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O dia que a caixa d'água caiu

Junto com a Catedral Nossa Senhora de Lourdes, na Praça Rui Barbosa, a caixa d’água da Sanepar, na Rua Galdino Gluck Júnior, é um dos principais pontos de referência da área urbana de Apucarana. Com 22 metros de altura, o reservatório elevado de água com

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(Foto: Sérgio Rodrigo)
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Escrito por Da Redação
Publicado em 29.01.2018, 15:16:00 Editado em 29.01.2018, 15:31:36
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Junto com a Catedral Nossa Senhora de Lourdes, na Praça Rui Barbosa, a caixa d’água da Sanepar, na Rua Galdino Gluck Júnior, é um dos principais pontos de referência da área urbana de Apucarana. Com 22 metros de altura, o reservatório elevado de água com capacidade para 200 m³ operou por 44 anos e tem um grande valor histórico para o município. 

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O dia que a caixa d'água caiu
Foto por Reprodução

Construída em 1965, a caixa d’água foi marcada por um acidente que entrou para a história de Apucarana. No dia 5 de março daquele ano, o reservatório despencou na rua já no primeiro teste de carga e provocou uma espécie de “tsunami”, assustando moradores. 

O incidente ocorreu entre 9 e 10 horas. Décio, 88, e Maria de Santis, 80, testemunharam a queda. Eles moram desde 1960 no número 485 da Rua Galdino Gluck Júnior e contam que o acidente “parou” a cidade. “Foi um barulho muito grande. Todos saíram correndo para fora das casas. Logo após o estrondo, a água começou a descer com força pela rua. A enxurrada foi levando as cercas de balaústres (colunas de madeira) das residências”, conta dona Maria. Ela recorda que os escombros provocaram uma grande cratera no local. 
Segundo ela, a Rua Galdino Gluck Júnior não era pavimentada na época – o asfalto chegou apenas em 1968. “Aqui era um buraco e a rua tinha uma descida bem maior que hoje. Quando o ex-prefeito Valmor Giavarina trouxe o asfalto, a prefeitura ‘subiu’ a rua’”, conta seu Décio.    

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O dia que a caixa d'água caiu
Foto por Reprodução

  Décio, 88, e Maria de Santis, 80, testemunharam a queda


A caixa d’água caiu por causa de erros de execução e de cálculo de fundação. Segundo o atual gerente regional da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), Luiz Carlos Jacovassi, foram feitas fundações em bloco de fechamento e a estrutura não suportou. “Quando ocorreu o teste de carga, a estrutura cedeu, levando os 200 m³ de água que enchiam o reservatório ao chão”, explica. 

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Logo depois foi executado novo projeto com fundação em tubulão e o reservatório foi reerguido em 1966. Em 9 de novembro daquele ano, a nova caixa d’água já estava concluída, sendo operacionalizada a partir de 1967. Esse reservatório foi construído com seis pilares em vez de quatro como o primeiro que desabou.

Garoto ficou ferido, lembra ex-funcionário da Sanepar

Na época da construção da caixa d’água em Apucarana, a Sanepar ainda não existia. O abastecimento era de responsabilidade do Departamento de Água e Esgotos do Estado do Paraná (DAE). Em 1963, o governo estadual criou a Companhia de Água e Esgotos do Paraná (Agepar), rebatizada em 1964 de Sanepar, que responde pelo serviço até hoje na maioria dos municípios paranaenses. 

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O dia que a caixa d'água caiu
Foto por Reprodução

Antonio Francisco Maximiano, o Tonhão, trabalhou 35 anos na Sanepar

O reservatório elevado, que chama atenção para o seu formado de “disco-voador”, foi construído por uma empreiteira contratada pelo governo do Paraná. 

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Em 26 de outubro de 1966, no entanto, a extinta DAE repassou o acervo do sistema de água para a Prefeitura. A responsabilidade pelo serviço foi assumida pela Companhia de Desenvolvimento de Apucarana (Codap), fundada oficialmente em novembro de 1966 para essa função. 
Antonio Francisco Maximiano, o Tonhão, 74, acompanhou de perto essa transição. Ele trabalhava na Prefeitura como auxiliar de bombeiro e foi integrado à equipe da Codap. Ele reforça que a queda da caixa d’água foi causada por erros de construção. “A fundação foi muita rasa. Assim que o reservatório ficou cheio, a estrutura não resistiu”. Ele, no entanto, desmente a versão oficial de quem ninguém se machucou. “Um garoto de 12 anos foi atingido por um balaústre que foi arrastado pela água”, lembra. Segundo Tonhão, parte da antiga caixa d’água ainda está enterrada na Rua Galdino Gluck Júnior. “Na época, era tudo terra ainda. Por sorte, não tinha muito movimento. Se fosse hoje, seria uma tragédia”, comenta. 
Em 1973, a Prefeitura devolveu o acervo de água para o governo do Estado. A Sanepar assumiu então a concessão e os funcionários do setor de água da Codap foram transferidos para a companhia. Entre eles, Tonhão, que ficou na Sanepar por 35 anos.

