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BLOQUEIOS NOS PAGAMENTOS

Suspensão de bolsas da Capes gera apreensão em estudantes da região

Pesquisadores de Apucarana e municípios vizinhos não receberam pagamento de dezembro e têm dificuldades para quitar contas

Da Redação

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Fernanda Peixoto é mestranda de engenharia química da  UTFPR em Apucarana
Icone Camera Foto por TNonline
Fernanda Peixoto é mestranda de engenharia química da UTFPR em Apucarana
Escrito por Da Redação
Publicado em 08.12.2022, 16:58:12 Editado em 08.12.2022, 17:14:54
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Estudantes de mestrado e doutorado da região que dependem da bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para sobreviver estão apreensivos. Eles não receberam o pagamento previsto para cair no início deste mês. Sem dinheiro para pagar as contas e até mesmo para comprar alimentos, muitos estudantes estão angustiados e já cogitam se desfazer até de bens pessoais para manter os estudos e garantir a sobrevivência. Em todo país, cerca de 200 mil pesquisadores foram prejudicados pelo bloqueio determinado pelo governo federal.

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Uma das principais fontes de pagamentos de bolsas a estudantes de pós-graduação, a Capes – que é ligada ao Ministério da Educação (MEC) - informou nesta semana que não terá recursos para pagar as bolsas destinadas a esses pesquisadores. Os depósitos deveriam ser feitos até quarta-feira (7).

Mestranda de engenharia química do campus de Apucarana da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Fernanda Peixoto, 27, está preocupada com o corte nos depósitos. Na reta final do curso, ela recebe R$ 1,5 mil por mês de bolsa. De Maringá, Fernanda transferiu residência para Apucarana para se dedicar aos estudos, que exigem dedicação integral.

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“Recebo a bolsa desde o segundo mês do mestrado. Iniciei em março de 2021 e devo finalizar até março do ano que vem. O valor é de R$ 1,5 mil mensais. Esse dinheiro dá no limite para pagar as despesas e acaba ficando um pouco apertado. Não dá nem para ficar doente, por exemplo”, comenta. A estudante precisa almoçar e jantar no Restaurante Universitário (RU) para fechar o orçamento.

“Este mês eu estou sem saber o que fazer. A minha conta está zerada e não paguei minhas despesas. Preciso comer”, afirma. Ela diz que está tentando vender alguns bens para tentar arrumar dinheiro. “A pesquisa é muito importante e exige muita dedicação. Geralmente, eu passo o dia todo no laboratório fazendo experimentos e dando auxílio aos alunos da graduação. Ainda que sobrasse tempo para trabalhar, a gente não pode, porque no contrato a Capes não permite vínculo empregatício”, explica.

A apucaranense Taynná Cristina da Cunha Ferreira, 24, está na mesma situação. Formada em licenciatura em química, ela faz mestrado em engenharia química na UTFPR. “É uma situação realmente muito complicada. Nós, pós-graduandos, dependemos das bolsas de estudo, pois nos dedicamos integralmente à nossa pesquisa. Não podemos ter vínculo empregatício, então deixei as aulas que eu dava no Estado para assumir a bolsa e dar exclusividade ao mestrado”, afirma.

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Segundo ela, o valor da bolsa, apesar de não ser reajustado há muitos anos conforme a inflação, ajuda a pagar as contas, como moradia, água, luz, internet e alimentação. “Não é um valor que sobra no fim do mês, então nós precisamos receber sem falta para que possamos dar continuidade a nossa pesquisa, que também é uma forma de trabalho. Nós nos dedicamos a ela a mais tempo do que uma jornada de trabalho comum. É nosso direito receber pelo que nós fazemos”, afirma.

PESQUISADORES NO EXTERIOR

A jornalista Antoniele Luciano, 36, faz doutorado na área de estudos literários na University of Georgia, em Athens, na Georgia, Estados Unidos. De Jandaia do Sul, ela integra o Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, mas está nos EUA no chamado “doutorado sanduíche”, quando os pesquisadores realizam parte dos estudos em outro país.


						
							Suspensão de bolsas da Capes gera apreensão em estudantes da região
Foto por TNonline
Antoniele Luciano faz doutorado na área de estudos literários na University of Georgia, em Athens, na Georgia, Estados Unidos
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Antoniele comenta que a falta de pagamento pode ser ainda mais delicada para quem é pesquisador fora do país, como é o caso dela. “Diariamente, já temos que gerenciar diversas variantes, como a questão do idioma, adaptação, produtividade e o dinheiro. Nesse último item, vale lembrar que a bolsa de doutorado-sanduíche está defasada há muitos anos e, mesmo sem atraso, tem se mostrado insuficiente para suprir as necessidades de quem sai do país para fazer pesquisa”, comenta. Ela recebe por mês 1,3 mil dólares.

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Segundo a jornalista, o dinheiro é suficiente apenas para o básico. “Estou em uma cidade onde o custo de vida é alto, mas poderia ser pior. Quem está em cidades maiores está sofrendo mais”, afirma. Ela observa que os estudantes que estão em outros países já precisam arcar com muitos custos antes da viagem, como provas de proficiência em língua estrangeira, visto e passaporte, entre outras.

“Com esses bloqueios, estamos preocupadíssimos sobre como vamos honrar nossos compromissos básicos. Dia 1º de janeiro é a data que vence o aluguel aqui nos EUA. Nossa vida fora não é um 'mar de rosas' só porque estamos em outro país. Muitas vezes, o trabalho é de segunda a segunda. Temos metas a serem cumpridas no nosso plano de trabalho e o compromisso de entregar resultados ao retornar. Esperamos que, no mínimo, tenham compromisso conosco, pagando o que é de nosso direito. Infelizmente, essa é uma situação que afeta não só nossa produtividade, mas nossa saúde mental também”, afirma.

A apucaranense Taciane Krüger Gava, estudante de engenharia industrial madeireira, está em Nantes, França, e vive a mesma situação. “Recebemos a bolsa a cada dois meses, geralmente no início do mês. Então, a programação do dinheiro é feita para esse período. Temos contas fixas aqui como temos no Brasil, precisamos pagar aluguel, internet, conta de telefone, cartão transporte.... Algumas, inclusive, são debitadas diretamente da conta e não tem como negociar a data”, explica Taciane, que é bolsista na modalidade de graduação.

PAGAMENTO

A presidente da Capes, Claudia Toledo, anunciou nesta quinta-feira (8) que o governo federal liberou R$ 50 milhões para o pagamento de bolsas. O valor corresponde a apenas 25% do que é necessário para atender o número total de estudantes. A prioridade será para programas voltados à formação de professores da educação básica. Estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado do Brasil e do exterior ainda não foram contemplados. Para esse pagamento, faltam R$ 150 milhões, segundo o Capes.

Por Fernando Klein

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