MARCELO TOLEDO
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal deflagrou nesta quarta (6) a operação Esperança Equilibrista, que investiga o suposto desvio de recursos públicos na construção de uma obra executada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Reitor e vice da instituição foram levados para prestar depoimento em Belo Horizonte.
De acordo com a PF, o alvo é a construção e implantação do Memorial da Anistia Política do Brasil, obra paga pelo Ministério da Justiça e executada pela universidade.
Além do reitor, Jaime Arturo Ramirez, e da vice-reitora, Sandra Regina Goulart Almeida, também foram alvos de condução coercitiva o presidente da Fundep (Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa), Alfredo Gontijo de Oliveira, e as ex-vice-reitoras Rocksane de Carvalho Norton e Heloisa Gurgel Starling, além de servidoras. Eles saíram sem dar entrevistas.
A reportagem questionou a PF sobre o que pesava contra as pessoas conduzidas, mas não houve resposta até as 20h30 desta quarta (6).
Todos foram defendidos por entidades acadêmicas e sindicatos, que criticaram a ação da PF, fizeram atos e a compararam à operação realizada em SC -o ex-reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo se matou após ter sido detido com outras seis pessoas numa ação da PF que apura supostos desvios de recursos.
No caso da UFMG, de acordo com a polícia, foram gastos mais de R$ 19 milhões e, do total repassado à universidade, R$ 4 milhões teriam sido desviados por meio de fraudes em pagamentos feitos pela Fundep. A fundação foi contratada para pesquisas de conteúdo e produção de material para a exposição.
Idealizado há nove anos, o projeto do memorial tem como objetivo preservar e difundir a memória política dos períodos de repressão, a partir da reforma do chamado Coleginho, onde seria instalada exposição com obras e materiais históricos. O local teria ainda dois prédios anexos e uma praça de convivência.
Só que, até agora, segundo a PF, apenas os anexos estão "aparentes", ainda inacabados. Conforme a PF, os desvios teriam ocorrido por meio de pagamentos a fornecedores sem elo com o projeto e de bolsas de estágio e extensão.
A operação, desencadeada com apoio da CGU (Controladoria-Geral da União) e do TCU (Tribunal de Contas da União), recebeu o nome de Esperança Equilibrista em alusão à música "O Bêbado e a Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc. Foram cumpridos oito mandados judiciais de condução coercitiva e 11 de busca e apreensão.
A professora da USP Lilia Moritz Schwarcz, coautora de livro com Heloisa Starling, criticou a ação. "Levar coercitivamente uma pessoa que nunca se recusa ou se recusou a ajudar e colaborar é um atentado aos nossos direitos civis."
A UFMG informou, por meio de sua assessoria, que não pode se manifestar sobre os fatos que motivam a investigação por ela tramitar em sigilo. "Entretanto, dada a transparência com que lida com as questões de natureza institucional, a UFMG torna público que contribuirá, como é sua tradição, para a correta, rápida e efetiva apuração do caso específico", diz trecho da nota da universidade.
Em protesto, professores e servidores gritaram: "Jogaram a trajetória dessas pessoas na lama" e "Não queremos que Minas Gerais seja uma segunda Santa Catarina".
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