MAIS LIDAS
VER TODOS

Cotidiano

Hospital A.C.Camargo decide manter atendimento a pacientes do SUS

Depois de anunciar que suspenderia o atendimento aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), o Hospital A.C. Camargo, referência no tratamento de câncer em São Paulo, mudou sua posição e decidiu manter o atendimento oncológico para o sistema público da

Gonçalo Junior (via Agência Estado)

·
Escrito por Gonçalo Junior (via Agência Estado)
Publicado em 18.08.2022, 20:58:00 Editado em 18.08.2022, 21:01:31
Imagen google News
Siga o TNOnline no Google News
Associe sua marca ao jornalismo sério e de credibilidade, anuncie no TNOnline.
Continua após publicidade

Depois de anunciar que suspenderia o atendimento aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), o Hospital A.C. Camargo, referência no tratamento de câncer em São Paulo, mudou sua posição e decidiu manter o atendimento oncológico para o sistema público da capital. O acordo foi anunciado nesta quinta-feira, 18, pelo governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), candidato à reeleição, após reunião com as secretarias do Estado e do Município e com a direção do hospital.

continua após publicidade

"Concluímos uma reunião que buscou um entendimento para o que o AC Camargo continue prestando os relevantes serviços para o SUS. O diálogo prevaleceu. O Governo de São Paulo e a Prefeitura de São Paulo se comprometem a continuar complementando aquilo que é pago pelo SUS para que ele possa fazer esse grande serviço", afirmou o governador.

De acordo com o governador, a nova pactuação também amplia a complexidade dos atendimentos oferecidos pelo hospital, mas os detalhes não foram divulgados. "Os números do próximo contrato, a forma e qual tipo de tumor serão objeto das próximas reuniões. Esse detalhamento vai deixar a todos nós mais orgulhosos", afirmou o médico Victor Piana de Andrade, CEO do hospital.

continua após publicidade

"O nosso acordo prevê que nós vamos focar o A.C. Camargo no atendimento de alta complexidade, que é onde o hospital tem mais bem-estar e é onde sua estrutura está mais preparada. O que a gente está entrando em acordo aqui é que A.C. Camargo, Prefeitura e Estado vão, juntos, encontrar uma sustentabilidade financeira", completa o diretor geral do hospital.

Os números de pacientes que serão atendidos pelo hospital também não foram divulgados. Andrade afirma que esse número varia, ano a ano, de acordo com o ambiente privado. "Ano a ano a gente negocia a quantidade de pacientes que temos condições de atender. Não há predeterminação do número de pacientes. É um equilíbrio de sustentabilidade de longo prazo".

Defasagem dos pagamentos levou ao anúncio de suspensão do atendimento

continua após publicidade

O hospital A.C.Camargo informou no início da semana que deixaria de atender pacientes do SUS a partir de dezembro deste ano, encerrando o contrato com a Prefeitura de São Paulo. Entre os motivos da decisão está a defasagem do modelo de pagamentos por consultas e procedimentos feitos pelo poder público aos prestadores de serviço particulares, de acordo com o médico Victor Piana de Andrade, CEO do hospital, em entrevista ao Estadão.

"A inflação médica está muito acima do que a inflação usual da população e, de fato, uma tabela sem reajuste nos dificulta. A gente vem ano a ano tendo de subsidiar cada vez mais, e o nível desse subsídio não pode arriscar a subsistência, a perenidade da instituição", declarou o médico antes do acordo.

Há quatro anos, a instituição informa que conseguia receber cerca de 1,2 mil novos pacientes atendidos via SUS em um só ano. À época, para cada R$ 1 investido pelo Ministério da Saúde, a instituição calcula que tinha de gastar praticamente o mesmo valor.

continua após publicidade

Nos últimos anos, no entanto, o valor que o hospital deve despender para conseguir atender um paciente que chega pelo SUS aumentou consideravelmente, o que já vinha se refletindo na diminuição dos pacientes recebidos. Neste ano, por exemplo, a previsão é abrir apenas 96 novos tratamentos de câncer pelo SUS - medida tomada para não aumentar o prejuízo.

No ano passado, o A.C.Camargo recebeu R$ 36 milhões ao longo de um ano para atender pacientes do SUS, mas teve de investir quase R$ 100 milhões adicionais para conseguir atendê-los. Os valores que o Governo de São Paulo e a Prefeitura vão desembolsar como compensação financeira para a manutenção do atendimento não foram divulgados.

continua após publicidade

Inflação dos medicamentos avança desde o início da pandemia

As dificuldades enfrentadas pelo A.C. Camargo se reproduzem em outros hospitais. A interrupção das cadeias de produção e distribuição de medicamentos e insumos de uso hospitalar inflacionam os preços desde o início da pandemia. Um estudo feito em grandes hospitais revela o impacto da covid-19 nos custos de saúde ao investigar as compras feitas por hospitais públicos brasileiros.

O índice de preços da cesta de medicamentos hospitalares analisada apresentou aumento de 97,49% no período de fevereiro de 2020 a junho de 2021, segundo o estudo feito pelo Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde (Ibross), que representa 21 organizações sociais que mantêm contratos de gestão com Estados e municípios, em parceria com a consultoria GO Associados. No caso dos materiais médico-hospitalares, o índice de preços registrou alta de 161,14% entre fevereiro de 2020 e abril de 2021.

Segundo o estudo, foram encontradas evidências de que houve quebra estrutural nas séries de preços a partir de maio de 2020. Isso significa que os preços se comportaram de maneira diferente da tendência apresentada entre 2018 e 2019.

As dificuldades vividas pelos hospitais preocupam os pacientes. Entidades que representam pacientes oncológicos e suas famílias convocaram um protesto para esta sexta-feira, 19, reivindicando mais vagas para o atendimento oncológico pelo SUS. As organizações também pedem a revisão imediata da tabela do SUS que, segundo eles, "vem afastando hospitais dos convênios com o Sistema Único de Saúde".

Segundo as entidades, são mais de 600 mil brasileiros vitimados pelo câncer todos os anos e esse número vem crescendo desde a pandemia de Covid-19. "Saúde não é prioridade no Brasil. Os governos federal, estadual e municipal fogem da responsabilidade de garantir atendimento digno de saúde à população e transferem aos hospitais conveniados como o A.C Camargo essa árdua tarefa, de atender sem receber sequer pelos custos do atendimento", diz um trecho do manifesto assinado por 16 entidades.

Gostou desta matéria? Compartilhe!

Icone FaceBook
Icone Whattsapp
Icone Linkedin
Icone Twitter

Mais matérias de Cotidiano

    Deixe seu comentário sobre: "Hospital A.C.Camargo decide manter atendimento a pacientes do SUS"

    O portal TNOnline.com.br não se responsabiliza pelos comentários, opiniões, depoimentos, mensagens ou qualquer outro tipo de conteúdo. Seu comentário passará por um filtro de moderação. O portal TNOnline.com.br não se obriga a publicar caso não esteja de acordo com a política de privacidade do site. Leia aqui o termo de uso e responsabilidade.
    Compartilhe! x

    Inscreva-se na nossa newsletter

    Notícia em primeira mão no início do dia, inscreva-se agora!