SYLVIA COLOMBO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - O ex-presidente peruano Alberto Fujimori (1990-2000) agradeceu o indulto concedido pelo atual mandatário, Pedro Pablo Kuczynski, por meio de uma mensagem difundida em vídeo nesta terça-feira (26), nas redes sociais.
"A notícia do indulto humanitário que me outorgou PPK [como é conhecido o atual presidente] me surpreendeu nesta unidade de cuidados intensivos. Como entenderão, isso me produziu um forte impacto, e tenho sentimentos misturados de extrema alegria e pesar", afirmou.
Depois, explicou que "reconhece" que muitos compatriotas tenham se sentido traídos. "A eles peço desculpas", disse. E acrescentou que o passo dado por PPK é "complexo" e que se compromete a ajudar no "chamado à reconciliação" do país, feito por PPK em uma intervenção em cadeia nacional na noite de segunda-feira (25).
O mal-estar entre antifujimoristas que vinham apoiando PPK apenas sob a promessa de o presidente jamais conceder indulto a Fujimori, condenado a 25 anos de prisão por abuso de direitos humanos e corrupção, cresceu nos últimos dias.
Já são três os deputados da diminuta bancada governista, o Peruanos Por el Kambio, que retiraram seu apoio ao presidente: Alberto De Belaunde, Vicente Zeballos e Gino Costa, que vinha sendo um ardente defensor do presidente e um dos porta-vozes na defesa da derrubada do pedido de vacância do cargo, no último dia 21.
"Respeito a prerrogativa do presidente de conceder o indulto humanitário, mas não concordo com a maneira como foi feito. Lamento ter de anunciar que, nos próximos dias, vou formalizar minha saída do partido Peruanos Por el Kambio", disse Costa em suas contas em redes sociais.
GABINETE
A saída dos três congressistas reduz a base de apoio de PPK no Congresso a 15 deputados, perdendo também o pouco apoio que tinha entre as duas agrupações de esquerda que antes compunham a Frente Ampla --de 20 deputados, 10 permaneceram na nova Frente Ampla e 10 compõem agora o Novo Peru, sob a liderança da ex-candidata presidencial Verónika Mendoza, terceira colocada nas eleições de 2016.
PPK anunciou que haverá reuniões com ministros nos próximos dias e algumas mudanças devem ocorrer. Afinal, muitos haviam se posicionado contra o indulto, e o presidente havia se mostrado irritado com outros, que não o apoiaram em sua decisão.
Seu chamado em rede nacional foi o de compor um gabinete mais variado, incluindo outras forças políticas.
A situação de PPK, embora frágil, conta agora também com uma esquerda e um fujimorismo divididos.
Trata-se de um Congresso em que já ninguém tem maioria: o fujimorismo tinha o controle até 21 de dezembro, até que nove deputados desobedeceram a presidente do partido, Keiko Fujimori, e votaram pela abstenção a pedido do irmão desta, Kenji, também deputado. Assessores do presidente vêm aconselhando-o a aproveitar essa oportunidade e distribuir cargos no gabinete buscando um governo de coalizão.
O advogado que defendeu PPK no Congresso contra a acusação de envolvimento no escândalo de corrupção da construtora brasileira Odebrecht, Alberto Borea, também disse não concordar com o indulto. "Como vocês, eu me surpreendi com a notícia. Sempre lutei e continuarei lutando contra a ditadura", disse Borea, afirmando que abandonaria a defesa do presidente no caso.
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