Em meio ao colapso que a pandemia trouxe à capital amazonense, famílias têm no máximo 5 minutos para enterrar seus mortos. Esse foi o tempo desde a autorização do coveiro à colocação da coroa de flores na sepultura que Alexandre Pereira, de 32 anos, teve para se despedir da mãe, vítima da Covid-19, na tarde de sábado (15/1), no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (AM).
Durante esse tempo, Alexandre assistiu de perto a um pequeno grupo de sete funcionários do cemitério levar o caixão para uma das covas da nova ala para vítimas da Covid-19, que fora aberta minutos antes, por uma retroescavadeira. O caixote é posto no buraco, e logo a máquina é acionada novamente para encobrir a vala com terra.
Antes, no entanto, o filho, que segurava a coroa com flores amarelas e rosas em uma das mãos, se agachou, pegou um pouco da terra molhada (chovera por alguns minutos no início da tarde em Manaus), e jogou sobre o caixão.
Em seguida, foram necessárias apenas nove dentadas da retroescavadeira, feitas em um período de três minutos e 15 segundos, para encobrir a vala recém-aberta. Foi o tempo necessário para Alexandre trocar uma das flores rosas de lugar, em um último detalhe, e deitar a coroa sobre o monte de terra.
Além da mãe de Alexandre, outras 201 pessoas foram sepultadas ao longo de sábado, em Manaus, segundo dados da prefeitura. Dessas, 102 foram vítimas da Covid-19. O número total só não é maior que o registrado na sexta-feira (15/1), quando 213 enterros foram registrados na capital, recorde desde o início da pandemia.
O número de mortes pela doença tem crescido diariamente, com o aumento de casos do novo coronavírus, e a consequente elevada taxa de ocupação nos hospitais da capital, onde ambulâncias são usadas como leitos de UTI e pacientes são tratados em casa. E tudo isso agravado pela escassez de oxigênio, suprimento essencial para o tratamento da Covid-19.
O sistema de saúde de Manaus colapsou, literalmente. Pacientes estão sendo transferidos a outros estados devido à falta de oxigênio na capital – o que ajuda, inclusive, a abrir espaço nos hospitais para um cada vez mais difícil tratamento da doença. Nas portas das unidades de saúde, famílias pedem desesperadamente por socorro.
O trabalho também tem sido árduo para as funerárias. É o que conta o motorista de um desses carros, Claudionor de Souza, de 53 anos. “Estamos vindo bem mais vezes ultimamente, pois a demanda está cada dia maior. Trabalho há oito anos. Em todo esse tempo, só em abril [tivemos tanto sepultamento desse jeito].”
Além dessas covas, o cemitério Nossa Senhora Aparecida iniciou a construção de gaveteiros para receber mortos por Covid-19. Até sábado, foram construídas 336 sepulturas verticais. A Prefeitura de Manaus, no entanto, espera construir, no total, 22 mil vagas – até quando será necessário pensar em outra solução.
Com informações Metrópoles.
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