ESTELITA HASS CARAZZAI
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O polêmico Steve Bannon era uma espécie de guru da nova direita americana. Na Casa Branca, apesar de rixas internas, foi um dos aliados mais próximos do presidente Donald Trump e ajudou a forjar a política nacionalista de "América em primeiro lugar". Até que suas críticas ferozes ao presidente republicano vieram a público.
Em um novo livro sobre a Casa Branca, escrito pelo jornalista Michael Wolff e lançado nesta sexta (5), Bannon avalia que as chances de Trump não terminar o mandato são de duas em três. Disse que membros da campanha tomaram atitudes "antipatrióticas". E afirmou que Trump "perdeu" a mão.
Foi assim que o ex-estrategista-chefe da Casa Branca virou o "Steve descuidado" ("Sloppy Steve"), como o apelidou Trump nas redes sociais. "Perdeu a cabeça", segundo o presidente. E passou a perder também o apoio de financiadores e correr o risco de isolamento político.
Nesta quinta (4), a família Mercer, uma das principais financiadoras de Trump e do site de notícias Breibart, do qual Bannon é editor, soltou uma nota criticando o ex-assessor, dizendo que "não apoia suas recentes ações e comentários".
Seu cargo no Breitbart está sob ameaça, segundo a imprensa americana, já que seus diretores temem perder apoio financeiro. E a Casa Branca cortou seu nome da lista de acesso para eventos sociais, afirmou a porta-voz Sarah Sanders.
O rompimento de Trump com seu ex-assessor tende a aumentar o isolamento de Bannon -em especial no momento em que o presidente consegue uma trégua com o Partido Republicano, ao aprovar, no final do ano, a reforma tributária.
Alguns aliados do presidente expressaram preocupação com o fato de que Bannon não desmentiu as declarações. "A primeira coisa que ele deveria ter feito era negar", afirmou Sean Spicer, ex-porta-voz da Casa Branca sob Trump.
REAÇÃO
Depois que suas declarações a Wolff vieram a público, Bannon procurou contemporizar. Disse que considera Trump "um grande homem" e que o suposto distanciamento entre ele e o presidente era exacerbado pela mídia "de esquerda".
"Nunca haverá nada entre mim e o presidente. Não se preocupem", disse Bannon em um programa de rádio, na quinta (4). "Estamos unidos como sempre estivemos."
Mas, no livro, seu posicionamento está longe de ser brando. "Ele [Trump] não vai conseguir", disse a aliados, sobre um eventual segundo mandato do republicano.
Segundo o livro, Bannon considera ainda que a investigação do FBI sobre a interferência russa na eleição de 2016 tem "33,3% de chances de levar ao impeachment" de Trump e outros 33,3% de provocar sua renúncia.
Bannon foi um dos principais interlocutores de Wolff durante a pesquisa para a obra. Segundo a porta-voz do governo, 95% dos acessos franqueados ao jornalista na Casa Branca foram autorizados pelo ex-estrategista.
Talvez por isso, Wolff retrata uma Casa Branca sob grande influência do ex-assessor, que aproveitou o despreparo de Trump para avançar sua agenda antirregulatória, anti-islâmica e nacionalista.
O atual distanciamento entre o presidente e seu ex-assessor fica cada vez mais evidente. Trump já notificou Bannon sobre "iminentes" ações judiciais, em razão da quebra de acordos de confidencialidade com a Casa Branca.
Na manhã desta sexta (5), quando o livro de Wolff foi finalmente lançado, Trump tuitou duas vezes críticas a Bannon, a quem chamou de "vazador". "A família Mercer abandonou o vazador conhecido como Steve Descuidado Bannon. Esperta!", afirmou o presidente.
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