A agressão a uma idosa de 83 anos, praticada por um morador em situação de rua no último sábado (22), reabriu o debate sobre essa população em Apucarana (PR). Familiares da vítima, com apoio de moradores e profissionais que atuam na área central da cidade, iniciaram uma mobilização para cobrar do poder público e das autoridades da área de segurança pública uma reação ao problema. Eles reclamam da violência, intimidação e também de inúmeros casos de furtos, que seriam praticados por essas pessoas.
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A situação do Centro Pop está na pauta do grupo, que defende desde a reestruturação do serviço até a transferência da unidade para outro endereço fora da área central. O assunto gera polêmica e deve ser discutido por representantes de bairros da área central, especialmente da região do Clube 28 de Janeiro, junto à Prefeitura, Câmara e Conselho Comunitário de Segurança (Conseg).
A idosa, que mora na Rua Clotário Portugal com o marido acamado, de 93 anos, teve duas fraturas na face e está muito abalada emocionalmente após ser agredida dentro de casa por um morador de rua, que invadiu a residência durante o dia. Além desse caso de violência, comerciantes reclamam de invasões de imóveis vazios e sucessivos furtos em estabelecimentos.
A veterinária Raquel Scaff, sobrinha da idosa, defende a mudança de lugar do Centro Pop. “Desde a sua instalação, aumentou muito o número de moradores de rua que tomaram conta da região central da cidade. Hoje, não temos segurança nem para ir a pé comprar pão domingo de manhã”, afirma. Raquel relata casos de intimidação e de agressão.
Ela revela também o problema da criminalidade. “Aqui na clínica já tive seis tentativas de arrombamento”, cita. Ela afirma que os moradores da área central estão se unindo para cobrar providências. Na quinta-feira (27), haverá uma reunião na Câmara. Eles também vão procurar o prefeito Junior da Femac (PSD) e o Conseg para cobrar providências.
Filha da vítima, a médica-dermatologista Cristina Sartini Pereira reforça a importância de discutir a localização do Centro Pop na Rua Clotário Portugal, perto do centro, mas acrescenta que o problema é mais grave a abrangente. Ela cobra do poder público e das autoridades de segurança ações mais concretas para enfrentar o problema. “Moradores de rua também têm o direito constitucional de ir e vir. Só não têm o direito de roubar e agredir cidadão”, afirma a médica.
Moradora da área central, Jaqueline Negretti afirma que o Centro Pop é um “acúmulo de pessoas”. Ela defende mudanças na forma de atendimento desse público, porque entende que a mudança de endereço apenas vai “transferir o problema”. “A gente está reivindicando melhorias não apenas para o nosso bairro, mas para a cidade inteira”, diz. Jaqueline diz que é preciso encaminhar essas pessoas para o mercado de trabalho.
Ela também reclama da falta de policiamento. Jaqueline cita o problema de invasão de imóveis vazios ou abandonados. “Eles estão invadindo esses locais para se drogar”, assinala. A moradora afirma que muitos moradores de rua intimidam e ameaçam quando não recebem dinheiro, promovendo agressões ou chutando portas de carro.
CASAS ABANDONADAS
Imobiliarista em Apucarana, instalado justamente na frente do Clube 28 de Janeiro, João Ceriani admite que há registros de invasões de imóveis desocupados ou colocados para alugar na região central de Apucarana. Ele afirma que é uma situação complicada e que ocorre também em outros bairros da cidade.
“O problema do aumento de andarilhos é um fato, sim. A sensação realmente é de que há um maior número de moradores de rua circulando”, assinala. Sobre as invasões de imóveis, ele observa que é uma situação complicada de se combater, mas defende uma postura de união da comunidade e do poder público para buscar uma solução conjunta. Isso envolveria melhorias nos espaços públicos e também nos próprios imóveis por seus proprietários.
Ceriani assinala que há uma mudança de perfil na região do Clube 28 de Janeiro, com a migração de imóveis residenciais para comerciais. Ele cita como exemplo a própria Rua Clotário Portugal. “A maioria das residências que existiam no local foi transformada em pontos comerciais”. Outra mudança diz respeito à escolha de muitos moradores dessas regiões da cidade por empreendimentos verticais ou condomínios fechados. “Não é uma questão envolvendo os moradores de rua, mas uma escolha por mais segurança e conforto de modo geral”, pondera.
Em relação à região do Clube 28, ele afirma que a área continua valorizada. “Sem nenhuma exceção, todos imóveis do entorno do Clube 28 de Janeiro valem o investimento, porque dão retorno”, pondera o imobiliarista.
A situação dos moradores de rua é um problema recorrente em Apucarana. No começo do ano, essa população foi relacionada à onda de furtos ocorridas no comércio. Na oportunidade, a Polícia Militar (PM) chegou a realizar uma operação de abordagens dessas pessoas na área central.
AÇÃO SOCIAL
A secretária municipal de assistência social, Jossuela Pirelli, admite que existe estudo para mudança de endereço do Centro Pop, atualmente instalado na Rua Clotário Portugal. “O tema vem sendo discutido entre a equipe da assistência social e também junto à nossa gestão, mas ainda não temos um decisão sobre esta situação”, argumenta a secretária.
Segundo ela, a prefeitura está aberta ao diálogo e à discussão com lideranças e cidadãos em geral sobre a população em situação de rua. “De acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), só em 2022 a população em situação de rua chegou a 281 mil pessoas no Brasil. Isso representa um aumento de 38% desde 2019, após a pandemia da Covid”, Lembra a secretária Jossuela Pirelli.
Ela pondera que, em relação a esse mesmo quadro apresentado em outras cidades de médio e grande porte, é necessário avaliar com calma e respeito às leis, as providências adequadas. “Existem casos de polícia, nos quais as forças de segurança podem e devem agir”, admite a secretária.
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