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"Eleição de transgênero é vitória contra populismo", diz economista americano

PATRÍCIA CAMPOS MELLO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A economista americana Deirdre McCloskey, 75, se emocionou com a vitória de Danica Roem, mulher transgênero eleita nesta semana para a Assembleia Legislativa estadual da Virgínia, EUA. "Foi uma vitória co

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 10.11.2017, 06:10:00 Editado em 10.11.2017, 06:10:10
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PATRÍCIA CAMPOS MELLO

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A economista americana Deirdre McCloskey, 75, se emocionou com a vitória de Danica Roem, mulher transgênero eleita nesta semana para a Assembleia Legislativa estadual da Virgínia, EUA.

"Foi uma vitória contra o populismo alimentado pelo ódio", disse McCloskey, referindo-se ao oponente de Danica, legislador que tentou proibir pessoas transgênero de usar banheiros públicos. "Isso nunca teria acontecido na minha época."

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McCloskey, uma economista libertária que se doutorou pela Universidade Harvard e deu aula por 12 anos na Universidade de Chicago, mudou de gênero em 1995. Chamava-se Donald, era casado havia 30 anos e tinha dois filhos.

Autora de 16 livros e mais de 300 artigos acadêmicos, é reconhecida por suas posições pró-mercado e seu ativismo na defesa de pessoas transgênero.

Ela falou à Folha quando esteve no Brasil, nesta semana para palestra do ciclo Fronteiras do Pensamento, na quarta (8), e para lançar o livro "Os pecados secretos da economia", da Ubu Editora. ˜

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Pergunta - Como a sra. vê a política econômica do presidente Donald Trump, que ao mesmo tempo quer eliminar regulamentações, como defendem os livre-mercadistas, e impor medidas protecionistas?

Deirdre McCloskey - É um desastre. Ele é um populista, como [o russo Vladimir] Putin, [o turco Recep] Erdogan e [o húngaro Viktor] Orban. Herdou desemprego baixo e crescimento de seu antecessor, Barack Obama. Não fez nada de bom até agora, o mercado continua subindo porque se pauta pelo futuro, pelas expectativas, e tem a esperança de que Trump vai eliminar muitas regulamentações que prejudicam as empresas.

Ele tem focado as regulamentações ambientais e beneficiado a indústria do carvão. Eu não acho isso inteligente. Deveríamos ter um imposto sobre emissões.

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O bom é que os EUA têm um longo histórico de democracia, que não se restringe à Presidência. Na Virginia, por exemplo, onde uma mulher transgênero acaba de se eleger. Isso é maravilhoso, fiquei emocionada. Foi uma vitória contra o populismo alimentado pelo ódio. Ele [o oponente] ficava dizendo não votem porque ela é trans, e as pessoas não estavam nem aí, votaram porque ela propôs consertar a Rota 28 (estrada na região).

Seria possível eleger uma mulher transgênero em 1995, ano em que a senhora mudou de gênero?

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- Isso nunca teria acontecido na minha época. Na verdade, houve uma mulher transgênero eleita nos anos 90, mas ninguém sabia que ela era trans. [Althea Garrison se elegeu em 1992 para a Assembleia de Massachusetts, mas não revelou que era transgênero; um repórter de um jornal conservador a tirou do armário em uma reportagem no mesmo ano].

A maré, porém, está virando. Os americanos estão evoluindo muito nas questões sociais. Casamento gay era inconcebível 20 anos atrás. Obviamente, há as pessoas Taleban, os EUA são como um croissant, várias camadas diferentes. Algumas pessoas vivem na Oklahoma dos anos 50, outras vivem em Massachusetts de 2030.

A sra. diz que a maré está virando, mas Trump reduziu proteções para pessoas transgênero e a Suprema Corte vai examinar uma ação que pode permitir a pessoas negarem serviços a homossexuais por motivos religiosos, como um dono de estabelecimento que se recusou a fazer um bolo para um casamento gay.

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- Trump é um oportunista, não está nem aí se alguém é transgênero, só quer agradar sua base de apoio de malucos no Oklahoma. E os militares desconversaram --disseram sim, presidente, vamos trabalhar nisso, e não têm nenhuma pressa.

Já em relação à decisão da Suprema Corte, não vejo nenhum problema. Se o confeiteiro se recusar a fazer o bolo do casamento gay, o cliente simplesmente vai no confeiteiro do lado. É o livre mercado, vários oferecem o serviço. Agora, se o Estado nega proteção a você, aí há um problema, porque trata-se de um monopólio, não há opções.

A senhora enfrentou preconceito por ser transgênero?

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- Não tenho como saber isso. Se uma pessoa chega para você e diz --e aí, seu "viado", é fácil dizer que é preconceito. Mas se eu não consigo um cargo na universidade de Stanford porque uma pessoa se opôs, e essa pessoa tinha preconceito, apesar de não dizer, é impossível saber. É o problema enfrentado pelas mulheres, o telhado de vidro [a ideia de limitação à ascensão das mulheres na política e no trabalho], é de vidro porque não conseguimos ver esse preconceito.

Se um homem belisca seu traseiro, está claro que foi degradante para a mulher. Mas se for mais sutil, não dá para saber. Quando mudei de gênero, achei que ia perder um emprego e arruinar minha carreira. Isso não aconteceu. Mas não pensei que ia perder minha família para sempre.

Nunca mais falou com eles?

- Eu falei, mas eles não responderam. Tenho três netos que nunca vi. Gostaria que minha mulher tivesse escolhido o caminho do amor e continuássemos casados.

A sra. gostaria de ter continuado casada com ela?

- Sim, Joanne é o amor da minha vida. Fui casada por 30 anos com ela e ainda a amo. A propósito, a transição não está relacionada a sexo. Eu não tive nenhuma relação sexual desde que mudei de gênero. Zero. Sou assexuada, nesse sentido a operação [de mudança de sexo] não foi inteiramente bem sucedida. Mas isso não é um problema. Homens pensam sobre sexo a cada 10 segundos. Mulheres pensam em amor. Eu penso em amor, afeição, conexão.

A sra .voltou a falar com sua irmã, que tentou interná-la em clínicas psiquiátricas quatro vezes por decidir mudar de gênero?

- Sim. Levou anos, mas hoje nós conversamos. Ela é bipolar e está em tratamento. Ela achava que estava me salvando, que eu tinha ficado louca.

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