O médico João Dias teve uma mudança radical na própria vida após descobrir que havia sido adotado ilegalmente. Após 28 anos, o jovem reencontrou a mãe biológica, que é moradora da cidade de Apucarana (PR). A história emocionante foi contada na edição do Fantástico deste domingo (01).
João cresceu em Guarapuava, região central-sul do Paraná, e sempre teve a suspeita de que era adotado. Ele questionava os pais, que rebatiam o assunto e desconversavam. "Para de falar sobre isso, não tem nada a ver", era a resposta padrão que o médico recebia desde criança. No entanto, em 2023, o médico decidiu buscar cidadania portuguesa por ancestralidade e começou a descobrir a verdade.
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Um dos documentos que precisava era a certidão de casamento dos pais. Quando o documento chegou do cartório, o jovem descobriu que a mãe era nove anos mais velha do que dizia e divorciada, ao contrário do que sempre dizia. "A primeira sensação foi de muita confusão", relata o médico.
As redes sociais foram aliadas de João para que ele encontrasse os pais biológicos. Pessoas que assistiram aos vídeos que o médico havia publicado pedindo ajuda, confirmaram as suspeitas de adoção ilegal, inclusive sua tia paterna. Enquanto isso, os pais ainda não admitiam a situação e até mesmo se negavam a fazer um exame de DNA.
"Uma pessoa próxima da família veio conversar comigo e falou para mim: 'Sim, João, você realmente é adotivo. Inclusive, eu que falei para eles adotarem, porque eles já tentavam ter filhos há muito tempo. Até a irmã do meu pai confirmou, inclusive, que eu fui adotado ilegalmente", diz.
Quem são os pais biológicos?
Na jornada para descobrir quem eram seus pais biológicos e onde estavam, João teve o material genético comparado com 400 mil perfis, buscando graus de parentesco. Ele conseguiu descobrir os nomes dos tataravós e, novamente pelas redes sociais, encontrou o nome do possível bisavô.
"Depois disso, a gente teve uma forte desconfiança de que eu descendia de um dos filhos do Adão, que era o Marino Mallmann. A gente decidiu que iria de descendente em descendente do Marino Mallmann, perguntando: 'Tem alguma história na tua família de uma criança que foi adotada, vendida, perdida, roubada?'", conta João.
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Um homem respondeu e sinalizou que o médico poderia ser filho de seu irmão, que hoje mora em Novo Xingu, noroeste do Rio Grande do Sul. O exame de DNA confirmou. "Na hora que eu vi o resultado, eu só coloquei a mão na cabeça, assim, eu não tinha muita reação", relata. O pai biológico, Giovani, foi quem deu as pistas para que o jovem encontrasse a verdadeira mãe. Ana Maria Miranda vive em Apucarana norte do Paraná, junto da filha. Ela é cozinheira.
"A primeira coisa que ela me disse foi 'por favor, não sinta raiva de mim", relembra o médico. "Isso quebrou meu coração, porque eu honestamente não tenho nenhum motivo para odiar ela", completa.
Ana contou que foi sozinha para a maternidade em Guarapuava dias antes da data prevista para o nascimento do João. "Não tinha dinheiro nenhum, nem um centavo. Não tinha fralda, roupinhas e nem um paninho para enrolar ele", afirma a cozinheira. Segundo ela, no local, um pedido de ajuda foi feito para uma enfermeira, que a coagiu a entregar o bebê para um casal.
Ana relata que saiu do hospital com João, acompanhada de uma mulher. Essa pessoa a levou até o Terminal Rodoviário e deu R$ 100. "Eu me senti mais nojenta. Sabe quando você pega dinheiro achando que... Eu vendi meu filho. Era isso que eu pensava", desabafa. João não julga a mãe biológica e afirma que ela foi coagida e pode não ter percebido a situação.
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Cerca de 28 anos depois da separação dolorosa, João e a mãe finalmente tiveram um reencontro. Os dois fizeram exame de DNA, que comprovou que Ana era a mãe do médico. "Eu quero alterar o meu nome. Infelizmente, o meu sobrenome Dias, ele se tornou um sinônimo de violência na minha vida. A adoção não é um problema, adotar é lindo. Mas mentir sobre a vida inteira de alguém é crime. A adoção ilegal priva crianças de direitos", ressalta o médico.
Os pais adotivos de João não quiseram dar entrevista para o Fantástico, mas ecorreram a um advogado para representá-los. "O João é deixado na porta daquele lar e é acolhido por aquela família. Sequer a família conhece a família biológica de João ou a pessoa que entregou o João para que eles pudessem adotá-lo", afirma Marinaldo Ratter, advogado dos pais adotivos. Adotar ou registrar filho de outro como sendo seu seja crime, é possível o perdão judicial.
O advogado diz ainda que eles não contaram a história verdadeira com medo de perder o amor do João. "Eles deixaram de contar para o João isso porque, para os familiares, o João só tem uma família: a família que o criou, que deu o amor e que o acolheu em seu lar".
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