História do saneamento no município

Com 20 quilômetros de extensão, a primeira rede de água de Apucarana foi concluída em 1958 pelo Departamento de Água e Esgotos do Estado do Paraná (DAE), que foi o órgão precursor da Sanepar no Estado. O sistema abrangia apenas a região central e já incluía galerias pluviais e também a rede de coleta de esgoto. 
Nos primeiros anos de Apucarana, o abastecimento de água era feito apenas por poços artesianos. Em 1965, quando o primeiro reservatório elevado foi construído na Rua Galdino Gluck Júnior, o município contava com cerca de 600 ligações de água. 
Em fevereiro de 1973, quando o Estado reassumiu oficialmente o serviço então a cargo da Companhia de Desenvolvimento de Apucarana (Codap), já eram 1.692 ligações. Carlos Bidoia, com apenas 21 anos de idade, foi indicado para assumir o cargo de gerente da Sanepar em Apucarana. Com apoio dos trabalhadores da Codap, todos contratados pelo governo estadual, ele conduziu o processo de ampliação do sistema de água. 
Bidoia é hoje aposentado, mas ainda presta serviços para a Sanepar de forma terceirizada na região de Maringá. Ele conta que até os anos 70 o município era abastecido exclusivamente por poços artesianos. “Nós tínhamos o Sistema Rosa, com quatro poços artesianos, que ficava próximo à chácara da família Rosa, na região do Jaboti; e o Sistema Country, com mais quatro poços na região do Country Club”, lembra. Outro poço artesiano ainda atendia exclusivamente a região do atual Núcleo Castelo Branco. Segundo ele, essa estrutura não era suficiente. “Apucarana sofria com a falta de água, é verdade. Precisávamos usar a água de minas onde fica atualmente o Parque Santo Expedito. Era um desafio grande”, lembra Bidoia, que ficou no cargo até 1988. 
Em 17 junho de 1976, a Sanepar implantou a estação da captação do Rio Caviúna, que funciona até hoje. A mudança resolveu, na época, o abastecimento de Apucarana. Com o tempo – e o crescimento da cidade -, a Sanepar precisou recorrer novamente a poços artesianos, que hoje voltaram a abastecer uma grande região da cidade. Atualmente, 45.014 ligações estão ativas, com atendimento de 100% da população com água tratada. 
Embora a rede de coleta de esgoto tenha sido concluída em 1958 na área central, a primeira estação de tratamento de esgoto – a do Jaboti – foi inaugurada apenas em 1988. Até então, apenas a coleta era feita, com o despejo em rios. Com a renovação do contrato do município com a Sanepar em 2003, a companhia ampliou nos últimos anos os investimentos em esgoto. Atualmente, 77,15% do município tem esgoto tratado, segundo último levantamento da Sanepar.

Resgaste histórico do reservatório

A caixa d’água da Rua Galdino Gluck Júnior funcionou entre 1967 e 2011. Segundo o gerente da Sanepar de Apucarana, Luiz Carlos Jacovassi, a função do reservatório elevado, que tinha capacidade de 200 m³, era somente dar pressão para que a água chegasse até os pontos mais altos e mais distantes da cidade. “O reservatório elevado central foi desativado porque a Sanepar em Apucarana modernizou os sistemas, adotando o uso de bombas operadas com inversor de frequência, que são comandadas por 33 pontos de monitoramento instantâneo instalados em pontos estratégicos do município”, explica Jacovassi.   

Segundo ele, estes pontos permitem o monitoramento remoto em tempo real de pressão e vazão, que são acompanhados em central de controle operacional instalada no prédio central. “Com o crescimento da cidade, este sistema opera de forma inteligente, com maior eficácia em todos os horários do dia, pressurizando mais a rede em situações de pico de consumo e reduzindo a pressão nos períodos de menor consumo, ou seja, a pressurização da água nas redes de distribuição é feita de acordo com a necessidade de cada período, contribuindo para a redução de perdas na rede de distribuição”, assinala. 

A Sanepar ainda mantém vários reservatórios elevados em funcionamento em outros municípios. “A situação do reservatório elevado central de Apucarana é diferenciada, visto a concepção do sistema que recebeu grande investimento em modernização”, pondera Jacovassi. 
O gerente afirma que, apesar de desativada, a Sanepar não irá demolir a caixa d’água por conta da sua importância para a memória do município. “Estamos projetando uma restauração neste elemento, que faz parte da história de Apucarana”, revela.

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