DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - Um acordo político anunciado nesta quarta-feira (10) pode devolver o ex-presidente catalão Carles Puigdemont ao comando da região, criando um cenário complicado, uma vez que ele está foragido em Bruxelas para escapar de acusações feitas por Madri.
A sigla representada por Puigdemont, o Juntos pela Catalunha, entrou em acordo com a aliada Esquerda Republicana para aprová-lo no Parlamento catalão como presidente regional.
O acordo, porém, depende de sua viabilidade. O Parlamento resultante das eleições regionais de 21 de dezembro deve ser formalmente constituído em 17 de janeiro. Para se tornar presidente, Puigdemont precisa fazer um discurso de posse.
Separatistas trabalham com duas soluções: que o discurso seja feito a distância -por exemplo, por Skype- ou que seja delegado a outro deputado. Por serem incomuns, os planos ainda estão em debate. A posse via Skype, por exemplo, pode ser considerada ilegal.
Acusado por crimes como rebelião e sublevação, Puigdemont provavelmente será detido imediatamente caso volte a Barcelona. Ele descartou a opção durante um discurso por videoconferência na terça-feira (9), dizendo que por ora "não é possível retornar à Catalunha".
Uma alternativa a seu nome é o de Oriol Junqueras, da Esquerda Republicana. Mas ele está detido por acusações semelhantes e tampouco poderá assumir facilmente o cargo.
DESVIO
Enquanto se mobiliza para formar seu próximo governo, o separatismo catalão tem acumulado desafios judiciais. O mais recente surgiu na quarta-feira (10), com o anúncio de que um juiz encontrou indícios de um desvio de 3 milhões de euros (R$ 12 milhões) de verbas públicas para a campanha de independência.
Segundo o jornal espanhol "El País", o juiz Juan Antonio Ramírez Suñer identificou registros contábeis de que o processo separatista desviou o dinheiro de um fundo do governo central.
As provas estão, diz o diário, nas 30 caixas de documentos que a polícia regional catalã -chamada de Mossos d'Esquadra- tentou levar a uma incineradora. Esses papéis foram interceptados pela polícia nacional em 26 de outubro, a pedido de uma juíza de Madri.
De acordo com a publicação de Madri, o valor foi desviado de um fundo destinado pelo governo central às regiões do país para lidar com a crise financeira. O uso para financiar o movimento separatista é ilícito, nas primeiras avaliações dos investigadores.
O acúmulo de acusações contra os líderes separatistas aponta para um futuro instável na Catalunha, que em 1° de outubro votou em um plebiscito sobre a independência. A consulta contou com a participação de 43% do eleitorado e teve 90% dos votos no "sim".
Com base nesse resultado -considerado ilegal por Madri- o Parlamento regional catalão declarou sua independência de maneira unilateral em 27 de outubro. O governo central, por sua vez, dissolveu a administração catalã e convocou eleições antecipadas para dezembro.
O cálculo do primeiro-ministro espanhol, o conservador Mariano Rajoy, era de que a população votaria em partidos contrários à independência. Separatistas, no entanto, conseguiram somar a maioria necessária de assentos -terão 70 deles, em uma Casa de 135.
A incerteza sobre o futuro da Catalunha tem afugentado empresas da região. Nos três meses seguintes ao plebiscito, mais de 3.000 firmas retiraram dali as suas sedes fiscais.
Nesse mesmo sentido, a Organização Mundial do Turismo afirmou na quarta-feira que houve uma queda de até 20% no turismo à Catalunha durante o último trimestre de 2017 devido à instabilidade política.
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