A médica brasileira Mariana Dacorégio faz parte do imenso mutirão de profissionais de saúde na linha de frente do combate ao coronavírus na Itália, o segundo país mais afetado pelo surto, depois da China.
Em entrevista à BBC News Brasil, ela diz acreditar que os italianos “subestimaram” o impacto do alastramento do vírus.
“Agora, estão todos em pânico. Passamos de um extremo ao outro”, afirma Dacorégio, que é médica residente do Hospital Civil de Brescia, uma das cidades da região da Lombardia que esteve isolada por ser um dos focos iniciais do surto.
“O hospital onde trabalho tem capacidade para dois mil leitos. Além da UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), tivemos que converter diversos departamentos, como o de cirurgia, para atendermos casos de coronavírus”, acrescenta.
Dacorégio diz ainda que os profissionais de saúde estão tendo que fazer longas jornadas de trabalho.
“Tivemos que aumentar nossos turnos de trabalho. Os residentes de outras especialidades, que inicialmente tinham sido dispensados para evitar novos contágios, foram chamados de volta para nos ajudar no atendimento de pacientes contagiados pelo covid-19.”
Ela também conta que o surto provocou mudanças não só em sua vida profissional, mas também pessoal. “Desde o fechamento das escolas, eu e meu marido temos tido que nos revezar para ficarmos em casa com nosso bebê de um ano. Não há babás o suficiente e as que estão disponíveis devem cuidar de um número limitado de crianças”, diz.
O refeitório do hospital onde ela trabalha também foi fechado. “Estamos levando o almoço de casa”, conta.
Itália sob quarentenaNa segunda-feira (9/03), o governo italiano anunciou medidas drásticas para a contenção do coronavírus, ao ampliar para todo o país a quarentena que antes se restringia às regiões do norte.
A partir desta terça-feira (10/03), ninguém pode sair de casa sem justificativa médica ou familiar. Escolas e universidades vão permanecer fechadas até o dia 3 de abril.
Quem descumprir as regras, está sujeito a três meses de prisão e multa de 206 euros.
A campanha para que os italianos não saiam de casa está modificando as interações sociais. A população é convidada a evitar lugares públicos e até encontros familiares nos finais de semana.
Além disso, estabelecimentos comerciais de todo o país, como bares e restaurantes, devem garantir uma distância de segurança mínima de um metro entre os clientes, sob pena de fechamento. Muitos bares tem colocado faixas para impedir a aproximação dos clientes ao balcão e utilizado obstáculos para distanciar as mesas.
“Da janela de casa vejo os policiais fazendo rondas constantes para verificar se os clientes do bar estão cumprindo as regras”, diz à BBC News Brasil a brasileira Ana Claudia Gomes Negrão, que mora em Limbiate, nas redondezas de Milão.
(Banda B)
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