Quem passa pela Rua Quinze de Novembro, na Vila Regina, em Apucarana (PR), se depara com um cenário bem peculiar. Ao lado da passarela sobre a linha férrea, uma "Casa Ônibus" chama atenção dos motoristas e pedestres.
É um Mercedes Benz da década de 1970, que foi adaptado para moradia pelo autônomo José Joaquim dos Santos Neto, 54 anos, e a esposa, Rosimeire Aparecida dos Santos , 51 anos. Eles vivem há quase três anos no local. Veja reportagem em vídeo abaixo
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“Eu nasci e cresci aqui na Vila Regina, mas durante a juventude fui embora para o Estado de São Paulo. Meu sonho sempre foi voltar a viver nesse bairro, que para mim é o melhor de Apucarana”, conta o autônomo.
A história de José e Rosi começou há quase 30 anos, em Barretos (SP). No entanto, foi quando o casal teve o filho Jhonathan que a vida dos dois ganhou um novo sentido.
De acordo com eles, Jhonathan nasceu saudável e era uma criança aparentemente normal, até o dia em que deu entrada em um hospital com um quadro de febre e vômito. Três meses depois, ele recebeu alta com uma deficiência grave.
“Nosso filho entrou andando e conversando no hospital. A princípio estava com febre alta e muito vômito. Durante o internamento, foram surgindo inúmeras complicações que até hoje não entendemos, mas no fim, o Jhonathan voltou para casa totalmente deficiente, sem qualquer movimento dos membros, e fazendo uso de sonda”, lembra Rosi.
A nova realidade do filho mudaria a vida da família para sempre. “Desde então, nossa vida se voltou aos cuidados com o Jhonathan, pois como ele não tinha mais os movimentos do corpo, precisava de cuidados 24 horas por dia. Portanto, paramos todos os compromissos que tínhamos em nossas vidas para focar na vida do nosso filho”, conta a mãe.
As dificuldades, no entanto, jamais fizeram com que o casal desanimasse da vida. “Quando lembro tudo o que passamos, só posso dizer que sinto muita saudade. Pois Deus nos concedeu um grande privilégio ao sermos pais do Jhonathan”, afirma José.
Jhonathan José dos Santos morreu em 2019, aos 21 anos de idade, em decorrência de uma insuficiência respiratória. Ao longo de duas décadas de vida, ele se tornou muito conhecido na cidade de Barretos.
“A cidade toda conheceu a história dele e as pessoas nos ajudaram muito nessa missão. O Jhonathan foi muito amado por todos”, lembra o pai.
A história da família foi tão marcante que, no bairro Jardim Anastácio, uma das vias principais da localidade, foi batizada em homenagem a Jhonathan: a Avenida Jhonathan José da Silva.
VIVENDO DE SONHOS
Após viver o luto da perda do filho, o casal decidiu se voltar aos sonhos e planos a serem colocados em prática, já que o convívio com o filho lhes ensinara tantas lições sobre a vida.
Entre tantos anseios, um em especial fez com que eles fizessem as malas e se mudassem para o Paraná. Nascido na Vila Regina, o seu José sempre quis voltar para a terra natal e morar novamente no bairro.
“Eu amo a Vila Regina. Nasci e cresci aqui e hoje realizo o sonho de estar aqui morando nesse lugar abençoado e com uma visão privilegiada”, afirma José, ao apontar para o horizonte através da janela.
Quando vieram para Apucarana, nos primeiros meses, o casal alugou uma casa para morar. Mas, por conta das dificuldades financeiras, logo passou a buscar uma alternativa mais viável para realizar o sonho de viver na Vila Regina.
Foi nesse ensejo que o autônomo - que trabalha com fretes - aproveitou para convencer a esposa de viver a realização de outro sonho: morar em uma casa adaptada sobre rodas.
Para isso, o casal juntou as economias que ainda possuía e foi até o município de Rosário do Ivaí onde comprou um ônibus. “Soube que um amigo estava vendendo um ônibus e achei que o preço estava bom. Fomos lá e trouxemos o veículo”.
José já tinha o local exato onde queria morar: ao lado da passarela da Vila Regina, junto à antiga estação ferroviária, na Rua Quinze de Novembro. Ele diz ter uma autorização para ficar no terreno com a sua "Casa Ônibus".
“Eu sou muito feliz por morar aqui nesse lugar, porque eu tenho uma vista privilegiada do pôr-do-sol”, salienta. O casal tem mais quatro filhos, que ficaram em Barretos.
PARA ALGUNS É SONHO, PARA OUTROS É LOUCURA
O casal, que é evangélico e bastante religioso, relata que no início muita gente não entendeu porque um casal optou por morar dentro de um ônibus.
“A família, os amigos, muita gente falou que estávamos ficando loucos, que era um absurdo morar dentro de um ônibus. Mas a gente nunca ligou para isso”, afirma José.
Já Rosi relata que, no início, resistiu à ideia, mas que quando se decidiu também foi chamada de louca.
“A família não entendeu muito bem no início. Realmente, pensaram que enlouquecemos, mas agora sabem que estamos felizes e é isso o que importa”, conta a mulher.
José relata, no entanto, que hoje em dia a família, os amigos e os irmãos de igreja já se acostumaram com a ideia.
"Hoje em dia ninguém fala mais que a gente é louco. Tem gente até que fala que quer fazer a mesma coisa: morar dentro de um ônibus e realizar os velhos sonhos", diz.
"NÃO SONHE SUA VIDA, VIVA SEUS SONHOS"
No local onde a casa ônibus foi instalada, José também realiza outros sonhos. O mais recente é o de cultivar seu próprio alimento.
O entorno da casa ônibus possui um jardim, gramado e diversos ornamentos que ainda estão sendo implementados. Chama a atenção a horta do casal, que possui almeirão, couve, brócolis, cheiro verde, girassol e até mesmo arroz.
"Eu sempre quis poder plantar meu próprio alimento e aqui estou realizando esse sonho. A gente planta pra se alimentar, mas também doamos para nossos vizinhos e amigos", relata,
A plantação de arroz é a mais recente e atualmente é o xodó do seu José.
"Olha que riqueza isso aqui, eu plantei meu próprio arroz aqui na terra vermelha do Norte do Paraná. Mais um sonho realizado", orgulha-se.
O casal não tem planos de ir embora, nem de estacionar o motor home em outro local. E quanto às pessoas que os chamam de loucos, José é enfático.
"Deus é bom o tempo todo. Se isso aqui é ser louco, quero ser louco pro resto da minha vida. Pois eu sou muito grato a Deus por me permitir a dádiva da vida e realizar os sonhos mais incríveis", finaliza.
Por Louan Brasileiro
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