A decisão do juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, titular da 14ª Vara da Justiça Federal de Brasília (DF), divulgada na segunda-feira (18) causou polêmica ao permitir que psicólogos possam tratar a homossexualidade sem sofrer qualquer advertência do Conselho Federal de Psicologia (CFP). A deliberação, que tem caráter liminar, altera a Resolução 01/1999, que estabelece normas de atuação em relação à orientação sexual. A medida reacendeu o debate sobre a “cura gay”, provocando inúmeros discussões sobre o assunto. Vista como um retrocesso por uma parcela importante da comunidade científica, entretanto, a decisão encontra apoio em profissionais que defendem a possibilidade da reversão sexual. Um exemplo é o psicanalista sistêmico Celso Scheffer, de Apucarana, norte do Paraná. “A reversão sexual é possível através Abordagem Sistêmica das Memórias Inconscientes (ASMI) ”, argumenta o profissional que afirma ter ‘revertido’ mais de 200 casos de homossexualidade.
O método ASMI foi desenvolvido por Scheffer ao longo de décadas à frente do Instituto de Pesquisas e Tratamentos Humanísticos (IPTH). “Com essa terapia, nós conseguimos, durante regressão, abrir a frequência da pessoa e acertar a polaridade sexual, que geralmente está invertida nesses casos”, sublinha.
Isso ocorreria, segundo o psicanalista, durante o processo de transmigração da alma. “Pessoas homossexuais, geralmente, tiveram um período muito curto entre uma reencarnação e outra. Quando isso ocorre, a polaridade fica invertida”, explica.
Ainda de acordo com Scheffer, é considerado um período curto, entre uma reencarnação e outra, 50 anos. Além disso, existem os “gatilhos”. “Além da pessoa já ter essa predisposição, quando a mãe deseja muito um menino, mas nasce uma menina, acaba ativando esse “gatilho”, diz.
Além disso, o psicanalista diz que os pais não deveriam aceitar a homossexualidade dos filhos como algo normal, porém isso não quer dizer rejeição nem tratar mal ou ter qualquer tipo de preconceito. “Quando os pais não acreditam que é normal, essa mensagem vai para o inconsciente e a inversão ocorre de maneira mais fácil”, garante.
Scheffer calcula que, durante os mais de 30 anos de consultório, já ajudou mais de 200 pessoas a se reencontrarem. “Normalmente, as pessoas procuram ajuda por outros motivos, como depressão, mas, ao longo do tratamento, como é feita a ressignificação de polaridade, deixam de ser homossexuais”, frisa.
Apesar de defender a reversão sexual, o psicanalista não entende a homossexualidade como doença. “A homossexualidade não é doença, mas sim uma disfunção energética, que tem todas as possibilidades de ser corrigidas com terapia”, ressalta.
RETROCESSO
No entanto, outros profissionais contestam a possibilidade de "cura gay". Para a psicóloga Juliana Marques Garcia Ferreira, de Arapongas, a decisão do magistrado significa um retrocesso. “O juiz manteve a integralidade da resolução, mas disse que CFP não pode impedir psicólogos de promoverem atendimento profissional, pertinente à reorientação sexual. Desse modo, acaba abrindo espaço para terapias de reversão e fortalece mais ainda a patologização das identidades LGBT e disseminação o preconceito”, entende.
De acordo com a profissional, o homossexual que busca na psicologia algum tipo de ajuda não tem o objetivo de “tratar” a sua orientação. “Eles nos procuram por conta da desvalorização social e moral, que é o preconceito que vivem, de exclusão, de tentar se enquadrar em um padrão que é dito como correto. Esse é o sofrimento do homossexual quando vai buscar ajuda clínica”, diz.
Na avaliação da psicóloga, estudos apontam ainda que as terapias de reversão sexual não trazem nenhum tipo de resolução para a homossexualidade. Ao contrário: “provocam sequelas e agravos no sofrimento psíquico”.
Juliana frisa ainda que esse tipo de tratamento é, inclusive, proibido por meio da resolução 001/1999 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e também vai em direção oposta ao posicionamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), que desde 1990 deixou de considerar a homossexualidade como doença.
"AFRONTA"
Para o jornalista Bruno de Almeida, de 31 anos, de Londrina, a decisão do juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, é uma afronta a todos os direitos conquistados pela comunidade Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT). Integrante da classe, ele defende que “não existe tratamento para quem não está doente”.
“Vejo com muita preocupação o avanço desta onda de retrocessos que estamos enfrentando. O Brasil é o país que mais mata homossexuais em todo o mundo. A luta de todos nós para que a homofobia seja criminalizada é justamente para evitar que decisões absurdas como esta, que afetam diretamente a vida e a segurança social de uma grande parcela da população, reforcem ainda mais o estigma de que ser gay é uma doença”, declara.
Ainda de acordo com Almeida, a determinação é mais um embate em meio a todos que já são enfrentados diariamente. “O preconceito é fruto da intolerância e da falta de informação, os quais somos alvos frequentemente, por isso, a decisão deste juiz é um desserviço à justiça e ao bem-estar de toda a população, independentemente de sua orientação sexual”, conclui.
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