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Epidemia de dengue supera 1 milhão de casos em 2 meses; são 214 mortes

Às vésperas do 'Dia D' convocado pelo governo federal contra o Aedes Aegypti, o Brasil ultrapassou nesta quinta-feira, 29, a marca de 1 milhão de casos prováveis de dengue, segundo atualização feita no Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério

Lara Castelo e Leon Ferrari (via Agência Estado)

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Escrito por Lara Castelo e Leon Ferrari (via Agência Estado)
Publicado em 01.03.2024, 07:03:00 Editado em 01.03.2024, 07:08:54
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Às vésperas do 'Dia D' convocado pelo governo federal contra o Aedes Aegypti, o Brasil ultrapassou nesta quinta-feira, 29, a marca de 1 milhão de casos prováveis de dengue, segundo atualização feita no Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde. O número, referente às oito primeiras semanas de 2024, representa quase cinco vezes o registrado no mesmo período de 2023, quando 207.475 infecções foram notificadas. O número de casos graves ou com sinais de alarme da doença também avançou no período: no primeiro bimestre de 2024 foram registrados 2,5 vezes mais casos desse tipo em comparação com o mesmo período de 2023.

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É importante considerar que o País se aproxima de 60% dos casos registrados em todo o ano passado, o segundo com o maior número de relatos prováveis desde 2000. Até o momento, foram registrados 214 óbitos neste ano em decorrência da doença. Outras 687 mortes são investigadas pelo ministério. A pasta, no entanto, trabalha com a possibilidade de mais de 4 milhões de relatos.

O coeficiente de incidência da doença no País chegou a 501 casos por 100 mil habitantes - acima de 300, esse índice é considerado alto e indica a ocorrência de epidemia. O cenário levou 6 Estados (Goiás, Acre, Minas, Espírito Santo, Rio e Santa Catarina) e 154 cidades e o Distrito Federal a decretaram emergência de saúde pública nas últimas semanas.

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O agravamento

"Tivemos neste ano uma necessidade de internação hospitalar muito superior à do ano passado", afirmou anteontem Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde. Especialistas e as autoridades de saúde destacam que o volume de casos graves é preocupante. As causas disso, considerando que tradicionalmente a maioria das pessoas não enfrenta o agravamento, ainda não estão completamente claras.

Há uma hipótese, porém, que considera uma mudança na prevalência entre os sorotipos. No ano passado, o principal sorotipo circulante foi o 1. Agora, temos o 2. Muitas pessoas que tiveram dengue pelo tipo 1 podem ficar doentes pelo sorotipo 2. No momento, os quatro vírus da dengue circulam, mas, de fato, o DENV-1 e o DENV-2 dominam o cenário - o segundo parece ter ganhado mais tração neste ano.

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A reinfecção por dengue está associada a uma maior chance de desenvolver o quadro grave. Por quê? Quando alguém é infectado por um dos tipos, adquire imunidade apenas contra aquela variação do vírus. Ou seja, fica suscetível à reinfecção pelas demais. No entanto, o que se descobriu é que nosso sistema imunológico fica confuso quando nos infectamos por outro tipo. Ele entende que aquele vírus é o mesmo, e não um diferente, gerando uma resposta exacerbada. Produz anticorpos para a infecção do passado, que estão "desatualizados", e ainda favorecem a replicação viral, internalização do vírus e, portanto, uma maior gravidade da doença.

Letalidade

Comparando as oito primeiras semanas epidemiológicas de cada ano, a taxa de letalidade era de 0,07 em 2023 - em todo o ano passado, foram 1.094 mortes, o recorde histórico - e, agora, está menor, em 0,02. É importante ressaltar, porém, que os dados de 2024, mesmo os referentes às semanas epidemiológicas já computadas, são preliminares e provavelmente serão atualizados para cima. Isso ocorre tanto pelo atraso no lançamento de registros nos sistemas informatizados do ministério quanto pelo alto número de óbitos ainda em investigação - são 687.

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Há variações entre as unidades federativas. No Distrito Federal, onde há a maior incidência de casos e hospitais colapsaram - como disse o governador, Ibaneis Rocha (MDB) -, ela era de 0,05 nesta semana. "Importante ficarmos atentos. Porque esse não é (tradicionalmente) o momento de pico da doença. E quando estamos no início de uma curva epidêmica, que não atingimos o pico, a letalidade da doença tende a ser menor", afirma Julio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). "Mas já observamos número bastante elevado de casos graves hospitalizados, aumento substancial em relação ao ano passado."

"A expectativa é de que esses números continuem a crescer, e que a gente supere o recorde histórico de número de casos e, infelizmente, também o número de óbitos", completa Croda. O médico lembra que há uma estimativa de nove casos subnotificados para cada registro oficial de caso provável, além dos assintomáticos. Ou seja, o número real deve ser bem maior.

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Circulação de diversos vírus ao mesmo tempo preocupa ministério

O foco do Ministério da Saúde, no momento, é evitar as mortes pela doença, que são evitáveis. Desde de novembro do ano passado, como mostrou oEstadão, as autoridades nacionais já se comunicavam com Estados e municípios para avisar sobre uma sazonalidade errática da doença, que exigia atenção especial e preparação antecipada.

O sucesso do manejo de casos se dá na identificação precoce de sinais de alarme da doença, que indicam um agravamento do caso. Quanto mais rápido eles forem detectados e o tratamento começar, melhor o prognóstico. Em casos críticos, a hidratação precisa ser endovenosa (na veia). O governo federal destaca que o avanço de casos ocorre em um momento em que não só a dengue circula, o que eleva a preocupação. "Temos chikungunya, temos covid, começamos também agora uma temporada de vírus respiratórios, que precisamos prestar atenção", disse Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde. "Aos primeiros sinais de sintomas de febre, dor no corpo, dor nas articulações, dor atrás dos olhos, mal-estar, dor de cabeça, manchas no corpo, procure um serviço de saúde", pediu ela.

A ministra Nísia Trindade anunciou um "Dia D" do combate à dengue, que ocorre amanhã, com ações de prevenção e de incentivo à eliminação dos focos do mosquito Aedes Aegypti, vetor da dengue - 75% dos criadouros estão dentro de nossas casas.

Em meio a esse cenário, iniciou-se a vacinação contra a dengue com a única vacina aprovada até o momento pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que pode ser amplamente aplicada na população: a Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda. O número de doses é pequeno (6,5 milhões para este ano) e, por isso, só crianças de 10 a 14 anos de 521 municípios serão vacinadas em 2024. Os efeitos da campanha na redução de casos não devem ser sentidos no curto prazo.

As informações são do jornalO Estado de S. Paulo.

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