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Brasil conseguiu reduzir emissões de gases de efeito estufa?

Mantendo nesse ano e no próximo o mesmo nível de redução de 2023 em relação a 2022, é possível conseguir alcançar a meta

Juliana Domingos de Lima (via Agência Estado)

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Escrito por Juliana Domingos de Lima (via Agência Estado)
Publicado em 08.11.2024, 16:53:21 Editado em 08.11.2024, 16:53:24
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O Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa em 2023. O número representa queda de 12% em relação ao ano anterior, quando foram emitidas 2,6 bilhões de toneladas.

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Apesar da redução, o resultado deste ano se mantém em um patamar elevado, que coloca o Brasil na posição de quinto maior emissor de gases estufa do mundo.

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As emissões dos países estarão em pauta na Cúpula do Clima (COP-29), que acontece em Baku, no Azerbaijão, a partir de segunda-feira, 11, com objetivo de discutir estratégias e financiamento para a descarbonização.

O dado foi divulgado nesta quinta-feira, 7, pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg) do Observatório do Clima, rede de organizações ambientais voltadas ao combate da mudança climática.

- Com emissões em alta em outros setores, a queda em 24% nas emissões globais por desmatamento foi a responsável pela redução, puxada pelo corte de emissões por desflorestação da Amazônia em 37%, a partir da intensificação de ações de fiscalização pelo governo federal

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- À exceção da Amazônia e do Pampa - que também registrou queda de 15% nas emissões por desmatamento em 2023 -, porém, todos os biomas tiveram alta nesse setor, com aumento de 86% no Pantanal, 23% das emissões no Cerrado, 11% na Caatinga e 4% na Mata Atlântica;

- O aumento do desmatamento no Cerrado levou o Maranhão à posição de terceiro Estado com maior emissão bruta do Brasil, entrando pela primeira vez no ranking e ficando atrás apenas de Pará e Mato Grosso.

As mudanças de uso da terra - de floresta para pasto, por exemplo - seguem sendo as maiores poluidoras no País, responsáveis por 46% das emissões brutas de gases de efeito estufa, com 1,062 bilhão de toneladas de CO2 equivalente.

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Todos os outros setores geradores de emissão analisados no relatório do Seeg - agropecuária, energia, indústria e resíduos - apresentaram aumento, o que já era esperado com o crescimento do PIB. Na agropecuária, que totaliza 28% das emissões brutas, a alta foi de 2,2%, chegando a 631 milhões de toneladas.

O aumento é atribuído ao crescimento do rebanho bovino, já que a maior parte das emissões vem do "arroto" do boi - a fermentação entérica emitiu 405 milhões de toneladas em 2023, volume maior do que o total de emissões da Itália, por exemplo.

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Em 2023, o número de bovinos bateu recorde desde o início da série histórica, em 1974, com 238,6 milhões de cabeças, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal do IBGE.

Apesar de ser a maior queda porcentual nas emissões desde 2009, ano que o Brasil registrou menor emissão da série histórica iniciada em 1990, o País ainda não retornou ao patamar anterior a 2019 - menor do que o volume de emissões atual.

Nesta edição do relatório, um reajuste na metodologia mostrou que as emissões de 2022, divulgadas no ano passado, haviam sido subestimadas. Com o novo cálculo, as emissões brutas de 2022 ficaram em 2,6 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente, o que resultou na redução de 12% das emissões de 2023 em relação ao ano anterior.

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Ambição climática

O Brasil tem uma meta de redução de emissões a cumprir até 2025, fixada pela adesão do País ao Acordo de Paris. A atual ambição climática, ou Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês) limita a emissão máxima a 1,32 bilhões de toneladas de CO2 equivalente até o próximo ano, quando todos os países devem apresentar novas metas.

A cifra corresponde ao volume de emissões líquidas, ou seja, o balanço entre tudo que o País emite e a quantidade de CO2e capturado por atividades como reflorestamento e práticas agrícolas sustentáveis.

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Em 2023, as emissões líquidas ficaram em 1,65 bilhão de toneladas de CO2e. Para atingir a meta, o Brasil ainda precisa reduzir as emissões em mais de 20% em dois anos, até o fim de 2025.

Mantendo nesse ano e no próximo o mesmo nível de redução de 2023 em relação a 2022, é possível conseguir alcançar a meta, segundo calcula o coordenador do levantamento, David Tsai.

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Sem questionar a importância de continuar diminuindo o desmateo, Tsai considera que apostar apenas na Amazônia para reduzir as emissões não é uma boa estratégia. "A gente precisa descarbonizar todos os setores", disse ao Estadão.

Por que queimadas não contam?

O relatório do Seeg reporta as emissões geradas por queimadas, mas até o momento elas não entram na conta das emissões brutas e líquidas anuais do País.

Essas emissões são monitoradas pelo Observatório do Clima desde 2018, mas afirma calculá-las separadamente para "manter a comparabilidade com as metas brasileiras", uma vez que o inventário oficial de emissões do governo federal não contabiliza as emissões por queimadas.

Os valores são significativos: em 2023, somente as emissões por queimadas não associadas a desmatamento chegaram a 90 milhões de toneladas de CO2 equivalente.

Em 2024, o Brasil bateu recordes de incêndios florestais mesmo na Amazônia, onde a floresta não pega fogo naturalmente e os incêndios costumam estar associados ao desmatamento, atualmente em queda.

Na avaliação do Observatório do Clima, o fogo tende a ser um fator cada vez mais importante no balanço de carbono do Brasil à medida que a crise climática se agrava.

"Achamos que o governo deve passar a contabilizar essas emissões, inclusive porque é uma recomendação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)", afirmou o coordenador do Seeg David Tsai.

Neste ano, o OC monitorou pela primeira vez as emissões de metano e de óxido nitroso por queima de pastagens. Os dois são gases mais potentes no aquecimento do planeta do que o CO2.

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