O geólogo especialista em Geotecnia, Claudio Augusto Correa Neme, inspetor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR), em Apucarana, é um dos especialistas que está integrando os trabalhos de restauração na BR-277 no Litoral do Paraná. O especialista detalha os danos e analisa a situação do local.
1 - Como podemos descrever, geologicamente, os problemas que acometem a BR-277?
Desde o início da ocupação humana da região, os caminhos para a ligação entre o Litoral e o interior se utilizaram dos escalões naturais, formados por estruturas que cortam a Serra do Mar de Leste para Oeste. Estas estruturas são zonas de rochas intensamente fraturadas, chamadas milonitos e cataclasitos.
Na BR-277, o trecho de transposição da serra é embasado em algumas partes por estas rochas, que possuem um comportamento mecânico menos resistente do que os gnaisses e migmatitos, que são as rochas mais comuns na serra, as quais possuem resistência mecânica muito maior. Em ambos os casos mais graves que atendemos na BR-277, no km 42 e km 33, o vilão foi o milonito. No km 42 tivemos um tombamento e deslizamento de blocos de migmatito que eram apoiados por milonitos, e que cederam pela infiltração de água. No km 33 tivemos um aterro cuja fundação em solo residual derivado de milonito cedeu também pela grande infiltração de água.
2 - Como está a situação dos reparos atualmente? E quais são os próximos passos?
Conseguimos completar uma campanha de prospecção geotécnica, com execução de sondagens e ensaios “in situ”, construção de piezômetros e indicadores de nível d’água. E enviamos amostras coletadas para o laboratório de mecânica dos solos, que brevemente nos fornecerá os resultados. Estes resultados fornecerão os parâmetros geotécnicos para a elaboração de um projeto de contenção. Foram iniciadas as escavações e obras de drenagem, que visam baixar a poropressão no aterro, aumentando o fator de segurança.
3 - Esse tipo de problema pode ser detectado com fiscalizações como a que o Crea realiza?
Na verdade, em todo este trecho da BR-277, existe construída uma série de obras de contenção (muros de gravidade, cortinas atirantadas, etc.) e trechos de talude natural sabidamente “críticos”. Um programa de monitoramento destas obras e trechos, classificados por avaliações de risco deveria ser permanente e debatido com entidades e profissionais integrantes de entidades da Sociedade Civil como o Crea e o Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná (Cenacid/UFPR).
4 - Que tipo de cuidados/manutenção podem ser feitos para evitar esses danos?
As prioridades nas obras a serem realizadas em patrimônio público devem seguir critérios exclusivamente técnicos para suas escolhas. Muitas vezes estas obras, que ficam “escondidas”, são preteridas a obras que possuem mais exposição ao público e impacto midiático.
5 - Vocês têm conhecimento de mais locais que potencialmente podem ter esses danos?
Como já foi comentado, todo o trecho da serra precisa de monitoramento constante a fim de receber manutenção e obras preventivas. O grande problema é que, sem este monitoramento, só percebemos a existência dos problemas após estes já terem ocorrido. Precisamos “por o cadeado” (monitoramento) antes que “o ladrão arrombe a porta” (sinistro).
6 - Qual a probabilidade de esse fenômeno ocorrer novamente?
Eu diria que toda obra de engenharia possui uma vida útil, portanto, esse tipo de sinistro sempre terá possibilidade de ocorrer novamente. Tudo depende de monitoramento.
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