No Dia Mundial da Luta Contra AIDS, celebrado ontem, Apucarana registra uma queda no número de portadores da doença. Porém, essa diminuição pode estar ligada à pandemia e a falta de procura por testes no Núcleo de Atenção, Testagem e Tratamento de Apucarana (Natta).
A coordenadora do Natta, Gisele Silveira, informou que em 2020 foram registrados 30 novos casos de HIV em Apucarana. São 26 homens e 4 mulheres, com idades entre 20 e 40 anos. Em todo ano passado, foram 56.
A diminuição dos casos pode ter relação com a Covid-19 e que se preocupa com o pós-pandemia, pois pode acontecer um aumento expressivo de infectados pelo HIV. “A pandemia afetou bastante o diagnóstico porque a pessoa não vem para fazer o exame. Quando a pandemia, a tendência de casos é aumentar bastante”, ressalta.
Um homem que era portador da doença morreu em julho deste ano, mas segundo Gisele, ele não aceitava o tratamento. Ela lembra que a medicação é fundamental para ter uma vida saudável, mesmo com o vírus. “Quanto antes o diagnóstico for descoberto, melhor. Quando a pessoa descobre a doença, orientamos tomar os medicamentos e controlá-la. O paciente vive uma vida normal, como quem tem uma doença crônica, por exemplo”, explica.
Quem também não quer tomar medicamentos para controlar o HIV é a travesti Ana Paula de Oliveira de 26 anos. A um ano ela foi diagnosticada com a doença mas para ela é muito difícil aceitar a condição e o tratamento. “Fui diagnosticada há um ano, fui infectada por um ex parceiro. Na época que descobri não queria aceitar, não aceito tomar o remédio. Eu passo muito mal, a reação é muito grande, não quero ficar passando mal”, disse.
Ana Paulo é de Apucarana, fugiu da casa dos pais quando tinha apenas 17 anos, morou na rua em cidades do Paraná e até no interior de São Paulo. Já usou drogas, era viciada em álcool e há semana voltou a contar com o apoio do projeto Renascer. “Eu já passei pelo projeto Renascer umas cinco vezes e estava com medo deles não me aceitarem de volta. Eu estou com 26 anos, agora eu quero ter uma vida nova, há uma semana que estou aqui, já consegui um emprego no ramo da confecção, quero conseguir me recuperar” detalha.
Renascer
O projeto Renascer é desenvolvido em Apucarana desde 2001. Atualmente existem 14 pessoas que moram em uma casa, que são portadores da doença e que se ajudam mutuamente. “Quando eles chegam na casa de apoio, muitas vezes estão em uma situação crítica, trabalhamos com usuários de drogas, álcool, a maioria dos portadores tem esse problema. Então é um trabalho mais amplo do que apenas a questão do vírus”, informou a assistente social do projeto Renascer, Cláudia Simplício.
Cláudia ainda destacou que durante a pandemia as políticas públicas para combater o HIV foram prejudicadas. “Neste ano de pandemia o HIV foi mais banalizado. A dificuldade do Renascer hoje é financeira. Gostaria de ter apoio de empresários da cidade para fortalecer nosso trabalho”, ressalta.
Moradores de Apucarana podem realizar o teste rápido de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. O Natta é localizado no Bairro 28 de Janeiro, ao lado da sede da Guarda Municipal, na Rua Jamil Soni. Pessoas de outras cidades devem procurar a saúde do município para encaminhamento. O Natta também oferece testes para detectar hepatites virais (B e C) e sífilis, além de contar com uma farmácia para distribuição medicamentos para portadores de HIV.
Arapongas testou mais de 1,3 mil pessoas e teve 20 diagnósticos positivos
Em Arapongas, o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) realiza testagens rápidas para HIV, sífilis, hepatite B e C, além de acompanhamento dos pacientes, com médico infectologista. Em média são realizados 120 testes rápidos ao mês. De janeiro até agora, cerca de 1.320 testagens foram realizadas.
Coordenadora do setor, Fernanda Golas, ressalta a importância nos atendimentos e acolhimento da população. “Mesmo em um ano em que os olhos estão atentos à Covid-19, o CTA de Arapongas também desenvolveu papéis fundamentais no combate, prevenção ou tratamentos de demais doenças infecciosas. Além disso, realizamos todo o acolhimento e monitoramento dos pacientes diagnosticados, entre eles com o HIV. É importante a busca por informação, diálogo e apoio”, explicou. Atualmente, Arapongas tem 582 pessoas portadoras de HIV. Em 2020 (de janeiro a novembro) foram 20 novos casos diagnosticados.
Conforme a Secretaria de Saúde, há 11 anos o município de Arapongas não registra casos de transmissão vertical do HIV, ou seja, quando é passado de mãe para filho. De acordo com os dados do CTA, em 2020 oito pacientes que passam por acompanhamento engravidaram e, com todo o tratamento e monitoramento fornecidos pelo município, não transmitiram o vírus para os bebês.
Para o secretário de Saúde, Moacir Paludetto Jr, dado importante que é resultado da forte atuação do setor. “Estamos mantendo esse índice de zero incidência de transmissão vertical do HIV – em crianças de 0 a 5 anos, o que nos deixa muito satisfeitos. Isso é resultado de um trabalho sério e comprometimento das pacientes. São estratégias de toda uma rede em saúde que está atenta”, afirma. O CTA funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas.
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