Foi na gravidez do segundo filho que a apucaranense Viviane Oliveira, 27 anos, desconfiou que algo não estava indo bem na sua saúde. Ela tinha 21 anos e notou manchas pelo corpo. “Muita mancha que surgia sem explicação. Hematomas, na verdade”, explica. Após uma bateria de exames, Viviane foi diagnosticada com lúpus, doença autoimune que afeta o sistema de defesa.
O lúpus ficou em evidência recentemente após as cantoras Selena Gomez e Lady Gaga revelaram que sofrem da doença. Gaga cancelou sua participação no Rock in Rio por conta dos efeitos da doença.
Segundo a apucaranense, conviver com a doença é uma luta diária. “Nem todos os dias existe disposição. Tem dia que tenho um extremo cansaço”, comenta a jovem, que trabalha como tosadora.
No caso de Viviane, o lúpus age na medula óssea, fazendo com que ela não produza plaquetas. Assim, o organismo não toma nenhuma medida porque ele não reconhece como doença. “Não tendo as plaquetas, não se tem a coagulação necessária no corpo. E é aí que surgem os riscos de hemorragias, sem contar nas dores nas articulações”, explica.
O tratamento de Viviane é a base de prednisolona e hidroxicloroquina. “Essa é outra questão chata para quem sofre com a doença. Os corticoides acabam muitas vezes judiando mais do que a própria doença. O remédio é um mal necessário”, destaca.
Apesar das dificuldades, ela acredita que é possível viver bem com o lúpus. “É possível desde que tenha um Deus como o meu e que a doença seja acompanhada de perto por médicos. Uma das coisas mais lindas que Deus fez na vida foi a gestação da minha caçula que veio no auge da minha doença”, comenta.
Atualmente, a apucaranense procura não passar por estresses fortes e também adota uma alimentação saudável. “O estresse é algo que percebi que piora absurdamente o meu quadro. Já alimentação, eu como algumas bobeiras, mas tento não exagerar”, destaca.
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AUTOIMUNE
O reumatologista Osmar Sigueoka, de Apucarana, explica que o lúpus é uma doença crônica autoimune, ou seja, há uma desregulação no sistema de defesa, fazendo com que os anticorpos que normalmente atacam vírus, bactérias e agentes externo, passem a atacar células próprias do organismo, por exemplo, células do rim, da pele, do pulmão. Além disso, a doença pode acometer somente a pele ou ser sistêmica
Segundo Osmar Sigueoka, o lúpus não é uma doença rara e estima-se que existam cerca de 65 mil pessoas com a doença no Brasil, sendo a maioria de mulheres. “A doença afeta mais mulheres entre 15 e 45 anos, devido a relação da doença com os hormônios femininos”, comenta.
Entre os sintomas, que segundo Osmar são muito variáveis, estão a fadiga, queda de cabelo, dores articulares, artrite, falta de ar, inchaço, manchas no corpo e feridas na boca. O diagnóstico do lúpus é feito quando há a presença de critérios clínicos e laboratoriais. “Exames isoladamente não fazem o diagnóstico de lúpus”.
A doença, de acordo com o médico não tem cura, mas pode ser controlada através de medicações que fazem uma imunossupressão. “É preciso também evitar a luz solar, já que apresentam sensibilidade aos raios ultravioletas, que, muitas vezes, geram o surgimento de novas lesões na pele e crises de atividade do lúpus”.
Sobre a gestação de mulheres com lúpus, o médico diz que o ideal é que seja uma gravidez planejada para um momento em que a doença se encontre controlada, pois a gestação aguça a doença. “Existe um fator genético implicado, o que aumenta a chance de os filhos terem a doença. A gestante pode ter um filho com lúpus neonatal dependendo dos anticorpos presentes em seu organismo”.
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