Criar um comitê permanente em defesa da Petrobrás, dos empregos e da arrecadação que a empresa estatal gera. Esta foi a conclusão apresentada pelo deputado Requião Filho (MDB) ao final da audiência pública “As Consequências da saída da Petrobras no estado do Paraná”, no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), na manhã desta segunda-feira (11). O evento reuniu centenas de petroleiros e lideranças sindicais que acompanharam os argumentos de especialistas sobre o impacto da venda de ativos da empresa, especificamente no estado: uma refinaria e uma fábrica de fertilizantes nitrogenados, em Araucária; e uma unidade de industrialização do xisto, em São Mateus do Sul.
“O comitê contra a venda das refinarias apresentará ao governo federal, estadual e aos deputados as perdas que estas vendas podem significar, como a da arrecadação do ICMS, de empregos e mesmo a nossa importância no cenário geopolítico”, explicou Requião Filho, parlamentar que propôs a realização do encontro. “É importante defender a Petrobras no Paraná, é o único caminho, da soberania nacional. É um péssimo negócio para o estado que a empresa seja privatizada. Do comitê devem fazer parte petroleiros, deputados estaduais e federais e queremos também a participação de sindicatos de várias áreas”, afirmou.
De acordo com o ex-senador Roberto Requião, exemplos como da China, que descentralizou a operação, mas mantém o planejamento de seu patrimônio mineral centralizado, poderia ser usado como modelo de desenvolvimento para a exploração do petróleo brasileiro. “A China não é um absurdo estatal, empata com os Estados Unidos como maior potencia do mundo”, explicou. Ainda segundo ele, 80% das reservas mundiais do produto são exploradas por empresas estatais. “E nós estamos dizendo que não pode ser estatal. O governo está vendendo e quem compra são estatais francesas, chinesas ou japonesas”, disse.
“Sobre as nossas refinarias paranaenses de xisto, dizem que não são tão lucrativas quanto às do pré-sal, que tem um óleo de melhor qualidade com um custo menor. Não se trata disto e sim de uma perspectiva estratégica, não do lucro imediato. É a história do desenvolvimento do país que está sendo comprometida”, afirmou Roberto Requião. Os deputados Tadeu Veneri (PT), Professor Lemos (PT) e Arilson Chiorato (PT), Luciana Rafagnin (PT) e o deputado federal Aliel Machado (PSB) manifestaram disposição em trabalhar pela criação de um comitê que reúna segmentos da cadeia produtiva pela manutenção dos empregos na estatal no Paraná.
Participaram da audiência: representantes do Sindicato dos Petroquímicos do Paraná; de Associação dos Engenheiros da Petrobrás do Rio de Janeiro; do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep); e do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina.
Venda - A geóloga conselheira da Associação dos Engenheiros da Petrobras do Rio de Janeiro, Ana Patrícia Cavalcanti de Castro Laier, palestrou sobre a privatização fatiada da empresa. Ela citou as etapas de venda iniciadas no governo do ex-presidente Michel Temer, com a venda das distribuidoras de gás nos estados e continuada com o leilão do primeiro campo do pré-sal, de Carcará, à época, segundo ela, considerada uma acumulação de petróleo “com excelente potencial. Preparou e vendeu a malha de gasodutos e venda da BR. Além disso, se anunciam as vendas de oito de nossas treze refinarias nacionais. Atacam nossa exploração e produção e continuam as vendas dos campos de petróleo, disfarçadas em parcerias que são estratégicas para multinacionais”, explicou.
Para Paulo César Ribeiro Lima, PHD em engenharia na área do petróleo e especialista em minas e energia, a privatização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), de Araucária, não é um bom negócio. “Temos um monopólio regional estatal de baixíssimo custo. O custo da matéria prima da Petrobras na Repar é baixo, com margem de venda da produção, como diesel e gasolina, alta. A privatização da Repar e do parque de refino fará o custo do produto vendido subir, porque a matéria prima comprada pela empresa privada será cara, porque a única empresa capaz de entregar petróleo a ela será a Petrobras, nacionalmente, ou importado de outras empresas, privadas ou estatais”, explicou.
A pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Carla Ferreira, falou dos impactos da privatização da Repar e da Unidade de Industrialização do Xisto (SIX) nas contas públicas regionais. “A Petrobras contribui com mais de 4% da arrecadação total do estado, emprego e consumo”, afirmou. O presidente do Sindicato dos Petroquímicos do Paraná, Santiago da Silva Santos, falou das fabricas de fertilizantes e dos riscos dos acidentes ampliados nos processos de privatização.
O presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina, Mário Dalzot, palestrou sobre os riscos nos processos de venda aos trabalhadores, empresas e municípios. O presidente da Central única dos Trabalhadores do Paraná (CUT/PR), Macio Keller, também defendeu a luta contra a privatização das empresas paranaenses da Petrobras.
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