê e Santana de Parnaíba também contribuíram - porque a região foi importante para a difusão da Língua Portuguesa e do dialeto caipira quando os bandeirantes desciam o rio, interior adentro, até as barrancas do Rio Paraná, para desbravar terras e garimpar ouro. Segundo a pesquisadora, o dialeto caipira teria surgido nos núcleos familiares dessas cidades a partir do século 18.

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PESQUISA

Lívia dividiu os 48 informantes em grupos de homens e mulheres por faixas etárias - jovens de 18 a 25 anos, adultos de 36 a 55 e idosos acima de 60. Um questionário com 138 perguntas foi apresentado, mas a pesquisadora usou também desenhos do corpo humano. "Para deixar os entrevistados bem à vontade, eu apresentava o desenho ou apontava partes do meu próprio corpo, pedindo que eles identificassem", contou. No "caipirês", barriga virou "bucho", cabeça é "coco" ou "cachola", pálpebra é "capela do olho", e pescoço, "congote".

Houve um predomínio do dialeto caipira entre os mais idosos, o que, segundo a pesquisadora, pode estar associado a menor influência das mídias digitais nessa faixa etária. "Uma das grandes influências que pude observar é da escolaridade, pois, quanto menor é ela, mais a língua fica estagnada. Assim, os idosos com menos escola mantiveram mais o dialeto", explicou.

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Os jovens, segundo Lívia, tendem a usar termos mais próximos da realidade deles, por terem maior escolaridade e pela influência das redes sociais. Entre homens e mulheres, elas lideraram a tendência ao desuso do dialeto.

Das 85 unidades lexicais selecionadas para análise, como barba, boca, cabeça, cotovelo, dedo, articulação e umbigo, por exemplo, 82,4% foram convergentes com o galego. Esse idioma e o Português têm semelhanças por causa de questões históricas e sociais e era falado na região onde hoje fica Portugal até meados do século 12, segundo a pesquisadora.

Na tese O léxico caipira: tesouro da língua às margens do Anhembi, defendida em seu doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a filóloga desvenda as origens do dialeto caipira, a partir do português e do galego. O estudo teve orientação do professor Manoel Mourivaldo Santiago Almeida, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH, e co-orientação da professora Maria do Socorro Vieira Coelho, da Universidade Estadual de Montes Claros.

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"A pesquisa da Lívia tem grande importância para os estudos do Português falado em São Paulo, na região da cultura caipira, porque permite compreender os processos de variação e mudança da variedade que se expandiu dessa região para outras partes de Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil, pelos caminhos do Rio Tietê, antigo Anhembi", disse o professor Almeida.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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