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Obra dribla, pela forma, impostura do gênero confessional

SÓ PODE SER PUBLICADO NA ÍNTEGRA E COM ASSINATURA JOCA REINERS TERRON SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em entrevista dada em 1982 a Beatriz Sarlo e Carlos Altamirano, Ricardo Piglia relacionou o diário que escrevia desde os 16 anos, a partir de 1957, como a

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 28.10.2017, 06:00:00 Editado em 28.10.2017, 06:00:11
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SÓ PODE SER PUBLICADO NA ÍNTEGRA E COM ASSINATURA

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JOCA REINERS TERRON

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em entrevista dada em 1982 a Beatriz Sarlo e Carlos Altamirano, Ricardo Piglia relacionou o diário que escrevia desde os 16 anos, a partir de 1957, como a história de sua relação com a linguagem.

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"Esses cadernos se transformaram no laboratório da escrita", afirmou, "além disso, eu me inventava uma vida, fazia ficção, e esse diário era uma espécie de romance: nada do que está escrito ali aconteceu dessa maneira."

Por meio de um drible formal que reúne ficção, crítica literária e confissão (ou "conficção", melhor dizendo), "Anos de Formação" inaugura os três volumes de "Os Diários de Emilio Renzi".

A transferência da narração para a voz de Renzi, alter ego habitual de Piglia, procura resolver a questão da impostura costumeiramente relacionada ao gênero.

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"Para quem escrevo?", pergunta-se Renzi, "Não acho que seja para mim, mas também não gostaria que alguém os lesse." A fundação de um mundo próprio gestada por um jovem autor passa pela escrita secreta, mas somente em poucos casos essa oficina íntima é revelada ao público, como neste caso.

A consagração, em vida ou póstuma, fornece o carimbo de "imprimatur" para os diários de escritores: os de Cesare Pavese e Kafka, entre outros, servem de estudo de caso para Piglia, que os cita à exaustão, espelhando suas angústias de autor inédito na experiência alheia.

Cópia e comparação são fundamentais para o iniciante, e Piglia/Renzi as usa, explorando a influência norte-americana de Fitzgerald, Hemingway e outros mestres da contenção para combater o barroquismo estilístico herdado de Faulkner que ele identifica em contemporâneos como Haroldo Conti, Miguel Briante e Juan José Saer.

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Além de incluir leituras cotidianas e amizades, e a reflexão crítica advinda de tais encontros, o diário romanceia a vida privada, com especial dedicação aos casos amorosos quase sempre malfadados.

Assim, a aventura romântica acompanha a inquietude literária do noviço, misturando-se à história familiar.

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Nesses relacionamentos conflituosos é possível ao conhecedor da obra de Piglia reconhecer pistas da gestação de "Respiração Artificial" e "Dinheiro Queimado", por exemplo, ou verificar histórias abortadas como a meio beatnik do Cacho, amigo de infância que se torna ladrão de casaca e cujos contornos míticos remetem a Neal Cassady, herói de Kerouac.

A intercalação de trechos explicativos do método de composição, de contos (alguns já conhecidos, como "Hotel Almagro" e "A Moeda Grega") e outros inéditos, poderia sugerir uma miscelânea confusa, mas isto não se dá.

O que resta, enfim, é uma espécie de mapa que reproduz a área mais importante da vida de um escritor, seu texto, e que, no caso de Piglia, nunca surge desacompanhado do pensamento.

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ANOS DE FORMAÇÃO

AUTOR Ricardo Piglia

TRADUÇÃO Sergio Molina

EDITORA Todavia

QUANTO R$ 74,90 (384 págs.); R$ 49 (e-book)

AVALIAÇão ótimo

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