Pequenas propriedades de café, laranja, soja, amora e trigo do Vale do Ivaí, Paranapanema e Norte Pioneiro já começam a receber lodo gerado no processo de tratamento de esgoto da Sanepar. A previsão é que a Companhia de Saneamento do Paraná distribua cerca de 2 mil toneladas de lodo nestas regiões.
Um dos beneficiados, o agricultor Rogério Edson Tambarucci, de Lunardelli, município localizado a 25 quilômetros de Ivaiporã, comemorou a chegada do lodo em sua propriedade nesta semana. Ele afirma que os resultados econômicos da aplicação foram visíveis logo na primeira vez em que usou o produto, em 2019, na plantação de laranja do Sítio São Benedito. Na área que recebeu o lodo de esgoto o ganho de eficiência da produção foi de 18%.
Empolgado com este resultado e com a possibilidade de ganhos progressivos ao longo dos anos, além da redução de custos com o preparo do solo, Tambarucci recomenda a adesão de outros agricultores. “Agrega valor. Diminui o custo de produção e a fruta fica com uma qualidade melhor, pelos nutrientes que têm neste produto”, afirma.
Segundo Rogério, o lodo da Sanepar foi recomendado por agrônomo especialista na produção de cítricos e é aplicado também em outra propriedade da família. O sítio dele tem seis alqueires dedicados à produção de laranja, comercializada no Vale do Ivaí e na Região Metropolitana de Curitiba.
QUALIDADE E PRODUTIVIDADE - Resíduo sólido resultante do processo de tratamento de esgoto doméstico, o lodo pode substituir, em parte, adubos químicos. O material é rico em cálcio, magnésio, nitrogênio e fósforo por causa da cal aplicada para higienizar e estabilizá-lo, isto é, torná-lo seguro para manuseio e produção agrícola.
A engenheira agrônoma Sandra Silveira, responsável técnica pelo Programa do Uso Agrícola do Lodo de Esgoto da Sanepar na Região Nordeste, atua no cadastro e orientação do agricultor, analisa os laudos técnicos e faz monitoramento das áreas, observando o correto uso do lodo e do solo.
“Fazemos visitas no campo, analisamos os laudos do solo fornecidos pelo agricultor e também do nosso lodo. O cruzamento destes dados, somando-se às características da propriedade e da cultura, nos permite calcular exatamente como deve ser aplicado o produto”, explica Sandra.
Ela destaca que, além do projeto agronômico, é essencial a capacitação do produtor para o manuseio e a aplicação do lodo. “Seguimos rigorosamente os critérios legais para explicar o que pode e o que não pode ser feito. Desde o primeiro contado, nosso foco é garantir a segurança que envolve todo o processo, do campo à mesa. Temos certeza que, dentro disto, os resultados serão múltiplos”, salienta.
O gerente-geral da Sanepar na Região Nordeste, Rafael Malaguido, destaca também o aspecto social do programa, já que o lodo é distribuído sem custo para o agricultor, com prioridade para os pequenos produtores. “Além disso, o programa traz ganhos ambientais porque dá destino mais nobre para o resíduo das nossas estações de tratamento de esgoto”, afirma.
EXPECTATIVAS – Descendente de poloneses, Cassemiro Naiewski cria bicho-da-seda no Sítio São José, em Arapongas, há 22 anos. Ele tem boas expectativas com a aplicação do lodo de esgoto na produção de amoreira, alimento da lagarta tecedeira.
O lodo entregue pela Sanepar na terça-feira (03) foi pedido por Cassemiro há cerca de dois anos, após observar os resultados registrados pelo vizinho que também cria bicho-da-seda. “A expectativa é grande porque o custo da produção fica muito alto se for comprar os insumos para amora. Com o lodo já vem o calcário junto”, explica.
A família Navarro iniciou a aplicação do lodo de esgoto da Sanepar nesta semana, respeitando o prazo de 15 dias desde o recebimento do lote. O pai Adilson e os filhos Renato e Rodrigo produzem café no Sítio Bom Jesus, no Distrito Pirapó, em Apucarana. “Tivemos indicação da Emater, e os técnicos da Sanepar nos trataram muito bem. Além disto, a gente analisou, pesquisou e constatou que seria ótimo. Estamos na expectativa de que exista melhora na fertilidade do solo e qualidade das plantas”, destaca Adilson.
100% SEGURO – Antes de ir para a agricultura, o lodo de esgoto distribuído pela Sanepar recebe tratamento para eliminar patógenos e torná-lo 100% seguro para o manuseio em campo. Ainda assim, a legislação brasileira restringe o uso para culturas que tenham contato direto com o lodo. É proibido o uso em hortas, tubérculos, raízes, culturas inundadas, bem como em áreas de integração de lavoura, pecuária e floresta, por exemplo.
O técnico agrícola da Emater em Apucarana Marcos Antonio Sanchez tem acompanhado a aplicação do lodo de esgoto da Sanepar na região. “Temos notado um resultado positivo, principalmente na lavoura de café que a gente atende. Estamos junto com a Sanepar, fazendo divulgação do programa porque é um produto seguro, fácil de manusear. É um produto a mais para auxiliar o agricultor”, destaca.
Marcos e a engenheira Sandra Silveira lembram que também há restrições de uso do lodo em áreas próximas a poços, minas e residências.
A segurança do lodo é garantida pelo cumprimento de normas federais como o Decreto nº 4.954, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e a Resolução do Conama 375/06, do Conselho Nacional do Meio Ambiente. No Paraná, a Resolução da Sema nº 021/09 (Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo) estabelece os critérios para uso seguro do lodo de esgoto na agricultura.
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