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‘Antidepressivo não deve parar de ser prescrito’

A demonização de remédios antidepressivos pode levar a uma piora na atenção à saúde mental, alerta o psiquiatra Jose Gallucci Neto, diretor do serviço de Eletroconvulsoterapia (ECT) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Estudo britâ

Leon Ferrari (via Agência Estado)

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Escrito por Leon Ferrari (via Agência Estado)
Publicado em 25.07.2022, 05:30:00 Editado em 25.07.2022, 05:34:25
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A demonização de remédios antidepressivos pode levar a uma piora na atenção à saúde mental, alerta o psiquiatra Jose Gallucci Neto, diretor do serviço de Eletroconvulsoterapia (ECT) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Estudo britânico recente publicado na revista científica Molecular Psychiatry apontou não haver evidências "convincentes" de que a depressão esteja associada a baixas concentrações ou atividade de serotonina, eixo sobre o qual parte dos medicamentos tenta atuar. Ele destaca que o estudo apenas aponta limitações da teoria do desequilíbrio químico - algo já difundido na área -, além de abrir portas para pesquisa da relação de outros neurotransmissores e também da investigação a longo prazo da eficácia de drogas antidepressivas. "Jamais pare de tomar o seu antidepressivo sem orientação do seu psiquiatra."

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Qual a relevância do estudo britânico?

É um estudo importante, mas não é inovador. Ele corrobora com uma coisa que a gente já sabia: não há uma correlação entre níveis de serotonina e estar ou não deprimido. Como é que a gente já sabia disso? Porque quando a gente prescreve o antidepressivo não dosamos a serotonina antes. O crivo de indicar ou não é baseado no diagnóstico clínico. A gente também sabe que, quando você trata pacientes com depressão, 30% não respondem aos antidepressivos. Ainda que se busque nas pesquisas científicas o marcador biológico para depressão, esse marcador ainda não existe. Isso quer dizer que a doença mental tem uma origem provavelmente multifatorial e complexa. Enxergar a falta de serotonina como causa da depressão é um reducionismo.

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Por que a serotonina acabou no centro das atenções quando se fala em depressão?

As primeiras medicações que se percebeu, pela observação, que tinham efeito antidepressivo eram medicações que se ligavam a receptores da serotonina, noradrenalina e dopamina. E muitos pacientes melhoravam (com essas primeiras medicações). Então, não adianta também demonizar a teoria do desbalanço bioquímico simplesmente porque a serotonina não estabeleceu correlação de causa e efeito.

Uma das sugestões do estudo é que profissionais não mais informem a pacientes que a depressão está relacionada a baixas concentrações de serotonina. Como o senhor analisa a questão?

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Essa informação nunca deveria ter sido dada porque é uma simplificação equivocada. Eu nunca informei um paciente meu que a depressão dele era causada por níveis baixos de serotonina. Ainda que eu saiba que muita gente faz isso. A informação correta é que a gente não sabe qual é a origem da depressão e temos algumas teorias, dentre elas essa, mas que provavelmente não explicam tudo nem todos os casos.

Devemos parar de prescrever antidepressivos?

De forma nenhuma. A gente precisa conhecer melhor o mecanismo de ação dos antidepressivos, isso depende de investimento em pesquisa. Precisamos de estudos de longo prazo para avaliar principalmente a eficácia de antidepressivos, porque, na medicina, normalmente temos estudos só de curto prazo. A introdução dos antidepressivos e dos psicofármacos no tratamento das doenças mentais é um divisor de águas na saúde mental da população. Só conseguimos desinstitucionalizar casos graves e fechar os manicômios na reforma psiquiátrica por causa de antidepressivos e eletroconvulsoterapia. Se começarmos a demonizar os antidepressivos, vamos ter uma piora da atenção à saúde mental.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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