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Morta em Copacabana, moradora de rua se destacava por "porte nobre"

KELLY LIMA RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Ela falava três línguas, não aceitava dinheiro de qualquer um e vivia maquiada, destacando-se dos colegas pelo "porte nobre". Assim é descrita Fernanda Rodrigues dos Santos, 40, a moradora de rua assassinada no

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 17.11.2017, 15:15:00 Editado em 17.11.2017, 15:15:06
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KELLY LIMA

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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Ela falava três línguas, não aceitava dinheiro de qualquer um e vivia maquiada, destacando-se dos colegas pelo "porte nobre". Assim é descrita Fernanda Rodrigues dos Santos, 40, a moradora de rua assassinada no mês passado em Copacabana, no Rio.

Ela voltou a ser assunto no bairro após a prisão de dois suspeitos, nesta terça-feira (14). Segundo a polícia, o estudante de medicina Rodrigo Gomes Rodrigues, 24, e o lutador de MMA Cláudio José Silva, 37, confessaram ter matado Fernanda a tiros. A confissão ocorreu, diz a polícia, após serem flagrados com drogas na casa do lutador.

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A reportagem foi a Copacabana e ouviu vizinhos, trabalhadores do bairro e moradores de rua que, em algum momento, conviveram com Fernanda. A maioria pediu para não ser identificada.

Ela era diferente dos demais, dizem. Não fumava, não bebia, não usava drogas e nem sequer pedia esmolas.

Comprava comida no mercado mais próximo. Segundo um dos atendentes, parecia "uma dama da sociedade". Escolhia alimentos saudáveis e pagava "sem mendigar".

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Fernanda tomava banho diariamente no Posto 2, da avenida Atlântica. Chegava cedo, local ainda vazio. Passava creme hidratante, filtro solar e a maquiagem rosa, que a destacava na multidão de moradores de rua que perambulam pelo bairro.

Carregava sempre muitas sacolas, com roupas, baldes, panelas e o fogareiro em que cozinhava o jantar.

De dia, optava por saladas, enquanto observava o tempo passar, instalada embaixo da marquise de uma loja na avenida Nossa Senhora de Copacabana, a poucas quadras do hotel Copacabana Palace.

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"Nunca aceitava as quentinhas que os turistas tentavam dar, com as sobras do almoço. Sempre se portava quase como dama, quase esnobe. Mas parecia gente boa pra caramba", conta o garçom Severino Sampaio, 32.

Não pedia esmolas e recusava até se algum homem tentasse deixar algum dinheiro na cumbuca colocada à sua frente na calçada.

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Aceitava as "contribuições", como dizia, de senhoras moradoras dos edifícios da região que, às vezes, levavam panelas para ela ariar.

O segurança Roque Silveira, 44, conta que cuidava da esquina onde vivia "como da própria casa". "Limpava todos os dias o lugar. Tinha um urinol, em que colocava uma sacola plástica."

Nunca acompanhada, e por vezes falando sozinha, não dava pistas de sua trajetória até habitar as ruas. Apenas com o crime sua origem veio à tona: Anápolis (GO).

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Circulava a história de que havia sido secretária-executiva, altamente capacitada, casada com um homem francês, que a deixou e levou embora seus três filhos.

O caso de Fernanda exemplifica que existe "um movimento de extermínio ativo em bairros da zona sul carioca", na opinião da psiquiatra Maria Teodora Rufino, que atua junto a comissões de amparo a pessoas em situação de rua.

O CRIME

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Silva, lutador de MMA, e Rodrigues, estudante de medicina, foram identificados por câmeras de lojas.

Segundo a polícia, em depoimento, os suspeitos disseram que o crime ocorreu após um bate-boca com outro morador de rua, que havia lhes atirado uma lata de cerveja.

De acordo com Daniel Rosa, delegado responsável pelo caso, Rodrigues disse que foi até a casa do lutador, onde pegou a arma de fogo e voltaram juntos ao local. O outro morador, ainda pelo relato, não estava mais lá, e Fernanda dormia enrolada em cobertas. O lutador teria então atirado nela por engano.

Na casa de Silva, os dois foram flagrados com 142 g de cocaína, 96 g de crack, 10 g de maconha, balança de precisão e as mesmas roupas usadas no dia do assassinato.

Por ter sido encontrada sua origem, a vítima não foi enterrada como indigente.

Um ato inter-religioso será realizado neste sábado (18), às 18h, na praça do Lido, a antiga "casa" de Fernanda no Rio de Janeiro.

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