Ver uma pessoa tendo crises convulsivas pode ser, para muitas pessoas, algo assustador. No entanto, para lidar com essa situação, é importante manter a calma. A fim de conscientizar a população sobre a doença, o dia 26 de março foi instituído como o Purple Day, Dia Mundial de Conscientização sobre a Epilepsia.
“Além de ser uma data visando à conscientização sobre a doença, o Purple Day é uma oportunidade para combater as injustiças sociais vividas pelas pessoas com epilepsia”, diz a presidente da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE), Maria Alice Mello Susemihl.
A epilepsia é uma doença neurológica crônica que afeta pessoas de todas as idades, mas, na maioria das vezes, manifesta-se na infância e após os 60 anos. Segundo a ABE, estima-se que 1,5% da população mundial tenha epilepsia, percentual que corresponde a cerca de 50 milhões de pessoas portando a forma ativa da doença – termo que se refere a quem teve crise no último ano.
Ainda de acordo com a ABI, cerca de 10% da população mundial poderá ter alguma crise epilética ao longo da vida.
Cerca de 70% dos epiléticos ficam sem crise com o uso de apenas uma medicação. Para os 30% restantes, podem ser necessárias outras medidas, como cirurgia ou uso de neuroestimuladores. “Sempre alertamos para que jamais se interrompa o tratamento, sem que haja supervisão médica”, enfatiza a presidente da ABE.
Crises Convulsivas
A característica mais marcante da doença são as crises convulsivas, que podem ocorrer de forma imprevisível e variada em função de tipos, causas e níveis de gravidade. Em muitas situações, as causas da epilepsia são desconhecidas, mas em geral são decorrentes de acidente vascular cerebral, tumor cerebral, traumatismo craniano ou ferimento na cabeça, infecção do sistema nervoso central (como meningite ou neurocisticercose), abuso de álcool e drogas, má formação cerebral e doenças degenerativas (como demências e Alzheimer).
“Mas [as crises convulsivas] também podem ser causadas por estresse, ansiedade, emoções fortes [preocupação, tristeza, irritação], privação do sono, grandes alterações hormonais, cansaço físico, uso irregular ou suspensão abrupta de medicação ou até mesmo por luzes piscantes”, acrescenta Maria Alice.
As crises acontecem quando um grupo de neurônios envia descargas excessivas a outros, fazendo com que a informação entre as células ocorra de forma anormal e aberrante. “Vale ressaltar que nem toda convulsão é causada por epilepsia e que nem toda epilepsia tem convulsão”, explica a especialista.
Diagnóstico
O diagnóstico da doença “é clínico e deve ser resultante da conversa do médico com a pessoa acometida e um acompanhante que possa dar informações acerca do que ocorre no momento e após a crise”, diz a Associação Brasileira de Epilepsia.
Alterações detectadas por exames complementares (eletroencefalograma, tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética do crânio) podem complementar o diagnóstico.
Tratamento
Segundo a ABE, há diferentes tipos de tratamento, mas o principal é o uso de remédios controladores de crises. Esse tipo de medicação evita a propagação das descargas elétricas anormais do cérebro, que são a origem das crises epiléticas.
“O acompanhamento médico é fundamental para que haja ajuste na dosagem ou troca do medicamento sempre que necessário. Os medicamentos para as crises não têm efeito imediato, portanto, não adianta usar o medicamento só por ocasião das crises”, informa Maria Alice, ao explicar que, para o tratamento dar certo, é fundamental que os remédios sejam tomados “na quantidade e na hora indicada pelo médico”.
O que fazer em situação de crise?
Para informar as pessoas sobre o procedimento adequado diante de uma crise convulsiva, a ABE disponibiliza material informativo como folders, cartazes e vídeos. Geralmente a crise dura alguns minutos, sendo seguida de confusão mental. Caso ocorram várias crises – ou mesmo se houver dúvida sobre a real situação do epilético – ele deve ser levado ao hospital.
Ao detectar que o indivíduo está passando por uma crise, a recomendação é manter a calma para prestar socorro de forma eficiente e adequada. O indivíduo deve ser deitado de lado, com a cabeça elevada e em local plano. Não se deve puxar a língua, nem dar nada para que coma ou beba.
“A pessoa deve ser colocada de lado, com a cabeça elevada para que não sufoque com a saliva. Não tente segurar braços e pernas. Apoie a cabeça sobre algo macio para protegê-la. Não tente abrir a boca. Localize objetos que possam machucar a pessoa e afaste-os. Retire óculos e afrouxe roupas apertadas. Monitore o tempo”, ensina a ABE.
Se a crise durar mais de 5 minutos ou ocorrer de novo, ligue para o Samu (192) e acompanhe a pessoa até que ela acorde. Em caso de ferimentos ou se for a primeira crise na vida, chame o Sqamu, detalha o material disponibilizado pela ABE.
Epilepsia e covid-19
A fim de esclarecer sobre supostas correlações entre a epilepsia e o novo coronavírus (covid-19), a ABE divulgou um vídeo no qual o vice-presidente da entidade, Lécio Figueira, faz alguns alertas. Uma recomendação é que o epilético evitar estresse em decorrência das notícias alarmistas, nem sempre verdadeiras veiculadas sobretudo nas redes sociais.
“Um ponto importante é que as pessoas têm de ter cuidado diante desse contexto todo, porque o estresse é uma das causas de piora das crises epiléticas. Então tomem cuidado com o excesso de informações em redes sociais e na mídia”, diz o médico.
Segundo Figueira, a doença “por si só não reduz a imunidade”. Logo, não seria fator de risco para pegar o novo coronavírus. No entanto, acrescenta o médico, epilepsia não é uma doença só. É um conjunto de doenças.
“Em algumas pessoas, pode haver risco maior. Algumas delas tomam medicações que reduzem a imunidade, como corticoides e outros imunodepressores. Nesses casos, existe risco aumentado de infecção pelo coronavírus. Já os pacientes que, em geral, tomam apenas os remédios usuais para epilepsia, em suas doses habituais e sob acompanhamento, não vão mexer na imunidade”, ressalta Figueira.
Nesses tempos de covid-19, Figueira destaca a importância de continuar tomando os medicamentos conforme prescrito pelo médico. “Até porque, se parar, pode ter crise e ter de ir ao hospital e acabar entrando em contato com pacientes com o novo coronavírus que estejam aguardando atendimento.”
Outro alerta é para evitar estocar medicamentos, por medo de que venham a faltar posteriormente. “Não comprem remédios para estocar porque eles podem acabar faltando para outras pessoas”, diz Figueira.
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