O desembargador Silvio de Arruda Beltrão, 80 anos, aposentado do Tribunal de Justiça de Pernambuco, divulgou nesta terça-feira, 8, uma carta aberta em que volta a acusar os filhos de tentarem "usurpar" seu patrimônio e afirma estar "plenamente apto" para gerir a própria vida.
Os herdeiros haviam assumido como curadores do pai, após um laudo determinar sua interdição. A medida foi revogada na semana passada, a pedido do desembargador, que fez um desabafo acalorado na sessão de julgamentos.
A carta aberta abre um novo capítulo na disputa familiar. O magistrado atribui aos filhos uma tentativa de tentar descredibilizá-lo.
"Eu não estou demente nem possuo qualquer doença cognitiva", reagiu Beltrão. "Os próprios médicos que inicialmente atestaram suposta enfermidade já declararam através de novos laudos atualizados, que eu não possuía nenhuma doença cognitiva e solicitaram remissão pelo equívoco cometido contra a minha pessoa."
A carta aberta também acusa os filhos de tentarem impedi-lo de atuar como advogado. "Ato de covardia, de falta de vergonha e de respeito", criticou.
O desembargador já havia chamado um dos filhos, o juiz Sílvio Romero Beltrão, desembargador substituto do TJ-PE, de "desonesto". Ele afirma no texto que não quer perdão pelo que disse.
"Falei pouco, muito pouco, de tudo que sei a respeito do comportamento irregular e inadequado de um dos meus filhos no exercício da magistratura, do qual muito me envergonha. O perdão da suposta família, que está me impingindo tanto sofrimento, não se faz útil nesse momento, mas o necessário respeito a um pai e à justiça, sim", segue o magistrado.
Leia a íntegra da manifestação:
RESPOSTAS AOS MEUS FILHOS
Eu, Silvio de Arruda Beltrão, estou plenamente apto para gerir a minha vida, tanto assim o é que a curatela que me foi, equivocadamente imposta já fora revogada com lastro nos laudos de médicos especialistas.
Não quero o perdão pelo que disse, pois falei pouco, muito pouco, de tudo que sei a respeito do comportamento irregular e inadequado de um dos meus filhos no exercício da magistratura, do qual muito me envergonha. O perdão da suposta família, que está me impingindo tanto sofrimento, não se faz útil nesse momento, mas o necessário respeito a um pai e a justiça, sim.
A minha manifestação em defesa do meu direito à existência como cidadão, foi tão intensa quanto é a sanha dos meus filhos com o intuito de descredibilizar-me para que eles possam intervir em minha vida pessoal, nas minhas vontades, nas minhas decisões, na minha família e sobretudo, usurpar a administração do meu dinheiro, do meu patrimônio e da minha esposa, com quem vivo há mais de quinze anos, e que tem procedido maravilhosamente bem.
Inclusive, os próprios médicos que inicialmente atestaram suposta enfermidade já declararam através de novos laudos atualizados, que eu não possuía nenhuma doença cognitiva e solicitaram remissão pelo equívoco cometido contra a minha pessoa, pois se hoje chego aos oitenta anos, trabalhando como advogado e despachando nos Gabinetes dos Juízes e Desembargadores, fazendo inclusive sustentação oral e minhas próprias petições, torna-se evidente que eu não estou demente nem possuo qualquer doença cognitiva, que possa me impossibilitar de advogar, digo isto pois, lamentavelmente, meus filhos tiveram a insânia de requerer ao Juiz que oficiasse a Ordem dos Advogados de Pernambuco pretendendo me impedir de advogar, num ato de covardia, de falta de vergonha e de respeito para com seu Pai.
Assim, rememoro os ensinamentos de Jesus quando disse: OS INIMIGOS DO HOMEM SERÃO OS DA SUA PRÓPRIA FAMÍLIA. Mateus 10:36, da Bíblia Sagrada.
Recife, 08 de Agosto de 2023.
Silvio de Arruda Beltrão.
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