Os cigarros eletrônicos têm colocado colégios de Apucarana em alerta. O problema cresceu neste ano, com a retomada das aulas 100% presenciais. A venda desses produtos é proibida no Brasil e especialistas em saúde pública são unânimes em apontar os prejuízos à saúde causados por esses dispositivos. Os estudantes, no entanto, desafiam os professores e o consumo desses cigarros tornou-se uma verdadeira “febre”.
De modo geral, os cigarros eletrônicos funcionam por meio de uma bateria que esquenta um líquido interno (uma mistura de água, aromatizante alimentar, nicotina, propilenoglicol e glicerina vegetal). Esses dispositivos também são chamados de vaporizadores, pods, e-cigarettes, e-pipes, e-ciggys, entre outros nomes. O produto é tragado pela boca e cria uma fumaça branca, que pode ser sem cheiro ou com um cheiro aromatizado que se dissipa rapidamente no ar. A venda é feita, principalmente, pela internet, mas é possível encontrar os dispositivos em tabacarias e outros estabelecimentos.
O professor Diego Fávaro Soares, diretor do Colégio Estadual Professor Izidoro Luiz Cerávolo, confirmou que o assunto preocupa a comunidade escolar desde o ano passado, mas ganhou outra dimensão na volta às aulas 100% presenciais. “É uma verdadeira praga em todas as escolas de Apucarana, inclusive nas particulares”, assinala. Ele afirma que o “Cerávolo” ampliou o cerco aos cigarros eletrônicos, colocando inspetores para fiscalizar os alunos, inclusive na rua em frente à escola. Além disso, os professores procuram orientar os adolescentes – os alunos do ensino médio são os principais usuários – sobre os riscos.
“Muitos alunos fumam em frente à escola, o que nós também estamos coibindo. Outros se escondem no banheiro. Eles não entendem a proibição e muitos acham que esses cigarros eletrônicos não fazem mal à saúde”, afirma. Ele apreendeu alguns dispositivos, mas a orientação da Patrulha Escolar, da Polícia Militar (PM), é entregar os cigarros eletrônicos aos pais dos estudantes.
O professor Hélio Edmur da Silva, diretor do Colégio Polivalente Carlos Domingos Silva, reafirma o problema. Segundo ele, até mesmo estudantes do ensino fundamental já foram flagrados utilizando esse produto. Ele defende uma medida radical: a instalação de câmeras nos banheiros para fiscalizar os alunos. “As câmeras poderiam ser instaladas de uma forma que não filmem os alunos fazendo suas necessidades. Muitos alunos fumam nos banheiros e fica difícil ter um controle”, diz. Uma palestra está sendo organizada na escola para tratar do tema e dos riscos.
A professora Cibele Barneze, diretora do Colégio Estadual Nilo Cairo, afirma que combater o cigarro eletrônico é um desafio muito grande por conta das características do produto. Esses dispositivos são mais discretos que um cigarro convencional - alguns se parecem com pen drives - e podem passar despercebidos pelos professores.
O chefe do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Apucarana, Vladimir Barbosa da Silva, afirma que o órgão está atendo ao problema, orientando as escolas a coibir o consumo desses cigarros. Segundo ele, é uma "moda" que preocupa diante dos graves prejuízos à saúde dos estudantes.
O sargento Ademir da Silva Matichen, da Patrulha Escolar, afirma que a PM orienta às escolas a recolher os cigarros eletrônicos e depois entregá-los aos pais. O uso não é ato infracional, embora, explica o sargento, a venda do produto para menores ou entre os adolescentes caracterize crime.
O artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) proíbe "Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica".
"Caso seja identificada a pessoa que vendeu ou forneceu substância química que cause dependência física ou psíquica, é feito um boletim de ocorrência e feito o seu encaminhamento à delegacia que tomará as providências cabíveis, chamando o autor para prestar e esclarecimentos e responder pelo ato", explica Matichen.
ANVISA
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está com um processo aberto analisando o consumo de cigarros eletrônicos no Brasil, com o objetivo de discutir a liberação ou não. Na fase atual, o órgão vai receber evidências técnicas e científicas sobre esses produtos, também conhecidos como Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEF).
O objetivo da agência é reunir informações a favor e contra o uso do cigarro com fundamentação científica, fornecidas por pesquisadores e instituições, para embasar decisões futuras envolvendo a comercialização e o uso desses produtos.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) já se posicionou veementemente contra a liberação dos cigarros eletrônicos. Para a entidade, eles são uma ameaça à saúde pública. O médico pneumologista Paulo Corrêa, coordenador da Comissão de Tabagismo da SBPT, explicou que existe uma falsa crença entre os usuários de que a fumaça não faria mal à saúde, porque seria apenas vapor d'água.
O médico da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia também alertou que os cigarros eletrônicos têm um grande apelo entre os jovens, aumentando o índice de novos fumantes no país. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também se posicionou contra a liberação dos cigarros eletrônicos, e está promovendo um abaixo-assinado sobre o tema.
Atualmente, a resolução em vigor da Avisa proíbe a importação, comercialização e a veiculação de propaganda desses produtos em todo o país. A coleta de informações da agência sobre os dispositivos eletrônicos para fumar vai até o dia 11 de maio. A tendência é que a proibição seja mantida.
Por Fernando Klein
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