Canetas emagrecedoras viram febre, mas médica alerta: “Não são estéticas, são medicamentos sérios”
Beatriz Sant’ Anna explica como as substâncias funcionam, quem pode usar e alerta para riscos de falsificação e produtos sem controle sanitário
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As chamadas canetas emagrecedoras se tornaram sensação no Brasil e a procura cresce a cada semana. Em Apucarana e região, não é diferente. Com resultados rápidos e forte sucesso nas redes sociais, elas passaram a integrar, inclusive, diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o tratamento da obesidade.
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Mas afinal: elas funcionam? São seguras? E quais são os riscos diante da explosão de produtos ilegais? A endocrinologista Beatriz Sant’ Anna de Apucarana esclarece como as substâncias atuam, quem realmente pode usá-las e quais são os perigos do uso indiscriminado.
“Apesar do nome popular, estamos falando de medicamentos. Não gosto do termo ‘caneta emagrecedora’, porque soa como algo estético — e não é. São remédios sérios para tratar obesidade, diabetes e outras doenças metabólicas”, afirma.
Como elas agem no organismo
Segundo Santana, substâncias como semaglutida e tirzepatida pertencem ao grupo das incretinas — hormônios que atuam no intestino, pâncreas, células de gordura e até no centro da fome no cérebro. “Elas agem em mais de 14 mecanismos diferentes. Regulam saciedade, absorção intestinal, liberação de insulina e até o prazer associado à comida. É por isso que são tão potentes”, explica.
“Estamos vivendo o começo de uma nova era no tratamento da obesidade. Mais de 50 moléculas já estão em estudo.” acrescenta.
A médica reforça que os resultados são reais e cientificamente comprovados, mas o uso exige acompanhamento. “Quando bem indicadas, são excelentes. O problema é o uso sem prescrição, sem exame, sem critério. Aí sim existe risco.”
Quem realmente pode usar
As canetas não se restringem a pacientes com obesidade avançada. Pessoas com sobrepeso e risco metabólico podem se beneficiar. “Nós não esperamos mais o paciente chegar a obesidade grau 2 ou 3 para agir. Sobrepeso com risco já tem indicação. Mas paciente com peso normal, sem ganho progressivo, não precisa e não deve usar”, diz.
Sant’ Anna também rebate a ideia de que se trata de um produto estético. “Sempre haverá um apelo estético, isso é natural. Mas no consultório tratamos saúde, não vaidade. O benefício estético é secundário.”
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O alerta mais grave: produtos ilegais
Segundo a endocrinologista, o maior perigo atual está na venda de versões falsificadas ou irregularmente manipuladas. “No Brasil, é proibida a manipulação de semaglutida e tirzepatida. Qualquer produto manipulável quebra patente — e isso é crime. Além disso, não há controle sanitário. O paciente não sabe o que está tomando”, afirma.
A médica lembra que uma molécula original leva 10 a 15 anos de pesquisa antes de ser aprovada por agências regulatórias. “Quando compramos na farmácia, compramos segurança. Uma falsificação pode ter dose errada, substância desconhecida ou perda de refrigeração. Isso coloca vidas em risco.”
Ela cita um caso atendido recentemente: “Tive paciente que comprou tirzepatida falsificada pelo preço do original. A caixa parecia real, mas o lote não existia. Isso é cada vez mais comum”, relata.
Posso trazer do exterior? Pode — mas dentro das regras. “É permitido para uso próprio por até 180 dias, desde que declarado na alfândega, com receita e refrigeração correta. Caso contrário, é ilegal”, explica.
E relembra um caso extremo: “Um homem trouxe várias canetas coladas ao corpo durante o voo. A molécula perdeu estabilidade — precisa ficar refrigerada. Ele carregou a 37°C. Esse produto se torna ineficaz e perigoso.”
Efeitos colaterais esperados
Os sintomas mais comuns são leves:
• náuseas
• enjoo
• desconforto gastrointestinal
“O médico sabe manejar esses efeitos. O grande risco está nas versões ilegais com doses alteradas.”
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Como identificar uma caneta original
“As versões aprovadas pela Anvisa têm caixa, lote, bula e embalagem específicos. A farmácia séria abre a caixa na sua frente e registra o lote na receita. É muito difícil falsificar devido ao custo e à tecnologia”, afirma.
E deixa a orientação: “Compre apenas em farmácias. Não aceite aplicar em clínicas, não compre dose avulsa e nunca use sem receita.”
Com redes sociais popularizando “milagres” e transformações aceleradas, Santana faz um alerta final: “O maior perigo é a pressa. O paciente quer milagre e acaba caindo em golpes. Obesidade é doença crônica e precisa de acompanhamento sério. Corpo perfeito não pode custar sua saúde.”
E conclui: “Não existe tratamento seguro sem acompanhamento médico. Informação correta é mais importante que estética.”
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