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Há 42 anos equilibrista cruzava céu de Apucarana em cabo de aço

Alemão Peter Rehlinger fez a travessia entre a Catedral e Edifício San Rafael; apucaranense José Rota aceitou desafio e também fez o percurso

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 21.10.2023, 08:30:00 Editado em 20.10.2023, 18:27:52
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Em janeiro de 1981, a população de Apucarana (PR) voltou seus olhos para o céu e acompanhou uma performance impressionante de equilibrismo. O acrobata alemão Peter Rehlinger fez a travessia, em um cabo de aço, entre a torre da Catedral Nossa Senhora de Lourdes e o prédio de 11 andares onde à época ficava a agência do banco Banestado, o atual Edifício San Rafael, que fica ao lado do atual módulo da Polícia Militar (PM). Veja reportagem especial abaixo

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Além do acrobata, o apucaranense José Rota também fez o percurso a cerca de 60 metros de altura a convite do alemão em uma cadeira adaptada. Hoje advogado e professor universitário, ele era tenente do Exército Brasileiro na época e, 42 anos depois, ainda lembra com detalhes da aventura. Foram dois dias de preparação para a performance.

“Eu era oficial do Exército e auxiliava a Prefeitura de Apucarana em eventos culturais. Uns dias antes da travessia acontecer, eu auxiliei o equilibrista na instalação dos dois cabos de aço”, conta. Rota também lembra que, durante o número, o acrobata sempre contava com o auxílio de mais uma pessoa, mas em Apucarana ele não estava encontrando alguém que topasse tal aventura. “Como o Peter me conheceu naquele dia e estava preocupado porque não encontrava quem participasse, me convidou e eu, louco, aceitei e fui”, lembra.

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Essa performance de equilíbrio que o alemão apresentava naquela época era popularmente chamado de “andar na corda bamba”. Contudo, a prática evoluiu para um esporte radical chamado highline, que envolve a prática de se equilibrar e caminhar em uma fita estreita e flexível, conhecida como slackline, suspensa a grandes alturas, geralmente entre falésias, edifícios, cavernas ou outras estruturas naturais ou urbanas. Essas fitas costumam ser ancoradas de um ponto a outro, formando um "slackline" longo e tenso.

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Rehlinger, no entanto, andava em uma linha alta e, no lugar de fita, usava um cabo de aço. Ele não tinha cinto de segurança, equipamento conhecido hoje como back up, e utilizava um cano galvanizado de 6 metros de comprimento e três quartos de diâmetro para manter o equilíbrio.

COMO TUDO ACONTECEU

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“Para dar mais sustentação ao equilibrista, foi entrelaçado um cabo de aço da Catedral até o atual Edifício San Rafael, que seria a principal via. Para evitar que o cabo ficasse balançando, foi entrelaçado um segundo cabo entre uma árvore que ficava na praça e o prédio onde hoje fica uma loja de calçados”, lembra José Rota.

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Quando Peter Helinger passava o segundo cabo, conheceu o então tenente Rota, com 32 anos de idade. “Eu morava ali em cima da Padroeira Calçados. Foi do meu telhado que ele fixou esse segundo cabo e a gente se conheceu nesse momento. Fui convidado para atravessar com ele, pois fazia parte do número que algum morador local participasse”, conta.

Rota lembra também que o artista já havia convidado vários apucaranenses para atravessar com ele, mas ninguém aceitou. “Eu fui o único que aceitou esse convite, que a princípio havia sido feito para a imprensa e para as autoridades do nosso município, e foi rejeitado por todos”, afirma.

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E para quem se espanta só de imaginar dois homens andando em um cabo de aço a 60 metros de altura, ainda tem mais: José Rota conta que levou um acordeão para entregar ao equilibrista, que tocou uma música lá de cima.

Eu me desloquei no cabo de aço fazendo o uso de uma cadeira estilo tirolesa e levei o acordeão do Peter. Quando ele estava exatamente no meio da travessia, eu fui até ele, entreguei o instrumento e ele tocou uma música lá em cima. Depois disso, eu segui até o prédio e ele continuou a travessia usando apenas a barra de ferro para manter o equilíbrio”, salienta.

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Questionado se faria tudo de novo, Rota é enfático. “Naquela época eu ainda namorava minha esposa. Hoje em dia, com certeza, prefiro manter os pés no chão”, assinala.

 José Rota em frente à Catedral com a foto daquele dia: "Inesquecível"
Foto por TNOnline
José Rota em frente à Catedral com a foto daquele dia: "Inesquecível"
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UM ALEMÃO NA CIDADE ALTA

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Mas o que teria motivado a realização de um evento tão peculiar quanto este? O prefeito de Apucarana na época era o empresário e atleta Voldimir Maistrovicz, o Mirão. Ele lembra que a vinda de Peter Rehlinger a Apucarana causou um verdadeiro frenesi na cidade.

