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'Dá vontade de dar um tiro na cabeça', diz Bernardo Paz sobre acusações

RUBENS VALENTE, ENVIADO ESPECIAL BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Junho de 2015. Com longos cabelos brancos, gesticulando muito e às vezes batendo o dedo na mesa, o empresário Bernardo de Mello Paz, criador do museu do Inhotim, presta depoimento à juíza

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 14.12.2017, 03:05:00 Editado em 14.12.2017, 03:05:09
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RUBENS VALENTE, ENVIADO ESPECIAL

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BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Junho de 2015. Com longos cabelos brancos, gesticulando muito e às vezes batendo o dedo na mesa, o empresário Bernardo de Mello Paz, criador do museu do Inhotim, presta depoimento à juíza federal Camila Velano que, dois anos depois, iria condená-lo por lavagem de dinheiro.

Como mostra o vídeo de 54 minutos do interrogatório obtido pela reportagem, Paz se defendeu energicamente da acusação feita pelo Ministério Público Federal. Disse passar por maus momentos. Tomava tranquilizantes, havia "desmaiado" no dia anterior, vivia "no cheque especial" e se dizia desiludido com o país e indignado com a acusação.

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"Nesses últimos dois anos, eu tive fiscalização de ponto a ponto da Receita Federal e não pegaram nada. Eu tive intervenção do Ministério Público Estadual de seis meses lá dentro. Eu sofrendo o diabo, e não pegaram nada. E depois sou acusado de lavagem de dinheiro e uma série de coisas. Aí, cara, dá vontade de dar um tiro na cabeça, porque ser brasileiro nesse país não vale a pena", desabafou.

O empresário comentou sua vida atribulada. "Eu vejo a minha vida ter passado como um vento. Não posso nem escrever aquele [livro] 'Confesso que Vivi', porque eu não vivi. Passei pela vida. Tive seis mulheres, que saíram fora de mim porque eu passava 24 horas por dia trabalhando."

BOTEQUIM

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A juíza descreveu as principais acusações do Ministério Público e pediu que Paz apresentasse sua defesa.

Ele começou a contar a longa história da criação do Inhotim —"preciso contextualizar a situação para não parecer um bandidinho de botequim", justificou—, mas foi interrompido pela juíza.

"Adoraria conhecer a história do Inhotim", disse ela, mas o instou a se ater aos termos da denúncia, para que sua defesa não ficasse prejudicada.

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A juíza pediu detalhes de saques e movimentações financeiras das empresas de Paz.

"Eu não tinha a menor condição de saber o que estaria acontecendo com os pagamentos de todas as empresas, não tenho a menor possibilidade", respondeu.

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Segundo ele, seu grupo de empresas chegou a movimentar "R$ 3 bilhões, R$ 2 bilhões". "Minha vida, em termos financeiros, é uma bagunça", disse. "Eu só sei que eu não gasto nada porque eu moro dentro de Inhotim e ali eu trabalho e ali eu como."

Paz reconheceu que tinha dificuldades para explicar qual o papel que cada empresa representava no seu grupo empresarial e como os recursos transitavam entre as contas. Ele disse que chegou a ter 29 empresas em seu nome.

"A BMP funciona como holding. Os recursos atravessavam de uma empresa para outra, entendeu? O problema é esse, eu não consigo explicar essas coisas. Olha, eu não tenho um tostão, não tenho nem aqui nem lá fora. Pode olhar toda a minha vida. Eu sou um cara que luto por ideal, eu quero deixar um legado."

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Para os crimes de lavagem de dinheiro, a legislação exige que o Ministério Público aponte qual infração penal teria dado origem ao dinheiro que depois foi "lavado" no sistema financeiro.

No caso de Paz, o procurador Carlos Alexandre Menezes apontou o suposto crime de sonegação. A leitura dessa imputação, pela juíza, deixou o empresário exaltado. Ele reconheceu as dívidas das empresas, mas não que os valores tenham sido sonegados.

"Sonegação? Não tem uma sonegação fiscal! É tudo escriturado e contabilizado. Eu nunca permiti que isso acontecesse. Eu nunca fui criminoso e não queria que me tachassem disso um dia. Foi tudo registrado e contabilizado. Eu vou pagar tudo."

Ao final, a juíza perguntou se Paz queria "falar mais alguma coisa em relação aos fatos em sua defesa".

"Eu vou dizer à senhora. Hoje cuido de uma orquestra de crianças, 180 crianças, de 200 mil crianças de periferia, de 180 mil pessoas simples de comunidades ao redor, [...] cuido de todos os quilombolas, seis quilombolas, da região, e vejo nos olhos deles, na cara deles, a felicidade."

"Da vida a gente não leva nada, não leva dinheiro, não leva nada. [...] Eu estou vivendo assim para o outro ser feliz. Igual ontem, estava lá o pessoal da Academia Brasileira de Letras, quatro deles lá, e disseram, 'Bernardo, o que você construiu aqui nos dá orgulho de ser brasileiro'. Essas palavras me animam a continuar, mas não me trazem nenhuma felicidade."

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