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Sobreviventes da boate Kiss usam marcas de tragédia para debater traumas

MARILICE DARONCOSANTA MARIA, RS (FOLHAPRESS) – Cicatrizes são marcas que, geralmente, as pessoas procuram esconder. Mas, prestes a completar-se sete anos da segunda maior tragédia no Brasil em número de vítimas em um incêndio, sobreviventes da boate Kiss

Da Redação

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Sobreviventes da boate Kiss usam marcas de tragédia para debater traumas
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Escrito por Da Redação
Publicado em 27.01.2020, 15:08:00 Editado em 27.01.2020, 15:11:48
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MARILICE DARONCOSANTA MARIA, RS (FOLHAPRESS) – Cicatrizes são marcas que, geralmente, as pessoas procuram esconder. Mas, prestes a completar-se sete anos da segunda maior tragédia no Brasil em número de vítimas em um incêndio, sobreviventes da boate Kiss decidiram usar as marcas, não apenas aquelas na pele, mas também as de traumas, para ajudar outras pessoas.

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A campanha “janeiro branco” reuniu seis jovens que conseguiram sobreviver ao incêndio em 27 de janeiro de 2013 para depoimentos em vídeo e uma exposição fotográfica que ressaltam a importância da saúde mental. Todos estavam na boate onde ocorria uma festa universitária em Santa Maria (a 300 km de Porto Alegre).

A alegria tomou ares de tragédia depois que um artefato pirotécnico usado pela banda atingiu a espuma improvisada que foi utilizada no revestimento acústico da boate. Ao queimar, ela liberou cianeto, matando envenenadas 242 pessoas e deixando mais de 600 feridas.

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Uma das protagonistas da campanha é Juciane Bonella, 28. Ela conta que o tratamento psicológico e psiquiátrico há sete anos a ajuda. Primeiro, auxiliou a jovem a passar pela fase de luto pelas quatro amigas que morreram no incêndio.

“Num segundo momento, ajudou a me aceitar com tantas cicatrizes pelo corpo. E, agora, a voltar a ser a Juciane que havia se transformado na ‘menina da Kiss’, como passaram a me chamar nos lugares que frequento” diz a veterinária, que já sofreu mais de vinte intervenções cirúrgicas, pois teve 25% do seu corpo queimado.

A ideia de organizar a campanha partiu da terapeuta ocupacional Kelen Leite Ferreira, 26, que trabalha em um hospital da cidade gaúcha de Pelotas.

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Kelen teve a perna amputada e parte do corpo queimado no incêndio. “Acho que a campanha tem tocado as pessoas. As fotos chamaram a atenção porque as pessoas não sabem como os sobreviventes estão, que ainda temos marcas tão visíveis. Isso sem contar as marcas emocionais, que não são visíveis”.

Apesar de ser projetada para todos que buscam a saúde mental, a campanha também vai ao centro da situação vivida pelas famílias dos mortos após a tragédia.

Muitas passaram a conviver com uma rotina que envolve tratamento de doenças, depressão e suicídio. Ao menos seis pais morreram de síndromes que podem ser relacionadas à perda de seus filhos.

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As imagens registradas pelo fotógrafo Derli Junior são fortes, mas sensíveis. Ele procurou mostrar, que passados sete anos, eles ainda levam consigo marcas físicas e psicológicas.

“Os dias vão se aproximando da data do 27 e a ferida nunca cicatrizou. É como se ela criasse uma casquinha, mas quando chega janeiro, essa casca sai e fica tudo ali de novo”, conta Kelen.

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Além de Kelen e Juciane, participam da campanha os sobreviventes Angélica Sampaio, 27 anos, Cristina Peiter, 30, Delvani Rosso, 27, e Gustavo Cadore, 38.

Em seus depoimentos, eles falam não apenas do tratamento profissional, mas de como o carinho dos amigos e familiares e também a fé os ajuda a seguir em frente.

Os materiais estão sendo publicados no Instagram e no Facebook, na página Kiss que não se repita, criada pelo produtor editorial André Polga.

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Uma exposição com as fotografias está no Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), e a intenção é que seja levada para Santa Maria e Porto Alegre, mas isso ainda depende de recursos, já que todo o trabalho é voluntário.

Cadore, que no dia do incêndio caiu em meio à fumaça, foi pisoteado e teve 40% do corpo queimado, comenta que “no início, quando se passa por algo assim, é bem difícil entender o porquê de as coisas acontecerem.

O apoio das pessoas, diz, ajuda muito a seguir em frente. “Gostaria ao menos de um pedido de desculpas, não somente dos réus do processo, mas de todos que de certa forma tiveram sua parcela de culpa na tragédia. Desculpas principalmente para os pais de vítimas, que são os que mais sofreram e ainda sofrem diante de tudo isso”.

A campanha com os sobreviventes não é a única realizada com o tema da Kiss. Polga organiza um movimento que também envolve amigos e pais de vítimas. A ação se chama Sete anos Boate Kiss – Sem justiça não há futuro.

Ela aborda as perdas, o luto e os tratamentos psicológicos, mas tem como foco a proximidade dos primeiros julgamentos de acusados, marcados para 16 de março.

“As duas campanhas são importantes para mostrarmos que a tragédia da Kiss não pode nem deve ser esquecida e que somente a Justiça pode amenizar essa dor que envolve todos que sofreram perdas com a tragédia”, diz Polga.

Na segunda-feira, 27, uma série de atividades está marcada para homenagear as 242 vítimas da tragédia da boate Kiss.Um dos momentos mais emocionantes, a exemplo do que se repetiu nos outros seis anos na cidade, é uma vigília, em frente ao local do incêndio, com palmas para os mortos e abraços aos sobreviventes e familiares, durante a madrugada.

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