DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - Um acordo anunciado nesta quarta-feira (10) pode reinstaurar o ex-presidente regional Carles Puigdemont no comando da Catalunha. Ele está foragido em Bruxelas para escapar de acusações do Estado espanhol, incluindo a de rebelião.
A sigla representada por Puigdemont, o Juntos pela Catalunha, travou um acordo com a Esquerda Republicana para reelegê-lo no Parlamento local como líder da comunidade autônoma.
Somadas, as duas siglas detêm 66 cadeiras na Casa de 135 deputados. A coalizão precisa do apoio da CUP (Candidatura de Unidade Popular), de extrema esquerda, que possui 4 assentos. Como essas forças têm um objetivo em comum, a independência, é provável que se aliem.
O acordo para formar um governo, porém, depende dos prognósticos de viabilidade da nova administração. O Parlamento resultante das eleições regionais de 21 de dezembro deve ser formalmente constituído em 17 de janeiro. Para se tornar presidente, Puigdemont precisa fazer um discurso de posse.
Separatistas trabalham com duas soluções: que o discurso seja feito a distância -por exemplo, via Skype- ou que seja delegado a outro deputado. Por serem incomuns, os planos ainda estão em debate. A posse a distância pode ser vista como ilegal.
O Partido Popular, que governa a Espanha, deve recorrer ao Tribunal Constitucional caso o Parlamento catalão se decida por uma posse via videoconferência.
Acusado de crimes como rebelião e sublevação, Puigdemont provavelmente seria detido ao pisar em Barcelona, caso voltasse. Ele descartou a opção na terça-feira (9), dizendo que por ora "não é possível retornar à Catalunha".
ALTERNATIVA
Uma alternativa a seu nome é o de Oriol Junqueras, da Esquerda Republicana. Mas ele está detido por acusações semelhantes e tampouco poderá assumir facilmente o cargo.
Enquanto se mobiliza para formar um governo, o separatismo catalão tem acumulado desafios judiciais. O mais recente surgiu na quarta-feira com o anúncio de que um juiz encontrou indícios de um desvio de quase R$ 12 milhões para a campanha de independência da região.
Segundo o jornal espanhol "El País", o juiz Juan Antonio Ramírez Suñer identificou registros contábeis que atestam que a frente separatista desviou o dinheiro de um fundo do governo central.
As provas estão, diz o diário, nas 30 caixas de documentos que a polícia regional catalã -conhecida como Mossos d'Esquadra- tentou levar a uma incineradora. Esses papéis foram interceptados pela polícia nacional em 26 de outubro, a pedido de uma juíza de Madri.
De acordo com a publicação espanhola, o valor foi desviado de um fundo destinado por Madri para a região lidar com os efeitos da crise econômica. Seu uso para financiar o movimento separatista é ilícito, segundo as primeiras avaliações feitas pelos investigadores.
O acúmulo de acusações contra os líderes separatistas aponta para um futuro instável na Catalunha, que em 1° de outubro votou em um plebiscito sobre sua independência. A consulta contou com a participação de 43% do eleitorado e teve 90% de votos pelo "sim".
Com base nesse resultado -considerado ilegal por Madri-, o Parlamento regional catalão declarou sua independência de maneira unilateral em 27 de outubro. O governo central, por sua vez, dissolveu a administração catalã e convocou eleições antecipadas para dezembro.
O cálculo do primeiro-ministro espanhol, o conservador Mariano Rajoy, era de que a população votaria em partidos contrários à independência, como o centrista Cidadãos. Os separatistas, porém, conseguiram somar a maioria necessária de assentos para governar.
A incerteza sobre o futuro da Catalunha tem afugentado empresas da região. Nos três meses seguintes ao plebiscito, mais de 3.000 firmas retiraram dali suas sedes fiscais.
Nesse mesmo sentido, a Organização Mundial do Turismo afirmou na quarta-feira que houve uma queda de até 20% no turismo à Catalunha durante o último trimestre de 2017.
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