SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Coreia do Norte anunciou nesta terça (9) que enviará uma delegação à Olimpíada de Inverno de Pyeongchang, na Coreia do Sul, em fevereiro, mas descartou debater seu programa nuclear.
As decisões foram tomadas após a primeira reunião entre representantes dos dois países em mais de dois anos.
Para facilitar a participação norte-coreana no evento, a Coreia do Sul anunciou que estuda suspender temporariamente parte das sanções que impôs contra a ditadura de Kim Jong-un e que vai pedir à ONU e a países aliados -como EUA e Japão- o mesmo.
O vice-ministro Chun Hae-sung, responsável sul-coreano pelas negociações com o vizinho, disse que Seul pediu uma nova rodada de conversas para reduzir a tensão na península, além da retomada das negociações sobre os testes de mísseis e o programa nuclear norte-coreano.
Após o fim da reunião, porém, os representantes norte-coreanos disseram que não pretendem debater a questão com seus "irmãos" sul-coreanos, apenas com Washington. "Todas as nossas armas, incluindo bombas atômicas, bombas de hidrogênio e mísseis balísticos têm como alvo apenas os EUA, e não nossos irmãos, a China ou a Rússia", disse o chefe da delegação norte-coreana, Ri Son-gwon.
A Coreia do Norte fez uma reclamação formal por seu vizinho ter introduzido o tema nuclear no debate, mas abriu espaço para nova rodada.
Em comunicado conjunto após o encontro, que durou 11 horas, os dois lados defenderam a manutenção do diálogo para debater problemas em comum e diminuir as tensões na península. Também concordaram em restabelecer a linha direta para assuntos militares, que deve voltar a funcionar nesta quarta (10).
PATINADORES
No documento, Pyongyang também se compromete oficialmente a mandar uma delegação para a Olimpíada que começa no próximo mês.
A Coreia do Norte tem dois atletas classificados para a competição, os patinadores Ryom Tae-ok e Kim Ju-sik.
Seul propôs que os atletas dos dois países marchem juntos durante a cerimônia de abertura, algo que ocorreu nas Olimpíadas de Sidney-2000 e Atenas-2004, mas não acontece desde 2007.
Os sul-coreanos também querem realizar uma série de reencontros entre famílias divididas pela Guerra da Coreia (1950-53) no Ano Novo lunar, que ocorre durante os Jogos.
A Coreia do Norte afirmou que sua delegação terá militares de alta patente, atletas e um grupo de torcedores.
Na única vez que a Coreia do Sul recebeu os Jogos Olímpicos, em 1988, o Norte boicotou o evento e plantou uma bomba em um avião sul-coreano, matando as 115 pessoas a bordo (leia ao lado).
O encontro desta terça, o primeiro desde dezembro de 2015, ocorreu na vila de Panmunjom, dentro da zona desmilitarizada entre os dois países. A reunião começou às 10h locais (23h de segunda em Brasília) na Casa da Paz, uma construção de três andares que costuma ser usada para as conversas entre as duas Coreias. Cada país mandou cinco representantes.
"Viemos com o objetivo de dar aos nossos irmãos, que têm altas expectativas, um resultado inestimável como o primeiro presente do ano", disse Ri, chefe da delegação norte-coreana.
Do lado sul-coreano, 20 pessoas se reuniram fora da zona desmilitarizada com faixas de boa sorte e bandeiras com a península unificada.
Chun, que chefiou a delegação sul-coreana, disse que os dois países trabalham para entregar um "bom presente" para suas populações.
"As conversas começaram após o Norte e o Sul se distanciarem por um longo período, mas eu acredito que dar o primeiro passo é metade do caminho", afirmou ele.
O encontro desta terça foi proposto por Seul logo após o ditador Kim Jong-un expressar em seu discurso de Ano Novo a intenção de permitir que os atletas norte-coreanos participassem da Olimpíada.
A Coreia do Sul no dia 2 fez o convite para o diálogo formal. No dia seguinte, representantes dos dois lados se falaram por telefone. Na sexta (5), Pyongyang aceitou o encontro, logo após Seul e Washington adiarem um exercício militar conjunto.
A Casa Branca disse nesta terça que esta "é uma oportunidade para o regime perceber a importância de interromper seu isolamento internacional iniciando a desnuclearização". China e Rússia também elogiaram o diálogo.
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