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Concessão de cemitério enfrenta medo de taxas e esperança contra abandono

GUILHERME SETO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Locomovendo-se com ajuda de um andador pelo cemitério da Consolação, no centro de São Paulo, a decoradora Neuza Miguel, 75, tateia com cuidado seu trajeto até o jazigo onde estão sepultados familiares para a vis

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 02.11.2017, 22:35:00 Editado em 02.11.2017, 22:35:09
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GUILHERME SETO

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Locomovendo-se com ajuda de um andador pelo cemitério da Consolação, no centro de São Paulo, a decoradora Neuza Miguel, 75, tateia com cuidado seu trajeto até o jazigo onde estão sepultados familiares para a visita no feriado de Finados. Desviando de buracos, pedaços de túmulos e galhos de árvores, ela se aflige com os roubos e depredações.

"A cada visita tem um pedaço a menos no jazigo que a família possui desde antes da década de 1940. Levaram as placas de bronze com os nomes, a porta de bronze, os vasos que deixamos em cima para colocar flores. Esse cemitério está abandonado pela municipalidade", afirma Neuza.

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O tema foi recorrente nesta quinta-feira (2), no feriado do ano em que os cemitérios mais costumam lotar. Desta vez, a pauta entre os frequentadores foi acompanhada da expectativa -positiva para alguns, negativa para outros- de concessão de 22 cemitérios públicos, além do crematório da Vila Alpina, para a iniciativa privada, conforme planos do prefeito João Doria (PSDB).

A prefeitura argumenta que a concessão por 20 anos visa melhorar a estrutura desses locais, alvos de furtos, de falta de conservação e de queixas de cobranças indevidas.

Neuza vê a possível mudança como positiva. "Já gastamos um dinheirão, R$ 1.200 por ano para o zelador cuidar dos túmulos. E ele não tem como pegar bandidos", diz.

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Inspeção realizada pelo Tribunal de Contas do Município constatou que ocorrem ao menos 108 furtos por mês nos cemitérios. São 3,6 por dia.

Outras pessoas temem a impessoalidade nos cuidados e a cobrança de taxas (prevista no projeto, com valores entre R$ 200 e R$ 600 por ano).

"O ente público deveria cuidar de algo que é de valor para nós. As empresas querem somente lucro. Podem querer vender coisas aqui dentro que não têm sentido", diz o engenheiro Amaury Monteiro Junior, 66, que visitava o jazigo da família da mulher, Olga, no cemitério do Araçá, na zona oeste, e lamentava a porta arrombada e a cruz e os vasos de bronze que foram pilhados.

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"O Doria quer lucro com os mortos? Colocar taxímetro nos túmulos? E quem não tiver dinheiro? Vão triturar os ossos e jogar no mar? (...) Os antepassados das pessoas pagaram caro para ter a concessão das campas", diz o arquiteto Ville Ferreira, 65, cuja família tem túmulo no Araçá desde 1952.

"Este cemitério é uma fotografia de São Paulo. Ali mais perto da [avenida] Doutor Arnaldo estão os túmulos de várias pessoas que morreram de gripe espanhola no começo do século 20. Uma boa parte da arte tumular é de altíssima qualidade", completa.

Os cálculos da Prefeitura de São Paulo apontam R$ 8 milhões de prejuízo por ano com os cemitérios.

O projeto de lei dos cemitérios ainda não foi enviado à Câmara Municipal. A concessão está travada desde o final de outubro porque o Tribunal de Contas suspendeu o chamamento para que interessados enviassem estudos, argumentando que faltavam informações no processo, como o valor mínimo esperado com a desestatização. A gestão quer que a licitação ocorra no primeiro trimestre de 2018.

Os vereadores já deram aval para a concessão do estádio do Pacaembu, de parques, Mercadão, Bilhete Único, terminais de ônibus e sistema de guinchos e pátios.

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