Uma das principais referências que governos, organizações internacionais, setor privado e sociedade civil têm adotado na busca por um desenvolvimento sustentável é a “Agenda 2030”, conjunto de metas e ações proposto pela ONU, em 2015, para enfrentar os desafios urgentes que afetam o bem-estar humano e o futuro do planeta, levando em consideração tanto as necessidades presentes quanto as futuras gerações.
Nesse contexto, empresas têm se preocupado cada vez mais em deixar um legado positivo para a sociedade. É por isso que ganhou destaque, nos últimos anos, a sigla ESG, que reúne as iniciais das palavras “Ambiental”, “Social” e “Governança” em inglês. O conceito por trás dessa sigla é que a preocupação com o futuro se traduza em ações concretas, por parte das organizações, diante do contexto socioambiental no qual cada instituição — seja de grande, médio ou pequeno porte — está inserida.
Como a sigla sugere, esse movimento é baseado em três pilares. O primeiro deles é o pilar ambiental, que envolve as ações e políticas que uma empresa adota para minimizar seu impacto no meio ambiente, como redução das emissões gases poluentes, a utilização eficiente dos recursos naturais, a gestão sustentável dos resíduos, a adoção de fontes de energia renováveis e mais eficientes e a proteção da biodiversidade, do ar e da água.
O segundo pilar é o social, que inclui políticas externas que promovem o bem-estar e o tratamento justo dos colaboradores, bem como o envolvimento nas comunidades locais. Ele inclui também iniciativas para construir a diversidade dentro da empresa e entre fornecedores, além de prezar pela responsabilidade social de toda a cadeia produtiva.
O terceiro pilar é a governança. Ou seja: a estrutura que a empresa possui para controlar seu funcionamento interno, garantindo a adoção de boas práticas de gestão e mecanismos de responsabilização. Esse pilar também aborda a ética empresarial, bem como políticas sobre transparência, responsabilidade fiscal, combate à corrupção, salvaguarda dos direitos dos acionistas e conformidade com a lei.
Saúde mental e ESG
No pilar social, um dos maiores desafios que as companhias enfrentam hoje é lidar com a saúde mental, que é um dos temas do Relatório de Riscos Globais publicado pelo Fórum Económico Mundial. Atualmente, as empresas comprometidas com a agenda ESG se esforçam para criar um ambiente de trabalho saudável e que acolha a todos, além de desenvolver programas de diversidade e inclusão, práticas de integração de equipes, canais de escuta, planejamento de carreira e outras medidas para garantir o bem-estar dos colaboradores.
Para o especialista em saúde mental e psicanalista Guilherme Bernardino, essa questão é um dos pontos cruciais da agenda ESG. “As organizações reconheceram que, para terem sucesso e prosperarem, devem cuidar dos seus funcionários. Afinal, não adianta falar com o mercado sobre ESG se não houver comprometimento de entender e ouvir as necessidades fundamentais da equipe”, explica. “Até porque ninguém tem capacidade de trabalhar, produzir e gerar recursos se não tiver uma mente saudável”.
Guilherme destaca, ainda, que a saúde mental se enquadra perfeitamente no pilar social, mas também pode estar ligada aos outros dois. “Quando falamos em meio ambiente, podemos pensar nos efeitos da poluição e das mudanças climáticas que afetam a saúde das pessoas”, afirma. “Em relação à governança, podemos compreender a importância das empresas prestarem serviços psicológicos aos seus colaboradores, além de impulsionarem iniciativas que trabalham esse tema”.
A área de Recursos Humanos das empresas ganha, portanto, uma importância especial no tratamento desse tema, afinal, é responsável por gerir as relações de trabalho no ambiente interno, promover boas práticas e ações, pensar em iniciativas e estratégias para melhorar o clima organizacional e fortalecer a cultura empresarial entre os colaboradores. Além disso, o setor de RH também tem de agir para garantir diversidade e inclusão nas contratações e na estrutura de comando das organizações.
Guilherme Bernardino lembra, ainda, que uma força de trabalho diversificada pode trazer diversas vantagens para as empresas, tornando-as mais produtivas e inovadoras. O especialista considera, por fim, que todo o investimento em ESG é, na verdade, um investimento na proteção dos direitos humanos. “Podemos viver livremente num ambiente de igualdade, amor fraterno e paz. Nesta definição, vê-se claramente a interligação entre os direitos humanos e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas”, diz ele.
Sustentabilidade e tecnologia
Novas tecnologias, como a inteligência artificial (IA), também pode, auxiliar as empresas a se adaptarem aos critérios ESG. otimizando seus processos e maximizando seus impactos positivos em termos ambientais, sociais e de governança.
O programador, tech influencer e empreendedor Bendev Junior explica, por exemplo, que por meio da análise de dados ambientais, podemos coletar, analisar e interpretar informações como emissões de carbono, consumo de energia e uso de água. “Isso nos permite compreender melhor o impacto ambiental das operações empresariais e identificar oportunidades para melhorias”, diz ele.
O especialista destaca que IA também pode ser usada para prever e mitigar riscos, como desastres naturais e problemas trabalhistas, permitindo que as empresas se preparem adequadamente para situações adversas. Quanto à transparência, sistemas baseados em IA ajudam as empresas a rastrear e relatar suas práticas ESG de forma mais precisa e transparente, o que fortalece a confiança dos investidores.
Além disso, a IA pode ser utilizada para avaliar o impacto social das atividades empresariais, incluindo o bem-estar dos funcionários, práticas de contratação inclusivas e investimentos em comunidades locais. Isso permite que as empresas identifiquem áreas para melhoria e façam ajustes em suas políticas e práticas. “Um dos aspectos mais importantes é a tomada de decisão baseada em dados”, explica Bendev. “Ao analisar grandes volumes de informações, a IA pode ajudar as empresas a tomar decisões mais informadas e alinhadas com seus objetivos ESG”.
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