A Receita Federal apreendeu nesta terça-feira, 2, um total de 882 quilos de cocaína em contêineres no Porto de Santos. Trata-se da maior apreensão de entorpecente realizada neste ano pelo órgão no terminal. A droga estava escondida em um carregamento de 677 toneladas de açúcar.
Conforme o órgão, a carga de cocaína foi interceptada durante a execução de trabalhos de rotina de vigilância e repressão aduaneiras realizados por equipes da Alfândega de Santos. A identificação da carga ilícita contou com auxílio de um cão farejador.
A Receita informou que a carga estava acondicionada em 25 contêineres que tinham como destino a Guiné, país da África Ocidental. Ainda assim, o navio para onde o carregamento iria ainda faria baldeação no porto de Antuérpia, na Bélgica, o que dificulta a compreensão de qual seria o destinatário final.
Como mostrou o Estadão, o Primeiro Comando da Capital (PCC), principal organização criminosa a operar no Porto de Santos, aumentou o envio de drogas para a África como forma para aumentar seu lucro com o tráfico internacional de cocaína.
A Europa, de todo modo, segue como o principal destino. Por lá, o grama da cocaína pode chegar a US$ 85 (R$ 455, na cotação atual). Em países vizinhos ao Brasil, como Colômbia, Peru e Bolívia, a mesma quantidade pode ser comprada por apenas US$ 1 (R$ 5,35).
A Receita informou que, para a seleção de cargas, são utilizados critérios objetivos de gerenciamento e análise de risco, bem como a inspeção não invasiva por imagens de scanner. "Esse trabalho busca garantir a agilidade das operações do comércio exterior e, ao mesmo tempo, coibir a prática de ilícitos aduaneiros no complexo portuário santista", afirmou.
Ainda de acordo com o órgão, para tentar driblar a fiscalização, a droga apreendida nesta terça-feira estava cuidadosamente oculta em 20 sacas de ráfia em um dos contêineres.
Após a confirmação da "contaminação" (como as autoridades policiais se referem a cargas com a presença de drogas), a Polícia Federal foi acionada para os procedimentos de polícia judiciária da União e para realizar a perícia no local dos fatos, a fim de subsidiar a investigação a ser conduzida em inquérito policial.
PCC foca em cascos de navio
Como mostrou o Estadão neste ano, por mais que o tráfico via contêineres seja mais "tradicoional", uma tática que tem ganhado força no período recente é o uso de "caixas de mar" (recipientes localizados no casco). Isso porque, no envio de cargas para Europa e África, o tráfico via contêiner tem mais risco: a regra é de que sejam vasculhadas por scanners logo na chegada aos terminais.
No último ano, 1,68 tonelada de cocaína foi apreendida em cascos de navios no Porto de Santos por mergulhadores militares, mais do que o triplo do que os 483 quilos interceptados em 2020, segundo balanço da Marinha obtido com exclusividade pelo Estadão.
Dados da Alfândega de Santos reunidos pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP mostram como o tráfico submarino tem crescido. Em 2020, a proporção de droga achada em cascos de navios era de 2,3% do montante. Em 2023, só até agosto, a fatia saltou para 13,5%.
As investigações apontam que, em geral, os pacotes são levados aos navios de duas formas: por pequenas lanchas, que se movimentam principalmente à noite com luzes apagadas, ou por mergulhadores, que saem de áreas de mata ou de embarcações mais afastadas.
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