“Nós fomos procurados pelo Peter, porque, nas suas viagens, ele ficou sabendo que aqui em Apucarana tinha um prefeito atleta e resolveu vir nos oferecer sua performance. Acabamos nos tornando amigos, pois ele era uma pessoa muito correta e agradável”, lembra o ex-prefeito.

Mirão contratou a performance de Rehlinger como uma das atrações das festividades do aniversário de 37 anos da emancipação política de Apucarana. A apresentação foi um sucesso.

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“O público presente foi muito receptivo com aquela ação ousada do Peter Rehlinger e do José Rota. O Rehlinger, inclusive, gostou tanto dessa receptividade que acabou vindo morar em Apucarana”, conta.

O acrobata alemão, de fato, se mudou para Apucarana e viveu por cerca de dois anos na cidade. Ele morava com sua família em uma casa na Rua Oswaldo Cruz.

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Quem se lembra dessa época é o empresário Luis Fernando Lemos, que na época tinha 11 anos de idade. “Eu me lembro que estava na praça quando ele fez a travessia, aquilo foi muito marcante. Eu estava bem em baixo do cabo de aço e fiquei impressionado. É uma das maiores lembranças da minha infância”, lembra.

Ele também conta que estudou com Peter Rehringer Junior e Erica Rehringer, filhos de Peter. “Me lembro dos filhos dele, pois estudávamos todos no Colégio Canadá”, conta.

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MEMÓRIAS INESQUECÍVEIS

O fato realmente marcou a memória de quem assistiu aquela apresentação. O fotógrafo José Felix também traz boas recordações deste momento. “É impossível esquecer daquele dia. Aquilo se tornou assunto por muito tempo entre a garotada. Já faz tempo, mas eu me lembro perfeitamente.”

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Félix também relata que, mesmo naquela época, quando questões de segurança não eram tão levadas à risca em determinadas situações, era impossível não pensar na possibilidade de algo dar errado.

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Foi impressionante. Até hoje fico pensando como foi uma coisa tão maluca. Não tinha nenhuma rede de proteção, não tinha cinto de segurança, já pensou se ele caísse de lá?”, questiona.

José Rota também lembra que o fato chamou tanto a atenção que no dia do feito a Praça Rui Barbosa estava lotada. “Tinha uma multidão lá para assistir a travessia e foi um momento único de se ver. Todo mundo olhando pra cima e a gente lá em cima. Ventava bastante e isso deixou ainda mais emocionante”, conta.

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BIOGRAFIA DE PETER REHLINGER

Peter Rehlinger nasceu em 1937. Foi um ator e acrobata alemão, que ficou conhecido na Alemanha e posteriormente no mundo por sua participação em filmes como Tatort (1970), Der Ölprinz (1961) e Der Schatz im Silbersee (1964).

Além de sua carreira no cinema, Peter Rehlinger também foi conhecido por suas habilidades acrobáticas. “Ele iniciou o esporte de ginástica olímpica aos 8 anos e a sua primeira travessia foi com apenas 17 anos, foi realizada na Alemanha entre um prédio ao outro. Depois ele atravessou a montanha de Zugspitze na Alemanha que tinha 3000 metros de altura.”, contou seu filho, Peter Rehlinger Jr ao portal de turismo Acerte Paulo Afonso.

Sua família era de Frankfurt e na iminência da Segunda Guerra Mundial, eles sobreviveram a uma forte ofensiva dos Aliados onde a cidade de Nuremberg foi bombardeada. A família de Peter estava passando as férias no local.

A partir da década de 1950, Peter Rehlinger começa a percorrer o mundo com seu espetáculo chamado “Entre o Céu e a Terra”, onde ele realizava seu famoso número de equilibrismo e assim veio parar no Brasil.

Peter conquistou muita fama no Brasil, tendo na virada de ano de 1982 para 1983, feito uma travessia em cabo de aço em São Paulo, que foi transmitida por televisão para todo o Brasil através do SBT com narração do então repórter Gugu (Augusto Liberato, 1959-2019).

Também na década de 1980, Rehlinger fez a inédita travessia do Brasil para o Paraguai, sobre as águas do Rio Paraná, em Guaíra. Sua última performance foi em 1995, em Taiwan. Peter Rehlinger morreu em 2021, nos Estados Unidos, vítima de covid-19. Seus filhos, Peter Jr e Erika, moram nos Estados Unidos.

Por Louan Brasileiro

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