ISABELLA MENON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um ato em defesa do Teatro Oficina reuniu cerca de 1.500 pessoas, segundo a organização, neste domingo (26), na frente do teatro, no bairro do Bexiga.
A manifestação promoveu um 'abraçaço' no quarteirão do Oficina, que também abriga um terreno vizinho que pertence ao Grupo Silvio Santos.
A vizinhança é motivo de embate há 37 anos entre o diretor Zé Celso, responsável pelo Oficina, que quer fazer da área um parque, e a companhia do apresentador, cujo projeto para o local é construir torres.
O ato "Domingo no Parque" aconteceu cerca de um mês após o Condephaat, órgão estadual de defesa do patrimônio, reverter uma decisão de 2016 que proibia a construção de torres, pelo grupo de Silvio Santos, no terreno vizinho do Oficina.
Organizada pelo Teatro Oficina, em parceria com a comissão Salvar o TBC, a Casa de Dona Yayá e outros espaços culturais do bairro, a manifestação foi, segundo os organizadores, uma resposta à especulação imobiliária da região e em defesa da manutenção desses centros de cultura.
Durante a tarde, artistas guiaram o público num "abraçaço" em volta do quarteirão do Oficina e do terreno vizinho.
Segundo Zé Celso, 80, o ator e diretor do Teatro Oficina, a mudança na decisão do Condephaat está ligada ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em agosto de 2016.
"Em 37 anos, ele [Silvio Santos] não mexeu neste terreno. Com o golpe, tudo vai caindo. As pessoas [dos órgãos públicos] são trocadas por outras que visam o mercado."
Sem dar declarações durante o ato, Zé Celso explicou em entrevista à Folha que sua postura visou dissociar sua figura da polêmica que envolve o Teatro Oficina e o grupo Silvio Santos.
"Não é Zé Celso contra Silvio Santos, é Zé Celso e todo mundo", afirmou.
"Depois do impeachment, ele [Silvio Santos] entrou em uma paranoia. Nós, artistas, somos considerados vagabundos, mas não somos."
De acordo com Marília Gallmeister, arquiteta cênica do Teatro Oficina -que, vale lembrar, foi projetado pela ítalo-brasileira Lina Bo Bardi-, a construção de torres pelo grupo Silvio Santos ao redor do teatro não se resume a um problema local.
"A gente sabe que o que está por trás disso é algo muito mais perverso; se eles conseguem desmontar uma companhia que tem mais de 60 anos, eles conseguem fazer isso com qualquer outra companhia."
PÚBLICO X PRIVADO
O evento aconteceu também em meio a outra polêmica, esta sobre o TBC, espaço tombado pelo patrimônio histórico há 35 anos e fechado desde 2008, quando foi comprado pela Funarte.
Em agosto passado, o Ministério da Cultura anunciou que iria conceder a administração da casa à iniciativa privada.
A decisão levou artistas a criarem a comissão Salvar o TBC, que reúne o crítico e pesquisador teatral Alvaro Machado, a atriz Denise Fraga, o produtor Guilherme Marques, o diretor Ruy Cortez e o pesquisador Stênio Dias Ramos, entre outros nomes.
A maioria deles estavam presentes no ato deste domingo (26).
O grupo e os artistas argumentam que a privatização reduziria a diversidade cultural do TBC, cuja reforma já custou à Funarte cerca de R$ 15 milhões.
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