"Os fins justificam os meios". A frase não é de Nicolau Maquiavel, como muitos confundem, e muito menos do livro "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry, como disse um advogado no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). A confusão do defensor de um dos réus do 8 de janeiro trouxe novamente ao noticiário o famoso livro infanto-juvenil, lançado em1943 nos Estados Unidos pelo escritor francês. Uma das obras com mais traduções no mundo, "O Pequeno Príncipe" marcou gerações e conquistou fãs, como a jornalista apucaranense Glaucilene Gasparetto, hoje radicada em São Paulo.
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Apaixonada pelo livro, que conta a história de um piloto que cai com seu avião em um deserto e conhece um pequeno príncipe que viaja pelas galáxias, Glau soma atualmente 60 edições de cerca de 50 línguas e dialetos diferentes. Ela conta que tinha desde jovem a versão brasileira e, depois que encontrou a tradução em espanhol, não quis parar de aumentar a coleção.
"Ainda adolescente, herdei o primeiro livro dos meus tios. É a 15ª edição da versão brasileira, lançada em 1971. Muitos anos depois, em 2005, encontrei a versão em espanhol em um sebo na praça de San Telmo, em Buenos Aires. Foi aí que decidi colecionar o livro e comprá-lo em todas as viagens que fizesse", disse Glaucilene.
Dona de um site, o Vida Wireless, no qual são abordados diversos assuntos sobre trabalho remoto e viagens, a apucaranense, acompanhada de seu marido, Adriano Dias, não explora as galáxias, como o protagonista do livro, mas já conheceu 55 países. Ela afirma que, em cada um desses passeios, além, é claro, de conhecer os lugares, sempre vai atrás das versões da obra com a língua local. E com o passar do tempo, amigos também começaram a ajudá-la.
"Sempre que viajava para o exterior, adquiria um exemplar na língua oficial ou dialetos dos lugares em que estava. Com o tempo, amigos começaram a me presentear com edições dos lugares que visitavam ou moravam. Na época em que as viagens eram menos frequentes, aproveitava e comprava alguns livros no Ebay, sobretudo de lugares que eu não almejava viajar", explica a apucaranense, que trabalhou na Tribuna do Norte antes de ganhar o mundo.
Apesar das diferentes culturas encontradas em cada país, a procura pelas versões diversas não costuma dar tanto trabalho ao casal. "Por ser o segundo livro mais traduzido no mundo, com quase 300 versões mundo afora, é relativamente fácil encontrar O Pequeno Príncipe na língua oficial de todo país. Já os dialetos são mais difíceis. Costumo pesquisar as traduções de cada lugar antes de toda viagem e, se necessário, compro online e peço para entregarem no endereço que estiver. Dou preferência para adquirir em sebos ou feiras de usados. Caso não encontre, recorro às livrarias tradicionais", conta Glau.
GAFE NO STF
A obra "O Pequeno Príncipe" foi assunto durante o julgamento de um dos réus condenado pelos atos golpistas de 8 de janeiro. O advogado Hery Kattwinkel citou o livro infantil e se confundiu com o exemplar ''O Príncipe". "Como diz 'O Pequeno Príncipe', os fins justificam os meios", disse o advogado. Contudo, a frase não foi citada pelo pela a obra de Saint-Exupéry, nem por Nicolau Maquiavel, como é erradamente atribuída.
A comunicadora apucaranense lamentou a desinformação dita pelo advogado. "Como jornalista que sou, defendo que qualquer informação só deve ser trazida à tona, seja num texto ou em um discurso, quando se tem certeza de sua procedência e veracidade. Ninguém é obrigado a ler nenhum dos livros envolvidos, mas quem quer adotar frases de efeito em suas falas precisa, no mínimo, fazer uma pesquisa prévia para não sair falando bobagem. Como o ministro comentou, o Google 'taí' pra isso, não é?", disse Glaucilene.
O advogado, em razão dos ataques que fez aos ministros durante a sua fala, acabou depois expulso do partido Solidariedade, ao qual era afiliado.
Por Vítor Flores
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