PAULO SALDAÑA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Nomeado pelo governador Geraldo Alckmin, o novo reitor da USP, professor e engenheiro Vahan Agopyan, 65, se diz otimista para os próximos quatro anos em que estará à frente da mais importante universidade do país. O "risco do financiamento" foi superado, segundo ele, apesar de o tema ser motivo de vigilância permanente.
"Não teremos riscos de gastos que não possam ser honrados. Mas a crise nos ensinou que temos, sim, que ter alternativas financeiras." Ressalta, no entanto, que isso se dará no longo prazo.
Desde 2014, o gasto com folha de pagamento tem consumido quase todos os repasses do governo, o que levou a USP a recorrer a reservas financeiras. Até outubro, o comprometimento do orçamento com salários era de 98%.
Agopyan assume em janeiro de 2018, e até lá permanece como vice de Marco Antonio Zago. Na gestão anterior à atual, de João Grandino Rodas (2010-2014), foi pró-reitor de pós-graduação.
A chapa de Agopyan e seu vice, Antonio Carlos Hernandes, venceu a eleição interna no dia 30 de outubro.
Pergunta - A crise financeira na USP está superada?
Vahan Agopyan - O risco já passou, mas as restrições continuam por alguns anos. A universidade tem de saber as prioridades dos seus gostos e ter bom controle. Para não deixar de aplicar no que é importante, fazer reposição dos quadros pouco a pouco, garantir a manutenção dos seus laboratórios. É importante deixar claro que a parte de pesquisa sempre foi feita por recursos extraorçamentários, e vamos continuar buscando.
O senhor defende a busca por recursos alternativos de financiamento. Como?
- A crise nos ensinou que, primeiro, precisamos ser mais eficientes, e a Controladoria e os Parâmetros [de Sustentabilidade, aprovados neste ano, impuseram um teto de gasto com salários] foram ações robustas. Segundo, é que temos, sim, que ter alternativas financeiras. Já temos indicações, mas muito tímidas, que precisam ser aceleradas. É uma questão para resolver em anos. O endowment [fundo patrimonial rentável constituído, por exemplo, por doações] funciona daqui a 10 anos ou 20 anos.
Fala-se em convênios com empresas, seria ótimo e já fazemos isso. Também não nos habituamos a oferecer serviços e ideias para níveis de governos e sermos ressarcidos por isso. Mas não dá para modificar uma cultura da universidade de um dia para o outro. É algo a longo prazo.
A partir de fevereiro vamos trabalhar bastante para isso, mas sempre ao longo prazo. A universidade sempre toma decisões depois de muito debate. E isso garante que ela se mantenha. Demoramos anos discutindo a reserva de vagas [até 2021, a USP terá 50% dos alunos vindos da rede pública], mas, quando aplicado, foi recebido por todos os setores. Uma mudança de cultura de buscar recursos orçamentários de forma agressiva e mais incisiva implica mudança de mentalidade dos docentes.
Chapas de oposição apontaram falta de diálogo desta gestão. Como pretende agir?
- Essa foi a gestão que teve mais reuniões com o sindicato dos funcionários [Sintusp], houve reuniões quinzenais e conseguimos aparar muitas arestas. Houve diálogo bom com grupos de alunos. O ideal é criar canais de comunicação. Já com o sindicato dos docentes [Adusp], o diálogo foi mais tênue, não tivemos um diálogo fácil. Acho natural na universidade que haja posições contrárias, mas precisamos ter esses canais funcionando.
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