BRUNO BOGHOSSIAN
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro Aloysio Nunes (Relações Exteriores) disse à Folha de S.Paulo que a ideia de realizar uma intervenção militar estrangeira na Venezuela para solucionar a crise do país é "pura e simplesmente um delírio".
O chanceler fez uma crítica dura à ideia e descartou a participação do Brasil em qualquer ação dessa natureza.
"Nem o surrealismo mais delirante poderia imaginar que o Conselho de Segurança das Nações Unidas, com a Rússia e a China, vai aprovar uma intervenção na Venezuela", afirmou.
Segundo o ministro, "por mais que esse cenário surrealista se concretize", não existe hipótese de o governo brasileiro enviar tropas para participar da ação.
Aloysio Nunes disse que o debate, iniciado em artigo do ex-ministro venezuelano Ricardo Hausmann publicado pela na Folha de S.Paulo, beneficia o regime do ditador Nicolás Maduro e prejudica a busca pelo fim da crise institucional no país.
"[O debate] só ajuda Maduro e os setores mais radicais e mais refratários a qualquer tipo de negociação no regime venezuelano", declarou.
O ministro criticou a proposta de Hausmann, que foi ministro do Planejamento da Venezuela em 1992 e 1993, antes do primeiro governo de Hugo Chávez.
"É uma maravilha para essa gente [partidários de Maduro] que alguém, especialmente vindo do regime pré-Chávez, diga que é preciso mobilizar uma força militar para derrubar Maduro. É sopa no mel."
'DETERIORAÇÃO'
O chanceler brasileiro se disse cético em relação às negociações para superar a crise na Venezuela, mas afirmou que haverá mudanças no país.
"Aquilo vai continuar, vai haver a deterioração. Pode durar mais tempo ou menos tempo, mas não tenho dúvida de que haverá mudanças. E não será a partir da intervenção de uma força internacional", afirmou.
Aloysio Nunes disse também que não há previsão de retorno do embaixador brasileiro a Caracas, depois que o governo venezuelano ordenou a expulsão do diplomata, em 23 de dezembro.
Em retaliação, o Brasil declarou "persona non grata" o encarregado de negócios da Venezuela, Gerardo Antonio Delgado Maldonado.
"Eles tomaram a iniciativa e nós tomamos a iniciativa recíproca. Continuamos com relação diplomática com a Venezuela, mas agora voltamos ao nível político anterior à ida do nosso embaixador", declarou.
O ministro destacou que o Brasil mantém um encarregado de negócios à frente da embaixada brasileira na Venezuela e que o consulado continua aberto para assistência aos brasileiros que vivem no país.
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