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Corpos pesam em retrato da velhice em 'Lamparina da Aurora'

INÁCIO ARAUJO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Frederico Machado é um cineasta surpreendente por mais de um motivo. O primeiro é ter uma ligação com o cinema no Maranhão, sem nunca ter abandonado seu local de origem e procurado lugares onde seria mais fácil s

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 30.11.2017, 19:30:00 Editado em 30.11.2017, 19:30:06
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INÁCIO ARAUJO

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Frederico Machado é um cineasta surpreendente por mais de um motivo. O primeiro é ter uma ligação com o cinema no Maranhão, sem nunca ter abandonado seu local de origem e procurado lugares onde seria mais fácil se afirmar cineasta.

Em São Luís mesmo instalou e dirigiu uma bem-sucedida distribuidora de DVD, a Lume, que transformou tempos depois em produtora.

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"Lamparina da Aurora" é seu terceiro filme, feito sempre com a mesma estrutura: um número restrito de técnicos e atores locais. Quem, no entanto, esperar por um cinema precário pode se surpreender: é de outra natureza seu trabalho.

Dito isso, é preciso dizer que "Lamparina" é, de seus filmes, o que menos me interessou. Machado prossegue na busca de um cinema "da alma". Existe algo de Tarkovski ali, de outros cineastas essencialistas.

Por isso mesmo me agradam seus dois filmes anteriores, "O Exercício do Caos" e "O Signo das Tetas". No primeiro, em especial, o caráter místico é compensado pela presença da natureza, da água, dos corpos jovens. Havia algo de Matisse, talvez de um Gauguin que usasse cores suaves. Talvez a comparação não faça sentido, o certo é que as imagens eram atraentes por nos levarem a um Maranhão a um tempo inédito (pelas imagens) e familiar (pela luz).

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Em "Lamparina" os corpos pesam. É como se o homem fosse o apêndice indesejável (mais que isso: insuportável) da alma. Como diz um dos poemas de seu pai (que serviram de inspiração ao filme), "sei que no alto uma Lua renasce sempre em Lu/ porém em mim o dia se apaga/ e desce à Terra na órbita dos meus olhos").

Não é difícil reconhecer ai uma condenação da existência que o poema encaminha mais para o setor "vencidos da vida", enquanto o filme dedica-se, de certa forma, à decomposição do corpo.

Estamos aqui quase sempre diante da velhice, não como estágio da vida, mas como uma espécie de condenação. Será este o "triste bronze" a que se refere outro momento do texto lido?

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Sabe-se que este é um filme dedicado por Frederico ao pai. Uma espécie de dívida familiar a resgatar. Está feito. A vantagem é que se pode esperar o próximo com alma mais leve: mais Sousândrade e menos Urais, mais I-Juca Pirama e menos Cáucaso.

LAMPARINA DA AURORA

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Direção: Frederico Machado

Elenco: Buda Lira, Antonio Saboia e Vera Barreto Leite

Produção: Brasil, 2017, 14 anos

Quando: estreia nesta quinta (30)

Avaliação: regular

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