O novo coronavírus mostrou ser uma doença que não afeta apenas a saúde física, mas também a mental. O medo do contágio, a preocupação com os entes queridos e a apreensão diante do aumento no número de casos podem contribuir para o desenvolvimento de problemas psicológicos, como crise de ansiedade e até depressão. Segundo a médica psiquiatra Priscilla Maistro, de Apucarana, cuidar da saúde mental diante da pandemia é fundamental. Ela ressalta a importância em estabelecer uma rotina diária durante o período de isolamento, horários definidos para alimentação, para dormir, afazeres domésticos e para o trabalho em casa.
“Manter um convívio familiar em que procurem atividades prazerosas como ler um livro, assistir filmes e séries, fazer atividades com as crianças. Sabemos que é normal estar preocupado com a situação do Brasil e do mundo, mas procure não se expor demais as notícias. Separe um momento do dia para se atualizar e procure fontes seguras”, ressalta.
Para não sentir tanta solidão, ela orienta o uso de recursos tecnológicos como ligações em vídeo para se manter conectado diariamente com entes queridos. “É importante evitar a procura por notícias e dados alarmantes o tempo todo que podem aumentar os sintomas de estresse e pânico. Vamos procurar fontes seguras de informação e assim diminuir o medo e a insegurança”, orienta.
De acordo com a médica, quem já sofre de depressão ou ansiedade pode contar com ajuda de um profissional virtualmente. “O mais importante e que oriento aos meus pacientes e a toda população, não parem o seu tratamento psiquiátrico. É preciso entrar em contato com o médico psiquiatra e garantir a continuação do seu tratamento, seja para depressão, ansiedade e outras doenças mentais. Sabemos que as pessoas mais vulneráveis do ponto de vista da saúde mental, submetidas no momento por gatilhos estressores ligados a pandemia, podem ter piora de seus quadros psiquiátricos, com exacerbação de sintomas”, comenta. Profissionais da saúde que trabalham na linha de frente, e outros trabalhadores de serviços prioritários também precisam cuidar da saúde.
“Existem orientações importantes e específicas aos profissionais da saúde. Entendemos que eles estão lidando também com sintomas de esgotamento físico e mental, medo, privação de sono, distanciamento de seus familiares e estão sujeitos também a episódios de depressão e estresse. A todos esses profissionais estamos dando atenção especial. As orientações são para que mantenham uma rotina de relaxamento antes e depois do trabalho”, orienta.
Incerteza aumenta ansiedade
A técnica de enfermagem Melissa Cristiane Paduan, que trabalha no Samu, diz que a pandemia da covid-19 tornou-se um dos maiores desafios para todos que atuam na linha de frente. “Durante todos os anos que trabalho na enfermagem não me recordo de ter passado por nada semelhante. Tiveram outros surtos, mas da complexidade da covid-19 é maior”, comenta.
Ela conta que o isolamento social tem mexido com o psicológico dos profissionais da saúde, principalmente porque eles lidam diariamente com atendimentos e correm o risco de ter contato com algum paciente contaminado. “Eu não estou vendo meus pais. Só falo com eles pelo telefone. Esse isolamento para nós também é ruim. Estamos na linha de frente combatendo esse pesadelo. E ficar longe da família é muito difícil, mas é necessário. Tenho medo de ter contato com alguém contaminado com o vírus e passar para alguém”, diz.
Outra grande preocupação dos profissionais é se o sistema de saúde irá dar conta do número de pacientes, quando a pandemia atingir o pico. “Existe um grande medo de não saber se vai ser como os outros países, a pressão para que não aconteça. E se acontecer, será que estamos preparados, será que teremos estrutura? Não tem como não ter medo e não ficar ansioso. Por isso a população em geral tem que contribuir com a gente”, comenta.
De acordo com ela, devido à pandemia, a coordenação do Samu decidiu criar grupos para que os profissionais possam desabafar e se necessário, consultar com um psicólogo. “É imprescindível a gente estar com a saúde física e mental boa porque precisamos cuidar dos outros”, enfatiza.
Além dos profissionais da saúde, os policiais e profissionais de áreas essenciais também são impactados. O major Vilson Silva, do 10º Batalhão de Polícia Militar (BPM), afirma a corporação está tomando todas as precauções e suporte aos membros. “Estamos orientando e dando um bom suporte aos policiais que trabalham nas ruas. Estamos conversando muito com eles, mas ainda não é possível saber como está o lado psicológico. Até porque é uma cosa muito nova e recente. Isso vamos aprender com o passar do tempo e aprendendo a lidar com isso futuramente”, comenta.
A vendedora Maria Rita Rodrigues Pesce, 19 anos, trabalha em um mercado, que faz parte dos estabelecimentos que ofertam serviços essenciais e não foram afetados pelo decreto que determinou o fechamento do comércio por conta da pandemia do novo coronavírus. “É um momento muito complicado para todos nós e a preocupação é inevitável. Como trabalho em um mercado estou exposta a aglomerações e com isso a preocupação e o medo aumentam cada vez mais”, comenta.
Maria conta que sofre de ansiedade e, por conta da proliferação da covid-19, o seu quadro acabou piorando. “Com as preocupações com a doença e sua proliferação acabo entrando em pânico. É um momento de muita ansiedade e medo pois há muitas fake News, notícias de outros países mostrando o número de vítimas e os efeitos da doença. E por ser algo novo e por não sabermos se existe cura ou vacina o medo aumenta”, afirma.
Para conter a ansiedade e cuidar da saúde mental, ela tem acompanhamento de bum psicólogo. “Certamente, um acompanhamento profissional nesse momento é de mera importância para que não tenha vestígios do sofrimento que estamos passando em meio a essa pandemia”, assinala.
Enquanto uns entram em pânico com medo de contrair a doença, outros perdem o sono com medo de não conseguir pagar as contas. O catador de papel Tiago Lisboa, 32 anos, disse que está se virando como pode. Trabalhador autônomo, ele reclama que não tem nenhum benefício, sua única renda vem da labuta diária. “Está muito complicado, me viro como posso. A verdade é que estou tentando fazer uns troquinhos para comer. Não tem como ficar em casa, se tem que pagar aluguel, água, luz, internet. Não tem como. Só quem tem recursos melhores”, reclama.
Lisboa redobrou os cuidados com a higiene pessoas, contudo afirma não tem medo de se contaminar. “Preciso sair de casa para trabalhar, senão eu não como. Mesmo catando minha reciclagem me limpo bem, faço minha higienização correta, tenho álcool gel, evito não pegar na mão das pessoas”, comenta.
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