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Ruptura de acordo nuclear e sanções dos EUA podem ajudar linha dura no Irã

PATRÍCIA CAMPOS MELLO, ENVIADA ESPECIAL* TEERÃ, IRÃ (FOLHAPRESS) - O Congresso dos EUA tem até 12 de dezembro para decidir que destino dar ao acordo nuclear com o Irã. Se impuser sanções que violem os termos do acordo, vai acabar fortalecendo a linha-dura

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 19.11.2017, 05:30:00 Editado em 19.11.2017, 05:30:09
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PATRÍCIA CAMPOS MELLO, ENVIADA ESPECIAL*

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TEERÃ, IRÃ (FOLHAPRESS) - O Congresso dos EUA tem até 12 de dezembro para decidir que destino dar ao acordo nuclear com o Irã. Se impuser sanções que violem os termos do acordo, vai acabar fortalecendo a linha-dura do regime iraniano e se isolando, advertem analistas.

Embora a Agência Internacional de Energia Nuclear tenha atestado que o Irã cumpre o acordo assinado em 2015, o presidente Donald Trump anunciou em outubro que não daria a certificação exigida pela lei dos EUA, pois o país "violava o espírito" do tratado ao semear instabilidade no Oriente Médio.

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E Trump encarregou o Congresso de "consertar" o acordo, em 60 dias, conforme estipulado na legislação.

Ao endurecer com o Irã e, eventualmente, retomar as sanções, Trump espera que o país persa ceda e que isso contenha sua influência crescente no Oriente Médio. Mas analistas alertam que um rompimento do acordo ou imposição de outras sanções podem ter o efeito contrário.

"Se as sanções forem impostas apesar de o Irã estar cumprindo sua parte, isso dará força aos argumentos da linha dura do governo iraniano, de que os países ocidentais não são confiáveis", diz Tara Sepehri Far, pesquisadora na Human Rights Watch

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Dentro do Irã, a percepção é que os europeus manterão seu apoio ao acordo. "Se os EUA resolverem desrespeitar o acordo, os outros países precisam ou enfrentar os americanos ou deixar o acordo", disse à reportagem Nagari Hosseini, líder da comissão de segurança nacional do Parlamento do Irã. "Acreditamos que os europeus vão se manter no acordo."

Outro deputado, Jalil Mokhtar, adverte que o rompimento traria sérias consequências à economia iraniana; "O líder supremo [aiatolá Khamenei] já havia previsto isso —será o ano da resistência, precisamos fortalecer a economia interna para lidar com o inesperado, e esperamos qualquer coisa do Donald Trump", disse à reportagem.

O acordo de 2015 determina que o Irã reduza em dois terços o número de centrífugas para enriquecimento de urânio até 2025, diminua para 300 kg seu estoque de urânio enriquecido a 98% (usado em ogivas nucleares) e limite o enriquecimento a 3,67% (suficiente para uso pacífico), além de permitir inspeções da ONU a instalações nucleares e militares.

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Em troca, os países levantaram parte das sanções, além de liberar recursos do país que estavam bloqueados em bancos estrangeiros.

A suspensão das sanções americanas secundárias, que afetam terceiros países que fazem negócios ou compram petróleo do Irã, e também das penalidades sobre os bancos, trouxe alívio para Teerã.

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Muitas empresas europeias retomaram investimentos, entre elas a Total, Renault e Peugeot. O comércio europeu com o país dobrou.

As sanções primárias americanas continuam em vigor. Ou seja, empresas e bancos americanos ainda são proibidos de fazer negócios com o Irã, a não ser nas exceções previstas em lei —alimentos e medicamentos.

Os senadores republicanos Bob Corker e Tom Cotton trabalham em um projeto de lei que estabeleceria determinados critérios que, se desrespeitados pelos Irã, levariam a sanções imediatas.

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Tess Bridgeman, que trabalhou na negociação do acordo nuclear quando estava no Conselho Nacional de Segurança no governo Barack Obama (2009-17), acha que ainda deve levar algumas semanas para que se chegue a uma legislação que tenha apoio bipartidário no Senado americano, e, portanto, possa ser aprovada.

Mas ela vê riscos.

"Se os EUA aprovarem legislação que viole o compromisso previsto no acordo, de retirada de sanções, é mais provável que os EUA fiquem isolados ou que o acordo entre em colapso do que o Irã aceite novas exigências ditadas unilateralmente pelo Congresso americano."

Além desse, há vários outros projetos de lei que preveem sanções contra o Irã em tramitação no Congresso dos EUA

De qualquer maneira, ninguém espera uma volta das penalidades draconianas impostas pela comunidade internacional contra o governo de Mahmoud Ahmadinejad em 2012, quando UE e EUA impuseram embargo total ao petróleo iraniano e duras sanções bancárias e. A exportação de petróleo despencou para 1 milhão de barris por dia (hoje ela é de 2,2 milhões). O rial se desvalorizou e a inflação explodiu.

"Estamos acostumados, faz uns 30 anos que vivemos com sanções", diz a tradutora Maryam Papi, 38. "Só ficou muito ruim na época de Ahmadinejad, quando a gente não achava nem remédio para comprar".

*A jornalista Patrícia Campos Mello viajou a convite do governo do Irã

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